MEMÓRIA É CORTESIA HUMANA
Cortesia humana para com o tempo.Se perdida, a existência não tem sentido. O enigmático dom responsável pela evolução humana. Transita de geração a geração. Cuidar dela, não apenas no aspecto biológico, mas lendo, exercitando-a, é a solução para que ela não perca a dignidade. Não devemos adquirir o hábito de esquecer, pois ela é cortês, mas exige respeito.
Coisas em minha memória entraram por intermédio de algum sentido, principalmente a visão: televisão, cinema, jornal, revista ou livro.
Em 1958, com base numa alegação de insanidade, o poeta e crítico Ezra Pound teve as acusações que pesavam contra ele arquivadas.Durante a guerra Pound fez mais de 300 transmissões radiofônicas em apoio ao ditador italiano Benito Mussolini. Com a alegação de insanidade, as acusações de poeta fascista contra ele foram retiradas.
Em 1945, Dresden, a “Florença alemã”, cidade histórica e cultural, foi atacada pelos aliados, que mataram, com bombardeios aéreos, 130 mil inocentes e destruíram pinturas de mestres holandeses e italianos, que se encontravam nos museus.
Fazia caretas, mostrava a língua para os jornalistas e usava um boné do Mickey. Morreu em 1955, o físico, grande humanista e pacifista Albert Einstein.Trabalhou em universidades alemãs até 1933, quando foi forçado a deixar o país por causa do anti-semitismo.Cometeu um erro, do qual profundamente se arrependeu.Convenceu os Estados Unidos a construir a bomba atômica, com medo de que a Alemanha também construísse a sua.
Um ano antes, astrônomos anunciaram pela primeira vez que o universo teria nascido de gigantesca explosão cósmica, a qual chamaram de Big Bang.
Em 1963, um respeitado ministro britânico renunciou sob a acusação de ter mantido relações sexuais com uma prostituta.
Em 1965, o enigmático jovem compositor Bob Dylan foi vaiado ao se apresentar num Festival.O motivo: o cantor, que surgira como compositor de protesto, tomava novo rumo em sua inspiração poética.Ao surgir, no inicio de 60, com 20 anos de idade, o jovem autodidata, encantou New York.
Em 1958, o escritor Boris Pasternak, autor do romance “Doutor Jivago”, recusou o prêmio Nobel de Literatura.
Em 1946, cientistas num simpósio nos EUA, alertaram pela primeira vez, que o cigarro poderia provocar câncer de pulmão.
Na primeira metade do século passado, um jovem trabalhava como pintor de cartões postais em Viena, onde abraçou o anti-semitismo exacerbado.Seu nome: Adolf Hitler.
Num dia de junho de 1945, alemães assistiram a um filme sobre campos de concentração.Algumas pessoas choraram, outras questionariam a responsabilidade dos alemães.
Em 1944, com a ordem de Hitler de que, para cada alemão morto fossem executados cinqüenta italianos, em Roma, num dia de março, inocentes foram executados. Entre eles, crianças.
Em 1951, estudos pioneiros publicados no “The New York Times” revelam, pela primeira vez, a possibilidade da televisão afetar a sociedade dos EUA, e mudar a forma de vida da população.
Em agosto de 1955, Thomas Mann, autor de “A Montanha Mágica”, que se opunha ao nazismo e ao anti-semitismo,morreu em Zurique, lucidamente aos 80 anos.
Ao anunciar que abandonaria a carreira, a atriz Ingrid Bergman declarava que “Uma estrela de cinema é um produto comercial ridículo...”. E dizia: “Sou apenas uma mulher, um simples ser humano”. Aceite a cortesia da memória e encontrará uma das chaves da vida mentalmente saudável.
MARCIANO VASQUES -SP
Marciano Vasques é escritor.
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