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Contos-->"O SONHO DE VANI" -- 07/09/2005 - 01:08 (Hull de la Fuente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“O SONHO DE VANI”



A água do chuveiro escorria acariciando as curvas do bonito corpo de Vani. O perfume do sabonete e do xampu se misturava à nuvem de vapor causado pela alta temperatura da água, invadindo os corredores da bonita casa. Feliz, ela cantarolava e esfregava a esponja ensaboada na nuca, nos seios firmes e no umbigo. Seus pensamentos eram todos para o grande momento que viveria, dentro de poucas horas. No quarto ao lado, um batalhão composto por cabeleireiro, maquiador, costureiro e auxiliares a esperavam para prepará-la. Dona Isabel, como toda mãe de noiva, batia na porta do banheiro, chamando-a nervosa:
– Vani! Olha a hora! Você está deixando todos nervosos!
– Hein? O que você falou? Não estou ouvindo. Espera eu terminar o banho – gritou através da porta.
– O Marquinhos já roeu todas as unhas! Disse que não vai dar tempo de secar essa sua cabeleira toda.
– Diga pra ele deixar de frescura. Só quem pode ter chiliques hoje, sou eu! – gritou de novo, passando a mão no vidro esfumaçado do Box; queria olhar-se nua no espelho. O que viu, agradou-a. Imaginou Luciano acariciando seu corpo, naquela noite. Seria a coroação do sonho de ambos. Um frêmito de excitação deixou-a com a pele arrepiada de desejo. Era melhor terminar o banho. Abriu de novo o chuveiro e recomeçou a cantar, para o desespero da mãe.
– Fecha esse chuveiro Vani! Será que eu vou ter que chamar o ridículo do seu pai para arrombar esta porta? Pelo menos pra isto ele serve. Ainda mais nervoso como ele está. – admoestou-a, preocupada com a demora, mais pelo noivo, do que pelas pessoas que esperavam para arrumar a filha.
Isabel viu a própria imagem no espelho do quarto da filha. Aquela não era a imagem de uma mulher feliz, muito menos de uma mulher bonita. De que adiantava a roupa cara que estava usando, se nada lhe ficava bem? Em cinco meses sua vida sofrera mudanças radicais. Primeiro, o casamento de vinte e seis anos, havia terminado. O marido, oficial da Aeronáutica, deixara-a por uma moça da mesma idade da filha deles, Marina, de 22 anos. Brigar para reconquistá-lo não fazia sentido. A humilhação da troca por uma jovem, não tinha perdão. Há muito os dois não se falavam. Só naquela semana, com a chegada do futuro genro e devido aos preparativos do casamento, eles voltaram a se falar. Isto é, apenas o necessário, para não dar má impressão ao rapaz.. O “Coronel Ridículo”, como passara a chamá-lo, havia sido reformado. Com sessenta anos de idade, dono de um corpo atlético, cabelos pintados, para esconder a brancura, passava a maior parte do dia no Clube, conversando com outros militares, também reformados. Foi ali que conheceu a garota por quem se apaixonou. O jardim da bela mansão, antes tão bem cuidado por ele, assim como outras coisas que gostava de fazer, como a leitura, não mais lhe interessavam. Agia como um jovem e vestia-se igual aos rapazes de vinte anos, até os bonés ele usava com a pala pra trás, como um garoto. Isabel odiava vê-lo vestido daquela maneira. As roupas antigas foram esquecidas no “closet” que os dois haviam compartilhado até a descoberta da traição. Ivan se transferira para a ala de hóspedes da mansão. Isabel sentia-se a última das mulheres. O corpo quase obeso, em nada a ajudava. Da bonita mulher que fora um dia, nada restara. As feições duras acentuavam-lhe ainda mais as rugas. Só o trabalho na faculdade, onde lecionava, lhe dava satisfação. Para piorar o seu estado de ânimo, Vani, a filha querida, bonita, estudiosa, equilibrada, perdera totalmente o juízo. “Conheceu”, numa sala de bate-papo da Internet, o rapaz espanhol com quem se casaria dentro de poucas horas. Os colegas da Faculdade de Direito, em vão, tentaram convencê-la a esperar o final do curso. Ponderavam: “Só faltam seis meses para a nossa formatura, Vani! É o tempo que vocês terão para se conhecer melhor.” Os jovens da igreja presbiteriana, freqüentada por ela, fizeram apelo igual. A pedido de Isabel, o Pastor também a aconselhou. Falou da seriedade do matrimônio, das implicações, da responsabilidade, do amor não apenas físico. Mas ninguém foi capaz de demovê-la do casamento apressado. Ela não podia esperar mais, o Luciano também não. O Coronel Ivan Noronha, enamoradíssimo, vivia sua fase do “laisser faire, laisser passer”* . Em nada colaborou para desestimular a filha. Pra ele só importava o amor em toda sua plenitude. Assim como não aceitava imposição ou palpite de ninguém, ele não gostaria de se opor ao momento de sonho e romantismo da filha.
