SORRIO PARA MEU RIO
Da chã planície, em que me encontro,
Eu te avisto, rio de minha aldeia.
Rio que corre bonito, sem desencontro.
Não aceites como teu o que em ti lançam
Regurgite! Não aceites peias
Não te vejas dejeto. És a corredeira!
És água limpa, e transparente,
Não te enlameias.
Água que me invade,
Que me lava, adstringente.
Eu sou a que veio da tempestade.
A flor de maio que nasceu em tua margem
Entre tantas belas flores:
Rosas, sempre vivas, jasmins, violetas.
Frondosas árvores, cheias de coragem,
Que já plantaram raízes em seu coração.
Eu simples, singela, de outro planeta.
Rio... Caminho sem chão!
Sorrio para meu rio
Que tem seus fortes humores,
Suaves cores e doce sabores.
Que corre impávido para o mar.
Contorna obstáculos,
Desce por precipícios, fazendo espetáculo.
Agita-se, transborda do leito.
Alarga, arrasta o que está em sua volta.
Dizem-te violento, pela tua revolta.
Não reparam a violência das margens que, sem respeito,
te oprimem com seus preceitos.
Rio de minha aldeia,
De minhas esquecidas vidas, candeia.
Tu és cachoeira, em queda livre, descendo a serra.
Tu és corredeira transparente, rasgando a terra,
Correndo pelos montes,
Cortando os horizontes,
Tu és remanso, deslizando lento pela planície.;
Percorrendo, do campo, a superfície.
E eu me sento a tua margem,
Bebo-te, em doce linguagem,
Mergulho em tua água, quase miragem.
E, quem nasceu como eu, flor do mato
Com os pés no regato, alma selvagem,
Se deixa levar...
Tereza da Praia
Série: Elas passarão, eu passarinho
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