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Contos-->A CANETA -- 02/09/2005 - 13:01 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CANETA


Fernando Zocca


"Nada se perde, nada se cria. Tudo se transforma. Inclusive os cachaceiros" (Frase atribuída ao Van Grogue após ter recebido uma chapuletada no alto do cocuruto, que o deixou tonto, e não reagiu com a mesma intensidade e força, usada pelo agressor, durante mais um bafafá na casa da mãe Joana).

Capítulo I

Van Grogue não era novela mas tinha grande acompanhamento. Ele era mais rastreado que aqueles caminhões carregados com cargas imensas de televisores de tela plana, DVDs e computadores.
Naquela manhã de quinta-feira, seu amigo Astênico Garcinha, irmão do Tung, da dupla sertaneja Tung & Stênio, cauteloso, aproximou-se do Van. Este estava combalido pelos sopapos violentos recebidos na quizumba, havida na tarde da quarta-feira, lá na casa da mãe Joana. Tung disse-lhe: "Pare logo com essa pinga, se não, você não terá mais saúde para continuar lutando por seu espaço".
Van fingiu não ouvir o aconselhamento do colega e para não manda-lo catar coquinhos, olhou para o alto, soltando um assovio de cotovia.
Ambos estavam defronte ao boteco da tia Cris. Aguardavam a proprietária abrir o estabelecimento; eram 6h30 da manhã. Por terem tanta precisão da januária, deveriam suportar-se, um ao outro, sem mais atritos, até pelo menos, depois das cinco primeiras doses.

Capítulo II

As 10 dentadas

O roxo na fronte esquerda do Grogue indicava lesão por objeto contundente. Na verdade Grogue sofrera uma garrafada que o derrubou desacordado ao solo. Amigos consideraram, depois do esfriamento dos ânimos aquecidos pelo auê, que se o recipiente estivesse cheio, os danos seriam maiores.
Ora, por estar vencido, caído ao chão, completamente aturdido pelo choque, soaram dissonantes as 10 dentadas, que Alice a gordinha suada lhe dera, na batata da perna.
Testemunhas afirmaram que a pançuda, antes de arremeter contra o Van, emitiu um horripilante ganido estridente.
A fofinha barriguda, baleia jovem, sofria a suspeita de ser down; ela era a irmã mais nova da Cris. Aqueles olhos de peixe morto não mentiam.


Capítulo III

3 w

Todos os participantes do rolo foram unânimes ao afirmar ter a Alice bunduda exagerado com a energia aplicada na contenção das aleivosias do Van desnorteado.
Alguns atribuíam aquele exagero no agir da janota, ao que ela aprendera durante uma fase nebulosa da sua vida. Quem conhecia a dengosa, sabia ser seu passado construído por lutas incansáveis e prazerosas contra os bons costumes.
De fato, para manter o padrão elevado de vida, que tivera no início da adolescência, Alice precisara aprender a agradar aos homens de negócios recém-chegados à Tupinambica das Linhas.
Semelhante às demais colegas, na mesma situação, a Alice fofa, sujeitava-se pelos menos a 2 encontros amorosos por noite, ao preço de R$ 100 a hora. Ela trabalhava de segunda-feira a sábado na casa noturna mais badalada da cidade.
Com o dinheiro que ganhava, a bundão comprava todos os seus luxos. Atualmente ela deixara aquele estilo de vida por pretender casar-se.
Uma dúvida clamava por resposta:
Quantas pessoas ingênuas Alice ainda tentaria convencer sobre as culpas do Grogue? Uma das estratégias dessa rancorosa era envenenar a vizinhança, difundindo boatos sobre ele. Outra era espalhar, nos locais por ele freqüentados, ser ele um pedófilo.
Quantas injustiças e maldades sem provas! Quanta perseguição e rancor baseados nas patranhas, inverdades, e lorotas.


