Se eu me demorar demais olhando Paysage aux Oiseaux Jaunes, de Klee, nunca mais poderei voltar atrás. Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Assusta a visão talvez irremediável e que talvez seja a da liberdade. O hábito de olhar através das grades da prisão, o conforto de segurar com as duas mãos as barras, enquanto olho. A prisão é a segurança, as barras o apoio para as mãos. Então reconheço que a liberdade é só para muito poucos. De novo coragem e covardia se jogaram: minha coragem, inteiramente possível, me amedronta. Pois sei que minha coragem é possível. Começo então a pensar que entre os loucos há os que não são loucos. É que a possibilidade, que é verdadeiramente realizada, não é para ser entendida. E à medida que a pessoa quer explicar, ela estará perdendo a coragem, ela estará pedindo. Paysage aux Oiseaux Jaunes não pede. Pelo menos calculo o que seria a liberdade. E é isso o que torna intolerável a segurança das grades, o conforto desta prisão me bate na cara. Tudo o que eu tenho aguentado...só para não ser livre..."