Vestida com um roupão de piquê branco, Vani saiu do banheiro para o quarto. O cabeleireiro Marquinhos a esperava aos prantos. Uma sua assistente o seguia com um lencinho de cambraia na mão, secando-lhe o suor e as lágrimas. Calma, a moça sentou-se diante do enorme espelho de cristal e não disse uma palavra. Estava em outra dimensão. Estressadíssimo, o cabeleireiro berrava com todos a sua volta:
– Meu Deus! É hoje que a minha fama vai pras cucuias. Metade dos meus neurônios se consumiu, estão em curto circuito. Não há profissional que resista a tamanho stressss!!!!! Vani, você conseguiu me desestruturar! – a voz esganiçada se ouvia no andar de baixo, para diversão dos cozinheiros e garçons, que se movimentavam entre a cozinha e o salão de festa.
No imenso jardim, idealizado por um paisagista famoso, mesas lindamente decoradas se espalhavam. Os músicos perfeitamente vestidos e afinados tocavam um repertório bastante eclético, indo do popular brasileiro a algumas peças espanholas e outras clássicas, tudo escolhido pelos noivos.
Vani foi cercada pela equipe de profissionais. Enquanto maquiadores e cabeleireiros cuidavam dela, seus pensamentos voltaram ao dia em que encontrou Luciano na sala de bate-papo. Foi no dia seis de janeiro. Quatro meses antes. No começo ele brincou e ela não gostou da brincadeira. Luciano pediu desculpas de maneira tão encantadora que a desarmou. Um sorriso aflorou seus lábios ao lembrar do ocorrido:
– “Holla! Estoy hablando desde Madrid. Cuanto quieres por un beso?”
–“Porque no lo piedes a tu hermana? Yo non soy quien tu piensas!” – respondeu aborrecida – “Yo entré en esta sala solamente para estudiar, aprender el español”
– “Discúlpame princesa! Mi nombre es Luciano. Yo quería solamente hacerte sonreír. Me gusta jugar”.
Daí por diante, a conversa tomou um tom ameno. Ele a convidou para conversar no Messenger e ela aceitou. Luciano contou que era viúvo e tinha 29 anos. Do casamento ficara um filho, o pequeno Arturo, de apenas quatro anos de idade. Era formado em informática e engenharia eletrônica. Falava quatro idiomas e era católico. Em função do trabalho que fazia, viajava muito, mas ainda não conhecia o Brasil. Vani também falou de si, disse que era estudante do último ano de Direito, que estudava espanhol e inglês, porque pretendia trabalhar no Mercosul. Declarou ser presbiteriana e que toda a sua família também o era. Preferiu omitir o problema da recente separação dos pais, embora eles ainda continuassem sob o mesmo teto. Falou do amor que sentia pela mãe, com quem se identificava muito. Sobre o pai, disse apenas que ele era militar. Vani tentava compreender o pai, mas, intimamente, achava que ele pouco se lixava com a vida das filhas. Era essa a impressão que ele passava a ela e à irmã.
