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Poesias-->Sem máscaras (ou eu revisitada) -- 05/10/2006 - 23:13 (Tereza da Praia) |
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Sem máscaras (ou eu revisitada)
(baseada no poema de Fernando Pessoa Lisboa Revisitada)
Tereza da Praia
Dizem-me: “não sofra assim”
Por que não hei de sofrer?
Só porque não querem,
Só para aplacar as suas consciências?!
Não me tragam conselhos
Se é tão fácil deixar de sofrer,
Digam-me apenas
Onde está o botão
De of no meu coração.
Se têm conselhos, guardem-nos!
Queriam-me paciente, conivente,
Humilde e silenciosa.
Parecendo que a vida era um mar de rosas.
Aceitando tudo, entendendo tudo...
Passando por cima de coisas, engolindo pedregulhos?
Misturando auto estima com orgulho.
Agora, querem-me ao contrario disto tudo: forte,
fingindo-me superior às humilhações sofridas, resignada!
Fazendo de conta que não houve nada!
Não me venham falar de perdão!
Não tenho perdão para dar.
Quero é vingança!
Quero um mínimo de compensação
E uma boa dose de esperança.
Não me venham com contos da carochinha
De que não se deve arrepender pelo que foi feito...
Pelo que foi vivido...
Pelas horas idas, e pelo tempo perdido!
Não sou assim tão boazinha.
Arrependo-me... !
Já disse arrependo-me de tudo!
Do afeto desperdiçado,
Do grito mudo,
Do silêncio ruidoso
Do carinho jogado ao lixo
Da ternura lançada fora
Do amor idiotizado e fantasioso.
Arrependo-me, sim...
E querem saber de mais?
Vão para o diabo vocês, ou vou eu,
Com esta historia de que amar é melhor que ser amado!
Fazem-me morrer de rir,
Ou transformar-me palhaça de mim.
Bom mesmo é ser amada...
Melhor ainda é fazer o esperto de otário.
Ah, isto não é meritório?
Danem-se!
Estou cansada destas mentiras politicamente corretas:
De não arrepender do passado,
De que amar é melhor que ser amado...
Que mais feliz é dar que receber
Inventem algo mais convincente!
Algo que possa favorecer
Minha combalida crença.
Se ele fosse outra pessoa,
Se eu soubesse que alguma esperança
De encontrar sensibilidade
Naquela alma empedernida,
Eu até lhes faria a vontade.
Mas assim como ele é, tenham paciência!
Ele que vá para o inferno sem mim
Por que havemos de ir juntos?
Por que hei de ficar “amiga”.;
Fingir que perdoei.; que são coisas da vida.;
Que não há mágoa.;
Se sou um poço de sangue,
Cacimba sem água,
Lama de mangue?!
Dêem-me licença,
Posso ter sido tratada como catraia...
Mas não tenho veneno de lacraia
Nem tão pouco sou insana hipócrita...
Ele nada me deu a não ser mágoa e tanto faz.;
Nada me tirou, a não ser o sossego da alma...
A paz e a calma.
Ele não é nada que eu me sinta.
Larguem-me em paz.
Estou lúcida... Com a lucidez dos loucos...
Perplexa, como quem achou e esqueceu!
(Série: Fera Ferida, ou um mar que espera)
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