Capítulo IV

O Maquinista estuprador


Marlina Cristina Grogue, sentou-se no banco velho da praça mal cuidada de Tupinambica das Linhas. A cidade passava por momentos difíceis. O PI (partido imaturo) que elevara seu candidato ao cargo de prefeito, buscava agora fórmulas para livrar-se dele.
Jarbas, o caquético testudo, quando atingiu o poder mandou seus correligionários plantar batatas. A perfídia desolou a todos e o resultado dessa traição consubstanciou-se nos serviços públicos, tornados deficientes.
Na época do carnaval, era comum na cidade, a distribuição dos carnês do IPTU. Mas a bagunça começara já na impressão dos caderninhos. Ninguém se entendia; a dissensão iniciara, naquele ano, com os valores a serem cobrados.
As confusões, idiotices e as más-fés dos políticos, contagiavam algumas pessoas mais sensíveis, alheias aos assuntos da Prefeitura. E Marlina Cristina Grogue era uma dessas infelizes. Deprimida, ela sentou-se, naquele princípio de noite, no banco da praça tencionando espairecer.
Foi quando então as lembranças da sua infância, assim como que num programa vespertino, iniciaram um processo de vale a pena ver de novo, ressurgindo-lhe à consciência.
Ela era ainda criança quando seus pais mudaram-se para um casarão velho, numa esquina ruim da cidade. A intenção de seu pai era residir perto do local de trabalho.
O velhote baixo, pançudo, tabagista e alcoólatra, objetivava ao escolher a casa grande, cumprir a lei do mínimo esforço. Ele caminharia pouco até a estação da RFFTL (Rede Federal de Ferrovias de Tupinambica das Linhas), onde era maquinista.
Marlina viu ao longe um casal discutindo defronte ao sorveteiro. Imediatamente as imagens infantis dos pais briguentos reapareceram-lhe.
Quando Mário Tonel, seu pai embebedava-se, as discussões eram corriqueiras e quem sofria com isso eram as filhas.
Marlina desconhecia as causas de tanta confusão e apoucamento.
Dona Emília (dona Emilinha para os mais chegados), depois de perceber que não receberia mais nada, além de sopapos e pancadas, daquele maquinista dos infernos, resolveu fazer uma greve inusitada de sexo.
Foi ai que, meus amigos, a coisa pegou mesmo. Vejam: Mário Tonel chegava cansado das viagens, querendo carinho, afago. Mas dona Emilinha, ressentida com as sovas anteriores, negava-se aos contatos carnais.
O velhote partia então para o bar, onde contava sua história pra todo mundo. Os mais sensatos, aqueles da turma do deixa disso, aconselhavam-no a sair um pouco, passear, distrair-se.
De vez em quando o panaca dignava-se a tecer uma tarrafa e pescar alguns peixes contaminados nas barrancas emporcalhadas do rio embosteado.
Alguns palpiteiros chegaram a pensar em ser a falta de espaço a verdadeira causa de tanta judiação e, convenceram o casal briguento a reformar a casa.
A dupla então, coletando um dinheirinho dum cunhado ali, outro tantinho com outro mano acolá, reuniram o suficiente para construir outro quarto. Nesse aposento as filhas mais novas, inclusive a Marlina, restaurariam suas forças, depois das horas difíceis na escola primária.

Capítulo V

No curso das obras, numa noite em que dona Emilinha e as demais filhas saíram para papear com a comadre, Mário Tonel, completamente tomado pela pinga, e enlouquecido pelo tesão, estuprou Marlina Cristina debaixo duma escada tosca deixada na obra pelo servente descuidado.
O velho pançudo, saciado, e diante da filha atoleimada, prometeu, que se ela não contasse nada pra mãe, voltaria a viver em paz sem bater em mais ninguém.
A menina, em estado de choque, ouviu o pai dizer que se alguém desconfiasse de alguma coisa relacionada com a violência sexual, ela deveria culpar o Edbar B.I. Túrico, o pinguço notório que não saia dos bares da redondeza.
Marlina, a fim de evitar novos acessos de fúria do pai comedor, assentiu.

