SINFONIA DA VIDA EM SOL MAIOR
(Entrego-me)
Tereza da Praia.
Entrego-me ávida,
Corpo livre e solto,
Mar revolto,
A ti, vida!
Torna-me tua cativa.
Faze-me, na tua orquestra, a spalla.
Teu primeiro violino,
Tira de mim som cristalino
Que me cale a fala.
Transforma os gemidos em sonata.
Entrego-me a ti, vida.
Sou mulher atrevida.
Rege-me feito uma orquestra,
Com a emoção de um maestro
Dirigindo músicos numa sinfonia.
Não escondas a alegria!
Leva-me longe da nostalgia.
Entrego-me a ti, vida.
Feito passista na avenida.
Toca-me como a um violoncelo,
Guardada entre as tuas pernas
Arranca-me sussurros e anelos,
Iguais a melodias eternas
Que, da lida, suavizam os flagelos.
Entrego-me a ti, vida.
Da maçã, quero uma mordida.
Toca-me como a um violino
Encostada a teu rosto ferino.
Afaga-me com teu arco, felino.
Tira de mim sons solenes
Semelhantes a uma viola em desatino.
Do prazer, murmúrios perenes.
Entrego-me a ti, vida.
Navego nas águas de cupido.
Faze-me bater forte o meu coração
Como os instrumentos de percussão
No Bolero de Ravel.
Deixa-me sentir o impossível.
Comece com muita suavidade
E num movimento majestoso incrível
Solta todas as feras, com sensualidade.
Entrego-me a ti, vida,
Na embriaguez do amor, aturdida.
Mostra-me toda tua devassidão
Amando sob os lençóis e no chão
Toca-me como se fosse uma flauta
Acaricia-me com tua boca incauta.
Tateia-me o corpo com os dedos
Desvenda, do prazer, meus segredos.
Faze-me soar com serenidade
E acordar toda a cidade.
Entrego-me a ti, vida.
Toca-me, rege-me, me guia.
Mostra-me a tua melodia
Ensina-me a encontrar
No teu prazer, a harmonia.
Sente o meu gozo Louco,
Escuta os meus gritos roucos
Abro minhas portas,
Derramo-me sem comportas.
Em gemidos calmos
Brotados do fundo da alma.
Pra ti me desnudo
Com lua ou sem lua
Entrego-me, sou tua.
Tereza da Praia
Série: Vadiação da Alma Indecente
(inspirado no poema Entrega-te de José Geraldo Martinez)
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