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cronicas-->SANTOS -- 25/02/2004 - 14:05 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Viemos da Bahia no finzinho da década de cinquenta. Meu pai logo percebeu que na capital paulista o jogo seria mais difícil, por isso nós quatro resolvemos seguir rumo ao interior.
Nossa família sempre foi composta por quatro pessoas: meu pai que era pedreiro, minha mãe, coitadinha, do lar, minha irmã que tinha um pequenino defeito congênito que lhe atribuiu a condição de oligofrênica e eu, servente, que tinha a função de ajudar papai nas obras.
Minha irmãzinha babava muito e se arrastava pelo chão, de cimento, tingido com aquele corante chamado "vermelhão". Ela não pronunciava as palavras de forma correta. Não tinha manifestações lógicas ou racionais. Era impulsiva e gostava dum moleque residente numa casa vizinha. Quando aquele tal vinha xeretar em nosso lar, ela ficava toda agitada. Sua saliva escorria pelo queixo e lambuzava as vestes.
Eu sinceramente não gostava daquele caipira. Achava muito esnobe e arrogante. Tinha boa aparência. Seu pai, se não me falha a memória, era professor. Sua mãe irritável com facilidade. Numa ocasião depois que notei suas reações fisionómicas ao ver minha irmã eu lhe disse que ele ficaria igual a ela.
Eu gostava de um outro caria que residia um pouquinho mais longe. Tinha umas irmãs bonitas e seu pai era, como direi, "maquinista" de bonde, da linha que ligava a região central da cidade com o bairro periférico no setor norte.
Quando esse meu amigo, de quem eu gostava, chagava ali, em nosso humilde lar, minha mãe logo ficava contente e feliz. Conversávamos bastante e não eram raros os momentos em que nos reuníamos nas tardinhas para contarmos historinhas um ao outro.
Mas a relação ficava muito difícil quando aquele da empáfia chegava. Ele não falava muito. Gostava de ouvir. Nós cobrávamos um assunto e só com muito custo, o do orgulho dizia qualquer coisa, da qual logo nós dois ríamos.
Mas estávamos ficando adolescentes. Meu pai nas construções que contratava precisava cada vez mais de ajudantes. Eu fui ficando sem tempo para as reuniões de lero-lero.
Meu amiguinho, filho do "motorneiro" arrumou um emprego numa oficina mecànica, de modo que se extinguiram as confabulações ociosas.
Mas o filho do professor não trabalhava. Estava agora terminando o ginásio e ficava cada vez mais playboy. Lembra daqueles frescos que imitavam o Roberto Carlos? Então... Dava-me um ódio...
Mas numa certa ocasião surgiu-me uma oportunidade para fazermos uma excursão para Santos. Sairíamos a noitinha e, pela manhã estaríamos nas praias, comendo nosso franguinho enfarofado.
Minha mãe, quando lhe falei a novidade, me aconselhou a convidar o boy dando-me mais algumas instruções.
Bem, com tudo combinado, saímos os três da nossa esquina em direção ao ponto donde tomaríamos o ónibus. Estávamos alegres, felizes e contentes. Sussurrei ao meu colega preferido o plano que tinha em mente para desacreditar o chato professoral que tinha arroubos de sapiência.
Quando chegamos ao lado da igrejinha lá se encontrava o ónibus fechado à espera. Aproveitei e convidei os dois acompanhantes para irmos até o barzinho da esquina onde compraríamos um Martini.
Com a garrafa aberta nas mãos tomei o primeiro gole, no gargalo mesmo e, passei a bebida pros outros dois.
O boy professoral, com sua pose intelectualizada, fez onda para sorver a primeira dose. Mas não foi difícil. Depois de algum tempo estávamos já mais alegres e soltos.
Bom, o tempo foi passando e os demais viajores chegaram. Todos tomaram seus lugares e o motorista, fazendo o sinal da cruz, deu início à viagem.
Quando percebi que o gostosão já estava falando mole, aproveitei a oportunidade, em que a garrafa passou por minhas mãos e, lá coloquei um remédio que era usado por minha irmãzinha babenta.
O gostosão, logo depois da ingesta da terceira dose, de Martini "batizado", começou a falar alto. Todos no ónibus silenciaram. Ele aumentava cada vez mais o tom até quando começou a gritar. Aí alguém teve a idéia de lhe dizer que ficasse quieto em nome de Deus. Bem, depois disso o que se seguiu foi um discurso contra tudo e contra todos para a comoção geral.
Aproximei-me do louco e botando as mãos na sua boca mandei que ficasse quieto. Ele mordeu meus dedos e depois disso começou a cuspir no vidro da janela. As cusparadas foram sendo lançadas por mais de uma hora.
Quando chegamos à Santos já pela manhã, pude perceber o quanto envergonhado se achava o imbecil. Ríamos de sua idiotice e ignorància.
Quando voltamos para nossa cidade, comentei com as irmãs bonitas do meu colega preferido toda a cagada que aquele vizinho burro havia feito. Narrei tintim por tintim toda a vergonha que nos fez passar.
Depois disso tudo nos mudamos e não soubemos mais daqueles chatos. Soube que seu pai tivera um ataque cardíaco, na repartição onde trabalhava. Soube também que aquele playboy gostosão que amava Roberto Carlos e que era o preferido, pelas gatinhas do trecho, havia sido internado numa clínica psiquiátrica espírita.
Eu achei pouco. Era muito bem feito.
Hoje, meu amigo, minha amiga e senhoras donas de casa, eu com os meus cabelos já grisalhos, nas manhãs dos dias longos e ociosos, que me proporcionaram a aposentadoria, procuro, nas praças do meu bairro, a tranquilidade pro meu coração.


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