Tu Amarás
Luís Gonçalves
Entre homens que amam há aqueles que sofrem. Que caminham na mesma cadência da canção do adeus. Pegam carona pela eternidade sem pressa. Apenas caminham. Ainda procuram o que restou daquele grande final feliz.
São errantes perdidos em si mesmo. Procuram do lado de fora o que perderam no interior. Por isso correm. Tornam seus próprios perseguidores mais uma vez. Porque não há rumo: temem. Pois bem ali junto á curva do destino á idade passa.
Porém, entre homens que amam há aqueles que vibram. Que conquistam o desejo da fama e não reclamam da doce ilusão. Mergulham o faro afiado no cinzeiro de sonhos e lá se atracam com seus pesadelos.
Partem de leitos de alma ardente que jorram fagulhas de intenso prazer. Que pinica a doce pele do cordeiro desde o despontar da lua até o amanhecer.
Enquanto todos dormem o calor enxuga a pele macia com a lágrima do pudor. O telhado resmunga, o piso estremece e o mundo gira em torno dessa velha mania de viver provando o instinto da ceia vadia.
Somente um naco de carícias murmura entremeios ás fatias do beijo febril. Que envolve os sonhos em detalhes pequeninos como as rosas em botão.
Após a chuva de larvas partem. Seguem em busca de um suposto bem querer. Alguém que lhe espera cativa ou adormecida pelo tédio. Não é provérbio.
Alojam em seus seios recheados de dor. Respira a fadiga do promiscuo pecado de ser homem. Filho daquele fulano de tal que lhe ensinou a ser o outro. Quase um amante a moda antiga. Um perfeito pecador.
Entre homens que amam há aqueles que procuram em noites escuras uma luz para lhes guiar. Que navega entremeios a terrível tempestade da carne em busca dessa tal felicidade.
Reclina o peito tranqüilo no farto berço da paz. Embala o sono travesso com uma canção de ninar: então, tu amarás!...