Atenção: Para ser lido de olhos abertos.
Diz o ditado que em terra de cego quem tem um olho é rei. São mesmo infelizes alguns ditados. Pois também não é verdade que somos todos cegos diante daquilo que não queremos ver? Quem não conhece a história de Copérnico, ou Galileu? Mestres que viveram cercados por cegos. Perseguidos, obrigados a embaçar o que só eles viam, sob risco de sofrerem severas punições dos seus próprios súditos.
A cegueira é, para todo cego, o seu maior bem. Ela representa tudo em que acredita. Valores, crenças, certezas, medos. Ai daquelas pessoas que ousam enxergar algo que exceda esses limites. Para elas estão reservadas as fogueiras, as cruzes, as forcas, os preconceitos, os rótulos... Mas claro que nada disso pode ser declarado. É um comportamento coletivo, embora tácito.
E de olhos fechados, nossa horda de cegos caminha sem direção. Quando alguém consegue ver algo novo, é logo repelido pelos demais. Dizem que aquilo é pequeno e que é melhor se preocupar com algo maior. Mas se ainda assim o pretenso rei não se der por satisfeito, invertem a afirmação e o que era pequeno passa a ser grande demais para merecer crédito. Não há escrúpulo, razão ou lógica. Apenas negação.
Daqui, do alto de minha cegueira, fico imaginando se falta muito para eu abrir os olhos. Tateio em várias direções e não consigo definir quão cego ainda estou. Vez por outra parece que distingo um ponto, mas as vozes contrárias são tão intensas que não ouso acreditar ser possível. De qualquer maneira, mais que buscar em desespero pontos ou retas, tenho procurado me manter atento a tudo aquilo que me parece novo. E ao invés de dizer não, tenho dito pois não, prossiga, fale.
Não sei se isso já é um ponto, mas tenho certeza se tratar de um caminho. |