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Artigos-->A Parábola da Libélula -- 20/09/2002 - 22:41 (José Flávio Pinheiro Vieira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A PARÁBOLA DA LIBÉLULA

JFLAVIO

Pairavam sempre as maiores dúvidas sobre as reais intenções da Raposa. O certo é que, no curto período em que lhe foi outorgado do direito de ser a Rainha dos animais, aconteceram coisas muito estranhas na Ilha. Pode parecer esquisito, mas acreditem : a democracia agora já passava a fazer parte da constituição da selva. A alternância de poder fez com que um dia, por se terem queimado muitas opções, a escolha tenha recaído sobre a Raposa. Pois bem, no seu reinado, rapidamente os animais perceberam uma estranha amizade da Rainha, com o Lobo, o Javali e a Hiena.Comentava-se, inclusive, que não se sabe bem como, tinha vindo de uma outra ilha do mesmo arquipélago. Permaneciam juntos muito tempo e Sua Majestade, a Raposa, os tornou conselheiros do seu reino e não tomava qualquer medida , sem os ouvir atentamente. Aos poucos se foi percebendo : o que havia de melhor , ia sendo ofertado preferencialmente aos conselheiros.Toda a farta alimentação da floresta e o lago de águas límpidas e potáveis separavam -se do terreno principal do reino, por um abismo tenebroso e apenas uma pequena ponte rudimentar, feita de cipós, ligava os dois lados, sendo o único caminho que os animais tinham para matarem a fome e a sede.

De há muito se tinham criado regras para o acesso estratégico à floresta e ao lago. Existia uma escala feita cuidadosamente para se evitarem os privilégios e as possíveis e previsíveis desavenças. Os répteis atravessavam a ponte nas segundas e quintas feiras, os mamíferos nas terças e sextas e o sábado e domingo eram dias para a recuperação da floresta e do lago e ninguém tinha permissão para cruzar o abismo. Apenas ao rei ou rainha permitia-se livre acesso quando assim o desejasse. Pois bem, comentava-se, à sorrelfa, em toda a ilha, a preferência especial que Sua Majestade vinha demonstrando para com seus inseparáveis conselheiros. As opiniões se dividiam: alguns atribuíam os comentários a intrigas da oposição. Passou, no entanto, a haver unanimidade, quando uma Portaria vulpina publicada , abria acesso à floresta e ao lago, para o Lobo, o Javali e a Hiena, em detrimento aos outros animais, por todos os dias da semana, inclusive nos sagrados sábado e domingo.

Impulsionados pelo macaco, o leão, o tigre e o elefante se reuniram às escondidas e rapidamente convocaram todos os demais bichos prejudicados com o suspeitíssimo e inaceitável privilégio. Em pouco, a revolução estava formada . Tomaram de assalto a toca real e apearam do poder a Sua Majestade Raposa e as nobilíssimos e privilegiados conselheiros, que escaparam em desabalada carreira e por pouco não foram pegos e dizimados pela fúria animalesca dos prejudicados. A corte real fugiu para o lado da floresta e após atravessar o abismo, destruiu a única ligação existente com o reino : a ponte de cipó.

Terminada a revolução, os bichos se deram conta da enorme enrascada em que se tinham metido. Agora passariam fome e sede e corriam o sério risco de extinção. Em assembléia à beira de um frondoso baobá , o leão explicou as enormes dificuldades por que estavam passando. Propôs então que apresentassem idéias para solucionar a letal perspectiva. Quem conseguisse encontrar um caminho seria o novo Rei da Ilha. O Tatu Mangabeira , adiantou-se , e disse :

--- Amigos, tenho a solução para nossa terrível sinuca de bico! Lembram-se vocês que o reino tem há muito tempo um silo, onde se guardam mantimentos, próximo à toca real ? Pois bem, o silo é imponente e contempla todos os bichos de cima para baixo, deve estar cheio de alimentos. Depois que arrancarmos do chão os mantimentos, cavamos um pouco mais e brotará a água que matará a nossa sede.

Aplausos gerais ! Rapidamente os bichos se dirigiram para o silo. De longe imaginaram que , pelo grande porte e ar soberbo, deveria estar superlotado de suprimentos. Quando a comissão , ávida, abriu o silo , que decepção ! estava vazio, embora assim não o parecesse. O leão, dirigindo-se para a platéia esperançosa, a desalentou :

--- Infelizmente, meus amigos, o silo não é a solução !

Uma grande arraia ,então, apresentou sua proposta:

--- A solução , para mim, está no garrotinho , que vocês vêem ali no canto. Ele é novo, ágil, quase uma criança, pode muito bem correr, pular para o outro lado do abismo e mandar para nós o resto da ponte de cipó que se encontra dependurada do lado da floresta. Além de tudo, tem muita fé no Deus dos mares. Mal disse isto, ainda sob as palmas, o garrotinho saiu em desabalada carreira em procura do abismo, deu um salto estupendo. A margem, no entanto, estava além do seu alcance e a platéia, mais uma vez assistiu desiludida à esperança despedaçar-se no abismo.O garrotinho, infelizmente, não mais podia ser a solução!

Mal a assembléia tinha fechado a boca, estarrecida, o Caboré Gené , apresentou seu Projeto:

--- Pessoal, no lado oposto à floresta e ao lago, existe uma serra. Dizem que lá tem muita água e muitíssima comida. A raposa, o Lobo, o Javali e a Hiena gostavam muito de lá. Acho que essa serra é que vai resolver nosso impasse.

De repente se formou uma comissão de pássaros de longo bico que partiu em vôo rasante, em direção à serra. Voltaram algumas horas depois ,dizendo lá já não havia mais nada, tudo tinha sido dilapidado pela raposa, pelo Javali, pelo Lobo e pela Hiena. A serra ,meus amigos, não vai resolver o problema de ninguém, viu ?

O leão pensou em dar a assembléia por encerrada: parece que não havia mais o que fazer.

Mal acreditou quando a seus pés, muitas formigas se juntaram e disseram : sabiam quem tinha um Projeto salvador para resolver tudo:

-- A libélua !

Gargalhadas gerais ! Um pequeno inseto lá tinha poderes para desvendar tamanho mistério ! Todos os animais sabidos tinham tentado, e nada !

A libélula ,em vôo rasante, sentou próximo ao leão e explicou :

--- Lembram-se de mim ? Hoje sou um inseto alado, mas um dia fui apenas uma desprezível e rasteira Ninfa. Passei por várias transformações até poder um dia ganhar asas , pairar por sobre as águas em vôo de beija-flor. O mistério está na capacidade que cada um tem de se metamoforsear ! Qualquer animal pode escolher entre viver como verme ou como pássaro. Se cada um de vocês quiser e para isso se determinar, vocês criarão asas como eu, alçarão vôo , podendo ir para onde quiserem e entenderem. Vocês se farão senhores da sua própria vida e artesãos da sua própria história.

Os animais , de princípio incrédulos, fecharam os olhos por alguns minutos : não tinham outra opção em meio à fome e à sede. Aos descerrarem as cortinas das pálpebras, atônitos, descobriram que era verdade, que tinham deixado o estágio de Ninfa e criado asas e que agora podiam voar livremente e não mais necessitavam de pontes. A raposa, o Lobo, o Javali e a Hiena foram caçados sistematicamente e jogados no abismo ,talvez para ver se encontravam o garrotinho .

A libélula foi levada nos braços para o trono, enquanto os animais gritavam felizes o refrão que tomou conta de toda a Ilha:



--- Libélula Lá !!!!





Crato, 05 de Setembro de 20002





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