Após duas horas de conversação, o rapaz a convidou para ligar a Webcam, ao mesmo tempo em que ligava a sua. Luciano encantou-se com a beleza de um metro e setenta da garota, vestida de calças jeans e bustiê preto. A roupa realçava seu corpo perfeito, de apenas dezenove anos. Ele também era um homem bonito e alto. Os dois se enamoraram imediatamente. A conversa entrou noite adentro, e como era de se esperar, foi tomando um tom mais íntimo. Ele elogiou a beleza dela, falou dos lábios provocantes, pediu que ela aproximasse o rosto da câmera, pois gostaria de olhar de perto seus olhos negros. Depois disse que daria parte da sua vida para beijá-la. A moça confessou nunca haver beijado ninguém. Contou que sua religião não permitia intimidades antes do casamento. Surpreso, perguntou-lhe se ela era virgem. Vani confirmou sentindo o rosto aquecer-se pelo rubor. Excitado, Luciano declarou que a beijaria todinha, se pudesse, naquele momento. Pela primeira vez, a moça sentiu o apelo da carne. Luciano a conduzia a um mundo novo. Ele pediu que ela lhe mostrasse os seios. Vani recusou-se, embora tivesse receio de desagradá-lo. Sem constrangimento e para surpresa dela, o rapaz despiu-se diante da câmera. Era a visão do paraíso. Vani chorou de desejo e de pudor. Luciano se comoveu com a pureza dela. Para não constrangê-la ainda mais, pegou um robby de seda e cobriu a nudez. A conversa, entretanto, prosseguiu ardente e entrou pela madrugada. E assim o namoro continuou, por uma, duas, três semanas, um mês. No final do segundo mês, ele anunciou que viria ao Brasil para encontrá-la.
E bem no auge da crise entre os pais, Vani anunciou-lhes que o “noivo” viria da Espanha, e que queria casar-se o mais rápido possível.
– Que noivo é esse? – quis saber Isabel – Eu trabalho naquela faculdade há anos, não conheço nenhum espanhol que estude lá.
– Ele não é da faculdade, mãe. Ele mora em Madrid, nunca veio ao Brasil. É viúvo e tem um filho de quatro anos... Nós estamos apaixonados.
– Presta atenção, minha filha! Você não está querendo me dizer que conheceu esse tal “noivo” pela Internet, está?
– Foi pela Internet, sim! O que tem de mal nisso? Ele vai ligar hoje, pra senhora e para o papai. O nome dele é Luciano Arroyo e vai chegar na quarta-feira que vem. O senhor Fabio, o pai dele também vem, para fazer o pedido, como é o costume deles. – disse calmamente, para desespero da mãe.
Naquela noite, como havia combinado com Vani, Luciano ligou. Os pais da moça ficaram encantados com a simpatia do espanhol. Por um pouco esqueceram as diferenças e trocaram impressões sobre o que estava acontecendo com a filha caçula. Tudo foi preparado para a vinda do rapaz e do pai dele.
Vani e os pais foram esperar os hóspedes no aeroporto de Brasília. A moça fez questão de ir no próprio carro. Não queria perder nem um segundo da companhia do amado. Ao mesmo tempo, morria de medo de decepcionar-se ou, pior, que o rapaz ficasse decepcionado ao vê-la pessoalmente. Mas nada disto ocorreu. Os dois correram para os braços um do outro, deixando de lado os pais. O beijo tão esperado, finalmente aconteceu. Luciano e o pai foram, por uma semana, hóspedes na mansão da família Noronha. Isabel, para assegurar-se de que a filha permaneceria virgem até o casamento, à noite, obrigava-a a dormir no quarto de Marina.
Tudo foi acertado e o casamento foi marcado para o mês de abril. Luciano procurou a filial de uma empresa espanhola, em Brasília, onde conseguiu um ótimo emprego. Começaria o trabalho em maio, após o retorno da lua de mel. O rapaz e o pai retornaram à Espanha. O romance prosseguiu mais ardente do que nunca, via Internet e telefone.