Capítulo VI

Os anos foram passando e Dona Emilinha, pesarosa com o amadurecimento da filha, instigava-a todos os dias a conhecer alguém que a tomasse como esposa.
Mas durante uma conversa ao pé do ouvido, numa noite enluarada e melancólica, Marlina confessou à mãe já não ser mais virgem.
"Mas como Marlina? Quem fez isso contigo, minha filha?" Quis saber a mãe estupefata.
Marlina lembrou-se da conversa tida com o pai estuprador e respondeu com muita segurança: "Foi o Edbar! Foi o Edbar, mamãe."
Dona Emilinha arregalou os olhos: "Quem? Mas quem é esse Edbar?" A mãe exigia uma explicação.
Marlina lembrou-se, mal-e-mal, que devia dizer ser um pinguço freqüentador dos botecos da redondeza, o autor do desvirginamento. Mandou ver: "Ele não saia do bar. Era colega do papai."

Capítulo VII

Dona Emilinha convocou imediatamente o marido dizendo-lhe: "Mário, você sabia, que sua filha Marlina já não é mais virgem?"
O pai dissimulador mostrou espanto e tal qual a políticos cínicos, fingiu constrangimento. Ele disse: "Eu conheço o safado! Ele vive por aí na região. Mas por que você não contou nada pra gente Marlina?"
A filha abaixou a cabeça e enrubesceu.
Nos meses subseqüentes, Mário Tonel, ao beber num bar, conheceu uma mulata supimpa. Conversando ele confessou-lhe que sua filha havia sido estuprada e que ele como pai sentia-se o pior homem do mundo.
A mulher condoeu-se e se dispôs a consola-lo. Mário passou a morar com ela. Por influência dela também, ele colocou o nome do pobre pinguço na macumba dum terreiro que ela freqüentava.
Nos 25 anos ulteriores o ébrio infeliz foi perseguido sem saber jamais que lhe pesava nas costas uma acusação de estupro. Ele sofreu 10 internações psiquiátricas, uma tentativa de homicídio numa estrada deserta, e seus projetos jamais se realizaram.

Capítulo VIII

Marlina acendeu seu derradeiro cigarro naquela praça erma. Levantou-se e pôs-se a caminhar. Era tempo de carnaval; terça-feira gorda. Ela deveria recolher-se logo. As pessoas nessa época do ano bebiam muito e não convinha, pra uma donzela faceira, permanecer assim, sem companhia nas ruas, até altas horas.



Capítulo IX

Genésio, aquele vagabundo

Em Tupinambica das Linhas, existia um médico que confundia rinite com inflamação nos rins. Quando menino, viera da periferia da cidade, e por causa da idéia de que era um coitado, lhe facilitaram, por meio de fraudes no vestibular, seu ingresso na faculdade de medicina.
Quando seus pais se estabeleceram no coração da urbe, envolveram-se com o jogo do bicho. Assim, toda malignidade inerente à contravenção apossou-se da família. O adultério, as mentiras, homicídio, loucura e corrupção entranharam-se de forma tão arraigada no grupamento familiar que se tornou impossível ao doutor, desempenhar sua profissão, sem que lhe evocassem aquela faceta suja do seu passado.
Quando Jarbas candidatou-se a prefeito, Genésio - considerado na época um vagabundo, pela família - mostrou ao pretendente que se combatesse o estelionato nas leituras de consumo, dos medidores de água do município, atrairia uma multidão de vítimas sedentas de justiça.
Genésio informava, ao caquético-testudo, sobre a existência de um grupo de funcionários, do serviço municipal de águas, para o qual os critérios de apuração do consumo d água, não eram os numerais dos medidores, mas sim o comportamento dos consumidores. Se suas opiniões políticas divergissem da dos governantes, pagavam mais, devido às anotações superestimadas, aplicadas como retaliação.
Esse projeto de sangria era estendido, aos departamentos de energia elétrica e aos de serviços telefônicos.
Ora, a população espoliada, em não sabendo como se livrar de tanta sanha criminosa, criou logo uma simpatia consistente em colocar garrafas pet cheias d água acima dos relógios medidores do gasto de energia elétrica.
Assim, quem visitasse os bairros pobres da cidade, e observando aquele tipo de conduta, em não sabendo das roubalheiras existentes, e tentativas de defesa, por certo atribuiriam tais esquisitices, à má fama do lugar.
Com essas e outras bandeiras, o meu nobre leitor já sabe, foi o Jarbas eleito prefeito dos Tupinambiquences.
Genésio até que ia bem no seu consultório. Ocorre que numa ocasião, ao atender um rapaz de 17 anos, notou estar ele queixando-se em demasia, das dores sentidas no braço fraturado. Por ser do tipo machão, Genésio achou estar o paciente fazendo fita. E qual não foi a surpresa da mãe do enfermo, ao ver o doutor aplicar tapas no rosto do seu filho?
Longe de considerar o espancamento uma nova forma de anestesia, a mulher indignada, saiu imediatamente do local, indo queixar-se ao delegado de polícia.
Formou-se um comitê de ética médica. Esse porém não impediu a população de estabelecer seu juízo a respeito do Genésio, tornado médico por força da corrupção, patrocinada pelos contraventores do jogo do bicho.


