A ventania em minhas mãos adormeciam meus dedos longos. As imagens que escondiam detalhes pitorescos e misteriosos elementais (quem sabe?), à espera de uma descoberta, um toque, o alavancar de uma maldição...
As rodas do carro, giravam anti-horário pelo radial metálico, e dava impressão de flutuar naquele asfalto cujo horizonte se perdia em um ponto único, numa reta sem fim, sem expectativas de destino; apenas o vento e a resistência do veículo importavam naquele cenário inóspito. O ruído aveludado dos pneus no asfalto, distraiam as bolas avermelhadas que machucavam meus olhos, efeito do calor intenso.
Ao vislumbrar uma árvore frondosa, que com certeza servira-me de abrigo àquele Sol escaldante, estacionei e rapidamente abri a porta do carro para que pudesse melhor sentir o ambiente e livrar-me da sensação de clausura que já me incomodava.
Depois de examinar com certa minúcia os arredores daquele tronco centenário que guardava inúmeros buracos e tocas, além de lindas bromélias em suas forquilhas mais altas, estiquei uma toalha de banho ainda úmida pelo banho de cachoeira que eu tinha tomado quilômetros atrás, e deitei-me e acabei adormecendo.
Num susto sentei-me com os olhos arregalados, pensando quanto tempo eu havia perdido naquela sombra, e calculava a dificuldade em encontrar uma pousada disponível em alguma cidade próxima dali. Olhei à volta e percebi uma flor branca (que à mim era Margarida), e sem saber porquê meus olhos se encheram d’água. Fiquei ali sentada, como que hipnotizada pela bela e frágil florzinha que se erguia destemida e vaidosa ante minha admiração.
Alguns minutos se passaram e fui desperta por um riso contido de uma menina que corria em volta de meu carro, e tentava descobrir onde estava escondido o filhote malhado da gata percebi estar deitada em minha toalha. Absolutamente confusa, levantei-me sem muitos movimentos bruscos, e encostei-me calada no tronco que se fazia macio e aconchegante. Novamente adormeci.
Acordei com uma nesga de Sol, à incomodar-me. Puxei os lençóis e acomodei-me no travesseiro, estava em minha cama.
Desse dia em diante, todas as noites, passaram a libertar-me das neuroses espinhentas dos problemas e as estradas me levavam para as lindas margaridas e crianças sorridentes que me faziam adormecer tranqüila e docemente. Quantos sonhos ainda percorrerão minhas estradas ensolaradas?