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Artigos-->Os Recortes de Matisse -- 20/09/2002 - 07:15 (Paula Valéria) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os Recortes de Matisse



O célebre pintor francês Henri Matisse, convidado por Tériade, editor da revista Verve, para fazer a capa da primeira edição em 1937, usou recortes de amostras tipográficas e escreveu de próprio punho, com pincel e nanquim, as letras do logotipo. Assim nasceu sua primeira obra recortada.



Mais tarde, em 1938, para resolver o problema de composição do espetáculo A Dança de Dr. Barnes e sua gigantesca obra cenográfica, Matisse, qual encenador, teve a idéia de utilizar recortes de papéis coloridos, podendo assim, mudá-los sempre de lugar até ajustá-los encontrando a posição ideal. Por um erro nas dimensões que lhe foram fornecidas, Matisse teve de fazer uma segunda versão (para a felicidade do Musée d Art Moderne de Paris, que atualmente tem em seu acervo a primeira versão).



É a reconciliação do realismo e da abstração, ao fim de uma longa evolução proveniente de sua própria lógica e trajetória. Matisse escreveu, sem qualquer pudor em relação a alguns defensores da arte abstrata: "O papel recortado permite-me desenhar diretamente na cor. Trata-se para mim de uma simplificação. Em vez de desenhar o contorno e de colocar aí a cor, desenho diretamente na cor, que já tem medidas tão precisas, que não necessita de ser transposta... não é um ponto de partida, mas sim um resultado."



Por volta de 1943, já doente e numa cadeira de rodas, por vezes acamado, Matisse manifesta alguma dificuldade em manipular pincéis. Volta a recorrer aos papéis, que sendo previamente pintados (seus guaches) são recortados de acordo com desejo de composição. Este novo processo dá asas e cria a liberdade de obter outra mobilidade para compor a sua obra com prazer.



De passagem por Cimiez, e mais tarde residindo em Vence, na villa O Sonho, no sul da França, Matisse aderiu definitivamente aos recortes, depois de já ter feito tudo na pintura. Começou então o extraordinário álbum Jazz (publicado em 1947), com "improvisos cromáticos e cadenciados". São contos populares, circos, viagens, acordes como os de Louis Amstrong ou Charlie Parker, imagens vivas e violentas em seus contrastes. Trabalha o papel, o recorte, a cor forte. Seu processo é totalmente novo. Sem precedentes. Sem categorias. Nem cubista (Picasso), nem abstracionista (Kandinsky), nem dadaísta (Arp). É novo. Inspirado em Ingres e Delacroix, e também Van Gogh e Gauguin, artistas que segundo o próprio Matisse trabalham a cor e os arabescos, apodera-se da frase de Braque ao dizer: "A forma e a cor não se confundem, há uma simultâneidade".



O quadro A Tristeza do Rei, de 1952, foi o último grande esforço pictórico de Matisse, executado através do recorte e da colagem de guaches. É a última saudação do artista ao mundo que o rodeou por tanto tempo e a despedida aos seus temas queridos. Podemos vê-lo representado pelo rei, vestido de negro com a viola na mão.



O próprio Matisse definiu: "Recortar literalmente as cores, lembra-me a talha direta das esculturas... as minhas curvas não são loucas." Com a ajuda de tesouras e papéis coloridos com tintas exatas que ele próprio preparava, resolveu de uma tacada só os problemas da forma e do espaço, do contorno e da cor, da estrutura e da orquestração de seus trabalhos que passaram a somar uma produção fértil e incrível para quem já se considerava "encostado" das artes. Sempre é possível redimensionar o que somos, e Matisse é um exemplo resistente e talentoso dessa postura. Na cadeira de rodas ou na cama, realizou painéis, vitrais, mosaicos, cenários de ballets, cartazes, quadros, ilustrações e retratos até o seu falecimento em 03 de Novembro de 1954, na cidade de Nice.



Sua última palavra, num texto escrito aos 83 anos: "Sobreviver nas minhas obras, era o que desejava... Nunca penso nisso, pois tendo lançado o melhor que pude a minha bola, não posso assegurar que ela caia em terra ou mar, ou até no precipício de onde nada regressa."



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Periquito



"Um par de tesouras é um instrumento maravilhoso... Trabalhar com tesouras neste papel é para mim uma ocupação em que sou capaz de me perder... O prazer que sinto em recortar aumenta continuamente. Por que é que não me lembrei disto mais cedo? Sinto cada vez mais que se pode exprimir através do recorte mais simples aquilo que se poderá desejar exprimir enquanto desenhador ou pintor... É ao entrar no objeto que entramos na sua própria pele. Tinha que fazer este periquito com papel colorido. Pois bem! Tornei-me um periquito e encontrei-me na obra." -



Henri Matisse







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