Agora, diante do espelho, preparando-se para o casamento, Vani sentia o corpo quente, tinha a sensação que mãos invisíveis a acariciavam ousadamente. Ela sabia que na ala dos hóspedes, o seu amor espanhol experimentava o mesmo desejo e isto a excitava.
Os convidados lotavam todos os espaços do jardim e do salão da casa. Os músicos tocaram a marcha nupcial. Vani, vestida como uma princesa, braço dado com o pai, foi conduzida ao púlpito montado no jardim. Luciano a esperava elegante e ansioso, na companhia do pai. Seu filho Arturo, à frente da noiva, portava as alianças. O Pastor fez uma longa pregação e hinos foram entoados pelo coral da igreja. Finalmente, a união foi abençoada. A festa foi perfeita. Os noivos passaram a primeira noite na Academia de Tênis e na manhã seguinte viajaram para a Espanha. Luciano era o próprio príncipe encantado. Vani conheceu lugares maravilhosos, viveu o amor intensamente. Às vezes duvidava de tanta felicidade e pedia ao marido que a beliscasse, pois tinha medo de estar sonhando. Ele ria e a tomava nos braços, cheio de amor. Um mês depois estavam de volta a Brasília. Arturo e o avô espanhol haviam ficado no apartamento que o casal deixara montado. O pequeno tomou-se de amores pela nova casa, chamava Vani de “mamãe”, o que a deixava radiante. O sogro retornou pra seus negócios na Europa. Vani prosseguiu os estudos e formou-se em agosto, como era previsto. A vida seguia perfeita para eles.Vani já pensava em montar um escritório de advocacia, o Mercosul era a sua meta.
Em setembro, Luciano foi aos Estados Unidos, a serviço. Na volta encontrou sua amada não muito bem disposta. Mesmo assim, amaram-se loucamente durante a tarde e depois que voltaram do jantar. Na manhã seguinte Vani acordou molhada de suor e ardendo de febre. Luciano telefonou para a sogra e avisou que estava levando a mulher para o hospital porque ela não estava bem. Isabel foi ao encontro deles. O primeiro diagnóstico acusou pneumonia dupla. Vani ficou internada, mas os médicos não entendiam porque a moça só piorava. Luciano ia vê-la todas as manhãs, antes do trabalho. Embora muito fraca, ela se preocupava por ele e por Arturo.
– Como você está meu amor? E o nosso filhinho? Ele está indo à creche? Você está cuidando bem dele?
– Não se preocupe, querida. Está tudo bem comigo e com o “nosso” filho. – respondia tentando tranqüilizá-la. – Você deve apenas pensar no seu restabelecimento.
Dez dias depois da internação, a pele perfeita de Vani amanheceu coberta de manchas. No dia seguinte as manchas se abriram em pústulas. A equipe médica realizou novos exames. O diagnóstico não deixou dúvidas: Vani estava com AIDS. Isabel e Marina, que já não mais moravam na bela mansão do Lago Sul e se revezavam à cabeceira da doente, foram as primeiras a tomar conhecimento da desgraça. Os médicos perguntaram à moça se ela havia compartilhado seringa com alguém, se havia recebido transfusão de sangue. Vani desesperou-se ao ouvir as perguntas. Lembrou-se de quando estava na casa de Luciano, na Espanha. A velha empregada lhe contara que a primeira mulher dele havia morrido, repentinamente, de pneumonia dupla. Lembrou-se ainda da noite de núpcias quando o marido a penetrara, rompendo o hímen. Luciano não conseguiu esconder sua felicidade ao ver o sangue nos lençóis. Chorando, contou tudo aos médicos. Isabel abraçou-se à moça e chorou com ela.
Naquela tarde, quando Luciano foi vê-la , reunindo toda a força que podia, Vani perguntou-lhe por que praticara tamanha crueldade com ela. Um homem totalmente diferente daquele com quem se casara, respondeu friamente:
– Há dez anos, uma jovem bonita, assim como você foi também, contaminou-me. Foi por isto! – respondeu cruelmente.