CApítulo X

O Piper viu ?

Rildo Piper o traveco dos trambiques, componente da seita maligna-do-pavão-louco, fora dispensado, naquele dezembro sombrio, da polícia de Tupinambica das Linhas, sob suspeita de homossexualismo. A gota d água motivadora da dispensa foi a solicitação que ele fizera ao delegado: pediu pra ver seu bilau.
O traveco Rildo Piper quando se viu no olho da rua, chorava constantemente nos ombros da sua vizinha dona Tererê das Bolinhas. O boiola conhecia o ponto fraco da baleia: se alguém a chamasse de galinha de macumba ela enlouquecia, quebrando tudo que lhe estivesse na frente.
Piper apesar da juventude, tinha certo traço de pessoas da terceira idade e confundia, por exemplo, foi-se com foice. Ele em certa ocasião, sob surto psicótico, achou ser cúpula ânus saltitante.
Quando lhe diziam ser Tererê das Bolinhas ex-prostituta, freqüentadora dos randevus de Tupinambica das Linhas, ele não acreditava. E por não ter mais ninguém que lhe desse apoio, nos momentos de depressão, resolvia considerar ser tudo aquilo que falavam, da sua gordinha de cabelo duro, difamação das bravas, motivada pelo ciúme.
Rildo em certa ocasião, depois de chegar com seu Del Rey cor de burro-quando-foge, estacionando defronte a casa da Tererê, quase sofreu um chilique. Ele ouviu a gordinha dizer que quando dirigia, ele parecia um frango a guiar.
O boiola ficava fulo de raiva depois de ouvir alguém dizer estar sua testa cada vez mais semelhante à do Jarbas. Outro assunto que o atormentava era o do furto, por ele praticado, de uma fita de vídeo.
Quando era adolescente Rildo participara de uma bacanal entre homossexuais. A festa fora toda filmada e o produto posto a venda pela produtora.
Após ter passado no concurso público, o goiaba percorreu todas as videolocadoras, comprando as fitas. Ocorre que nem todas as venderam.
Ao saber da existência de uma derradeira fita sobre o assunto feio, resolveu furta-la sob o impulso do ódio. Furioso, o boiola teria pegado o objeto, jogando R$ 1 sobre o funcionário da loja. Minha amiga, o bafafá foi terrível.
Por causa da sua cabeça confusa, que misturava vi gente com vigente, ele não suportou a pressão que lhe faziam para deixar o emprego.
Ao abandonar o trabalho, Rildo Piper foi convocado pelas forças sociais repressoras e estagnantes. Ele incorporou-se à tribo do pavão-louco, cujo chefe supremo era Jarbas, o caquético testudo.
Numa das reuniões da corja, a pergunta que não queria calar era: o Piper teria visto o bilau do delegado?


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