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Artigos-->Arthur Bispo do Rosário - Artes Plasticas -- 20/09/2002 - 07:18 (Paula Valéria) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Arthur Bispo do Rosário



Arthur Bispo do Rosário nasceu em 16 de Março de 1911, na cidade de Japaratuba, interior do Estado de Sergipe. Seus pais, também sergipanos, trazem o patronímico dos negros escravos que receberam apelativos religiosos da congregação que os reunia, neste caso, a do Rosário.



Arthur viveu muito a vida antes de ingressar na Colônia Juliano Moreira - um hospital para doentes mentais. Foi marinheiro, viajou muito, viu muitas cores, formas, seqüências, classificações e ordenações de fatos e coisas referentes ao seu universo normativo e cumulativo, mais tarde refletido em seu trabalho plástico - conceitual, criado à beira de sua loucura. Também foi porteiro, guarda-costas e pugilista, tendo chegado a campeão latino-americano da categoria peso-leve.



Nos anos 60, já na Colônia, Bispo começa a expressar-se desmanchando os uniformes (uni-formes, uma só forma de enquadrar os diferentes) dos internos e isolando os fios azuis - nostalgia do azul do mar de um marinheiro náufrago - e bordá-los em seguida nos lençóis para fazer deles os seus estandartes, princípio sinalizador de suas ocupações em instalações que trafegam entre os limites do espaço físico e do imaginário de seu espaço psicológico. Os estandartes são uma escolha significativa, alegóricos elementos remanescentes de uma cultura do carnaval, das procissões e das manifestações de entrega total ao mito da divindade.



As enumerações, classificações, qualificações e quantificações, conotam o gesto cartorial do elemento repetitivo como fixação e sucessão homogênea de muitos "eus bipartidos": pela articulação de peças diferentes no uso ou analógicas, às vezes mero depósito, as vezes mero ensaio-e-erro na composição. Seu mundo é de feiras livres e sobras: latas, garrafas, plásticos de embalagens-lixo, barro, tecidos e restos.



Materiais estridentes em suas cores e texturas, interagindo no espaço com o uso de uma dobradura, um bordado, um entrelaçamento, uma forma disforme de transformar a proposta. Condensação de carnavais, garrafas de plástico cheias de confetes aderem a marchas que perderam os acentos marciais e animam bailes públicos. Seu movimento é o "fluxus sem nexus". A simples emanação do fluir.



Bispo traz à tona uma polêmica discussão sobre a arte brasileira. A análise de sua produção traz o que sempre esteve ausente do circuito artístico brasileiro: a arte sem nenhuma condescendência do povo, distante do artesanato e rigorosamente afim do circuito restrito dos criadores. Bispo é dos que nunca vão à museus, galerias, bienais, semelhante à maioria da população do país. Seu trabalho tem o mesmo instinto paleolítico da caverna de Chauvet. Mas acima de tudo é despretencioso, ricamente detalhado, belo e alegre nas composições e precursor das instalações aqui no Brasil. Seu trabalho nada tem a ver com artbrut. Ele sai do suporte convencional e procura criar o espaço, a procura de material para fazer a obra, no que chamamos hoje de instalações. Sapatos, congas, havaianas, sandálias de borracha, chinelos, classificados em fileiras, denotam a acumulação, confessam o poder aquisitivo mínimo, classificam por números grupos e castas causando no contemporâneo o mesmo impacto dos sapatos camponeses de Van Gogh e sendo o precursor deste foco para os artistas da nova geração que abordam o tema, como Hélio Melo (exposição no ArteCidade 1997, nas ruínas Matarazzo).



Seu processo artístico acaba por ter uma verossimilhança em formas freqüentemente assimiladas à busca de Marcel Duchamp. O mais curioso é a não-formação da educação formal do artista, a cultura espontânea inerente, expressa, escorrendo pelos vãos das mãos "fazedoiras". A grande questão polêmica é o ser ou não ser artista, que pensa o seu processo de imprimir e se colocar, se questiona criticamente no foco do que vem a ser o seu trabalho e a repercursão disto.



Bispo simplesmente faz. Seu resultado é belo. Sua estética é um puzzle de fragmentos poéticos do cotidiano banalizado. Sua intenção é divina. Bispo é divino, apesar de humano. Morreu em 1989, aos 78 anos, de infarto do miocárdio e arterioesclerose na enfermaria da Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro.



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Os doentes mentais são como os beija-flores. Nunca pousam. Estão sempre a dois metros do chão.



(Bispo do Rosário)



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Sua mandala tropical distancia-se do padrão Dunlop que tanto impressiona Marcel Duchamp, na época em que arte moderna confudiu-se com revolução industrial. Bispo aglutina nomes, nomes de coisas e pessoas, e os borda em faixas, mantos, estandartes, lençóis, enfim, uma espécie de comunicação pré-verbal antepredicativa que o faz tecer uma tapeçaria cartográfica do seu universo poético e os faz ressoar picturalmente. O objeto e a palavra amalgamados na tessitura da forma.



P.V.
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