O MEIO DA TRAVESSIA
A partir do documento Retomando a Conversa, distribuído pela Secretaria de Educação do município de São Paulo, no dia 02 de fevereiro de 2001, nas escolas municipais, para reflexão e discussão entre os professores, pus-me a refletir.
Primeiro sobre a curiosidade, e não posso deixar de citar o trecho de Paulo Freire, o educador louco por curiosidade, que, aliás, é o belo epígrafe do referido texto.
“Qual a herança que posso deixar? Exatamente uma. Penso que poderá ser dito quando já não esteja no mundo. Paulo Freire foi um homem que amou. Ele não podia compreender a vida e a existência humana sem amor e sem a busca de conhecimento. Paulo Freire viveu, amou e tentou saber.Por isso mesmo, foi um ser constantemente curioso.”
O documento fala de uma escola que promova no ser humano o desenvolvimento de suas potencialidades a partir do incentivo do prazer pela descoberta, a curiosidade.É necessário que a forma de prazer que tanto bem já trouxe para a humanidade seja reencontrada: o ressurgimento do ser curioso. O mundo em toda a sua imensidão pode começar na sala de aula quando a grande pedagoga chamada curiosidade resolver nos seus bancos sentar.
A curiosidade é a deusa da evolução, este é o título de artigo de minha autoria publicado no jornal CORREIO DO SUL, de Varginha, MG.
Só através do amor curioso, do aprendizado desejado, o aluno poderá atingir a sua independência intelectual, condição essencial para que possa exercer a liberdade, alvo de todo projeto educativo sincero.
Quem generaliza erra.É possível que alguém possa afirmar que outros já chegaram sonhando semelhantes sonhos, mas que, com o transcorrer do tempo, nada mudou.Primeiro que não é bem assim.Alguma coisa sempre muda.
Os que têm na alma a sinceridade da provocação à utopia, realmente enfrentarão os vendavais, que afinal representam a sonoplastia da vida.
A idéia de que é preciso ilustrar o ego, a idéia de que alguém possa ser detentor do saber, são ultrapassadas.O professor é aquele que professa, que presta atenção.É por natureza um ser atencioso.Quando se afasta dessa verdade ajuda a dissolver o seu significado. E o resgate da sua dignidade começa na educação do curioso, na escola que lhe oferece o espaço, para que ele reencontre na sala de aula o prazer da descoberta.
O seu coração deve encontrar na originalidade do pensamento de Paulo Freire, a alavanca para o seu sucesso, que se resume na felicidade diante do aluno que se abriu para a liberdade, na consciência de suas potencialidades.
Incentivar a curiosidade, instigar a criação e, mais que isso, a reflexão crítica, só será mesmo possível através do rompimento com uma educação política voltada para o mercado e a competitividade.
Longe da pedagogia mercadológica, da competição sem sentido, a educação poderá atingir o seu ideal do homem como inventor de si, através dos seus atos. Os atos sendo os nossos inventores.Quando a curiosidade se manifesta como um ato educativo (O ato que nos inventa!), estamos diante de uma proposta acolhedora, estamos vivenciando um espaço que precisa ser preservado.
É preciso reparar na palavra de Guimarães Rosa, que nos afirma que “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”
MARCIANO VASQUES- SP
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