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cronicas-->Para ti -- 20/02/2004 - 16:08 (Valéria Tarelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para ti,
deep blue



"A localização de Parati é privilegiada e muito bem protegida das intempéries que costumam deixar o mar agitado.
Situada em um dos cantos da Baía de Angra dos Reis, toda a navegação na região é bastante tranquila,
mesmo nos mares de inverno, por isso Parati é considerada destino certo em qualquer época do ano."
Revista Náutica On-Line





Eu poderia perder a noção do tempo, mergulhada em teus olhos. Assim como perco o conceito de equilíbrio, quando a beira do abismo de tua boca. Ou quando perco os sentidos ao te ver partindo: estado de coma, induzido por tua ausência. Coma vígil, até que, novamente, te veja: corpo presente, olhos que me fogem.

Talvez refugues o meu olhar, para que eu não me jogue de cabeça. E o olho-no-olho que me negas, talvez seja por medida de segurança (minha, ou tua; talvez, nossa). Talvez fujas de um amor que, lá no fundo, pressentes; talvez queiras ocultar alguma culpa por não me amares, ciente que tanto te amo; talvez evites decifrar o que meus olhos dizem - eu e essas minhas verdades, que saltam aos olhos.

Talvez até te importes comigo, enquanto eu não dou a mínima para o perigo. Daria a vida - eu e minhas hipérboles: "eu sou mesmo exagerada, adoro um amor inventado..." -, para ver-me refletida: da superfície (cristalina?) de teus olhos ao tom azul mais recóndito. Já morri um pouco, abracei muitas mortes no teu corpo, mas nos olhos almejo o meu último suspiro. Desejo uma morte azul, não cor-da-pele. Azul, cor do céu sem nuvens - sol a pino -; azul, cor do mar profundo, em dia claro. Azul límpido. Desejo morte súbita: fulminada pela descarga de teus raios de luz (azuis, óbvio), não a morte lenta dos orgasmos acromáticos.

Ainda que fosse para fenecer de desamor, só em teus olhos eu encontraria paz. Pois, somente no abissal de tua iris, está sedimentado o significado de tudo. No fundo de teus olhos, há resíduos dos motivos por estarmos juntos. Lá, reside a cota de razão que te cabe e desconheço. O meu quinhão, está à tona. E segue - a olhos vistos - o curso da correnteza que deságua em ti. Tu, que não permites que eu desça mais profundo. Sequer admites que eu penetre - eu e minha "síndrome de Star Trek": estar onde nenhum outro ser humano jamais esteve -, talvez, para não decepcionar-me ao encontrar destroços das que já naufragaram ao tentar semelhante proeza. Não sou a primeira, tampouco a última. Não sou a única. E não te conquistei, enquanto algumas deixaram em ti suas marcas, sem muito esforço (por minha perseverança, mereço destaque no Guiness Book - até que outra bata meu recorde).

Talvez para poupar-me do mesmo fim, talvez por prazer apenas, talvez porque gostes (um pouco) de mim, te faças navegável aos meus cruzeiros turísticos por teu corpo - porto que já visitei muitas vezes. Mergulhar no teu olhar, mar aberto à tua alma, jamais: é privilégio que não me concedes.

Aliada a mim nessa conquista, tenho a minha escrita: ilógica, onírica, transgressora... Através dela, vim até aqui, diante de teus olhos, infringindo teus (des)mandamentos. Vim, sem treinamento algum, sem equipamento adequado, decidida a me lançar em tuas águas. Vim correr riscos, aventurar-me, com o firme propósito de criar raízes, ancorar, fazer parte de tua paisagem marinha, ser vizinha de anêmonas, algas, corais, restos mortais... Vim disposta a abdicar da condição humana, para ficar mais próxima do ser indízivel que tu és. Vim ser estrela-do-teu-mar, sereia, Iemanjá. E vim, para ficar. Sem pedir-te licença, faço das tuas profundezas, minha morada.

No meu texto, posso perder não só a noção do tempo, o equilíbrio, os sentidos: posso dar meu último suspiro, mergulhando nos teus olhos. Sou eu quem dito as regras e nada é proibido. Não há lacunas. Inexiste exceção. Dupla interpretação, não cabe. Náufraga da vida, minha ousada escrita me salva, possibilitando-me esta morte "blue". A doce morte, na cor que em outro contexto, me é negada.

Talvez não notes, mas sou uma parte tua agora. Mesclando azul e amarelo, decoro teu mar de dentro. Habito teu (des)conforto. Em ti, me encontro. Por ti, escrevo. Para ti, entrego amor eterno. Amor que componho em verso e prosa. Amor, melhor parte da minha história. Amor que é verde: vicejante em qualquer época do ano, até mesmo no inverno. Mesmo que não queiras, ele brota, regenera, renasce das cinzas, triunfa nas intempéries. E é teu, infinitamente teu, para quando quiseres.

Mesmo não permitindo, vim ao meu destino certo. Vi teus segredos. Venci meus medos: aqueles, um pouco teus. Talvez.


Valéria Tarelho


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