O SENHOR DITADOR
Poema de Antonio Miranda
Urubus voam sobre a mesa do banquete
enquanto cantam os cofres escancarados
—letras obscenas, sem nenhum pudor!!!
Biscoitos gordos, garfos ameaçadores,
os sofás tremem como pudins alucinados.
Sem parcimônia, os graves convidados
ouvem discursos e acenam para as fotos:
assessores, meretrizes, redatores de releases,
os cães farejam, interpretando textos cifrados
sobre causas impossíveis, enganosas, excessivas.
O Presidente peida. Sorri. Suspenso no ar,
batendo asas. Aplausos. Hinos, declarações.
Só a bandeira sente o cheiro, em segredo
—o medo espreita. Sinos, congratulações.
Chácara Irecê, 7 out. 2006.
|