– Luciano, eu amei você tanto, desde o primeiro dia. Eu jamais faria uma maldade dessas com alguém. Você não teve piedade de mim. Agora eu compreendo a sua felicidade ao ver o meu sangue nos lençóis. Como pôde esconder-me isto? Você nunca ficou doente?
– Eu já estive doente, no início, “meu bem”. – disse ironicamente – Lembra das “vitaminas” que eu tomo todos os dias? São os coquetéis de AZT dentro dos frascos de vitaminas. A vida é assim mesmo, “princesa”. Sinto por você, todo sonho tem um preço e o preço do seu é a morte.
Lágrimas silenciosas desceram pela face magra e sem cor da pobre criatura que jazia no leito. Isabel, como uma leoa ferida, pulou no pescoço do genro. Seu peso fez os dois caírem sobre a mesinha de cabeceira, arrastando-a com eles ao chão frio da enfermaria. O barulho despertou a atenção do pessoal da enfermagem. Logo os seguranças chegaram e em vão tentavam levantar o corpo obeso da mulher, que esmurrava e arranhava o rosto de Luciano. As enfermeiras e auxiliares, ao verem o sangue começando a brotar dos arranhões no rosto dele, afastaram-se apavoradas. No desespero, ela berrava:
– Assassino! Maldito assassino! Como pode fazer isto com uma jovem inocente? O desgraçado do seu pai com certeza sabe de tudo. Vou denunciá-los a policia do mundo inteiro. Vocês não farão mais vítimas. Seu desgraçado!
– Saia de cima de mim, sua bruxa! – esgoelava o canalha, que mal podia mover-se, sob o peso dela.
Finalmente a mulher foi dominada por dois enfermeiros que a levaram dali. Os seguranças manietaram Luciano e o expulsaram para fora do hospital. O rapaz esbravejava dizendo que iria processar todos eles. Os médicos deram um calmante pra Isabel, fazendo-a adormecer. Suas longas unhas foram lavadas e cortadas, seus dedos não mostravam ferimento algum. Ainda assim, os médicos iriam recomendar a ela que fizesse exames, por certo período, para tirar qualquer dúvida.
Após a saída de Luciano, Vani piorou. Os médicos fizeram de tudo para que ela recuperasse a vontade de viver, mas foi tudo inútil. Logo ela entrou em coma. Os parentes foram informados da gravidade do seu estado. O Coronel Ivan foi o primeiro a chegar. Veio direto da Academia de Tênis, “fantasiado” com roupas de tenista, pois todos sabiam que ele não jogava tênis. Vinte dias antes, a garota por quem ele se apaixonara, após um mês na mansão, deu-lhe um sonífero e, junto com um cúmplice, roubou sua casa levando os objetos mais valiosos. No início, o ocorrido não o desanimou. Com certeza ele ainda encontraria uma bela mocinha honesta. Mas agora, olhando a filha no leito de morte, parecia ter tomado consciência de que o amor é belo, de que o amor faz sonhar e, além de roubar, também pode matar. Sua dor era visível. Pobre “coronel Ridículo”!
Marina, abraçada ao cabeleireiro Marquinhos, chorava desconsolada. Isabel despertou do sono forçado de mais de seis horas e correu para o quarto da filha. A presença de toda aquela gente na enfermaria foi a confirmação de que Vani estava morrendo. A agonia da moça terminou às três horas da madrugada. No funeral, os colegas da faculdade e da igreja a homenagearam com cânticos, poesias e flores.
A professora Isabel, diante da impossibilidade de vingar a morte da filha, abriu uma página na Internet, onde relata a história de Vani. No site, aparecem centenas de fotos do casamento e da primeira vez que o espanhol e o pai estiveram no Brasil. As fotos dos dois criminosos foram ampliadas para que todos possam reconhecê-los.
Luciano pediu transferência para a representação da empresa em São Paulo. E nas noites, pode-se encontrá-lo nas salas de bate-papo a procura de namoradas, de novas vítimas.

FIM
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