LUTA INTRANSFERÍVEL
Estive no posto de saúde e reparei nas mulheres solitárias.No centro retangular do posto há uma espécie de praça.Lá fiquei num banco a observar gestantes que esperavam cada qual a vez do atendimento.
Pus-me a refletir o quanto há de solidão na imagem dessas mulheres.
Solidão e desprendimento; inventoras de caminhos, farejadoras de rumos.
Mulheres sem acompanhantes, sem a presença masculina ao lado.
A partir do momento em que a mulher toma ciência da sua gravidez, parte para a luta mais pessoal, intransferível, a mais intensa, mais profundamente solitária.
Aprendi com o mestre tempo que a generização conduz ao erro, portanto, é claro que há homens que acompanham suas mulheres, transformando-as em parceiras, se auto gestando, partilhando, com o companheirismo, a gestação.
Mas, a maioria das fêmeas constrói a própria estrada com a matéria prima chamada solidão.
Vão ao posto, se preocupam com todos os detalhes, enfim, preparam com zelo, com cuidado sem medidas, a vida.
Há uma impressionante distancia entre a vida que nasceu e a sua formação adulta, pois milhões de gestos, palavras e pensamentos, pouco a pouco edificam o esquecimento do significado mulher, a falta de entendimento, de compreensão.
Aprendi que quando o futuro é tarde, quando não pode mais ser içado, o choro é sempre pela vida não vivida, por não ter estado ao lado, não ter sido acompanhante, não ter sido pãe, a essência do pai.
Oito de março longe está de ser um dia de reflexão: a deformação da consciência, a trivialização do pensamento em nossos dias, a rotina brutal, criam o vácuo que só reforça o esquecimento. Mas este ainda será um dia de pleno significado!Talvez esteja apenas em gestação nas mentes transparentes dos que ousam pensar.Enquanto isso, repare nas mulheres gestantes.
Marciano Vasques
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