Itanháem, 22 de dezembro de 2002.
X, minha amiga X, que bom poder me corresponder com você novamente. O que podemos conversar, ou o que eu posso monologar com você? Escrever por exemplo que sinto muita saudade, que as lembranças que sinto já não passam de ilusões criadas por mim, e que necessitaria de novas para poder criar novas? Isto pode se dizer que não é o correto a ser feito, e que ao invés de criar novas ilusões e sonhar com elas, deveria te trazer para perto de mim, para que você crie novas ilusões que me façam esquecer esquece-la. Mas isso, digamos que já ocorreu e continua a ocorrer, e seria esta uma coisa que provavelmente não iria dar certo, pois eu poderia sentir outro tipo de saudade.
Quero te encontrar, te ver, quero você. Não me diga não, por favor, me de mais uma chance. É obsessão? Já te escrevi que sim, mas sinto que você sente medo de mim, de minhas reações, o que elas podem te causar. Para falar a verdade, eu também não sei quais serão minhas reações ao te ver.
Você pode estar pensando que desde quando te conheci, não conheci, não gostei e nem fiquei obcecado por outra mulher, outra que me fizesse te esquecer. Digo a você que houve outras mulheres, mas sinto o mesmo por elas, e não consigo esquece-las. Tem períodos em que nem me lembro tanto de você, nem das outras, e há outros períodos em que não me lembro de nenhuma e sim de uma que me chamou a atenção na rua, e que no outro dia nem me lembro mais. Mas porque isso, porque sinto saudades das quais preciso renovar? Você com seu medo, nojo ou expectativas criadas, não quer experimentar novas emoções. Eu poderia chegar a sua porta e querer te ver, mas você me negaria sua presença, pedindo a outra pessoa que eu fosse embora. Você pode ver que também crio expectativas, isso para poder assim me iludir também.
Bom, mas chega disso, quero tentar escrever sobre outra coisa, não se sei vou conseguir. Passados dois anos sem nos encontrarmos, você deve estar muito diferente daquela menina de 16 anos que conheci em 1999. Bem, não era bem uma menina, e sim uma garota em corpo de mulher, hoje com 19 anos (na época que escrevi, hoje esta com 20 anos). Não sei e nem imagino como você deve estar, talvez mais bela, mas apesar disso continua com alguns pensamentos de quando te conheci, caso contrário, talvez até viesse a manter uma amizade, um contato.
Talvez eu esteja criando algo sobre você que não seja verdadeiro. Por exemplo, quem em sã consciência escreveria tantas cartas a uma pessoa que se quer responde as mesmas? Quem ficaria tanto tempo recebendo não? Quem gosta de sofrer e perder? Mas, mais uma pergunta, porque eu faço isso? Bom, já devo ter respondido, mas a reposta mesmo assim é, gosto de te escrever, de poder te mostrar com minhas cartas os meus erros ou acertos, para que você possa julgar se tenho o seu merecimento. Na minha opinião já tenho passado tanto tempo dos ocorridos, mas em sua opinião parece até agora não te convenci, e nem iria. Você já pensou se fosse o contrário, se você tivesse me escrevendo insistentemente e eu nem lembrasse que você existe? Bem, essa é uma hipótese ridícula, pois não faria isso, e se o fizesse ficaria na mesma situação que eu, seria taxada de louca por mim, suas amigas e amigos. Você não acha isso, então tente escrever uma carta para alguém que goste (uma observação, escreva algo picante e grosseiro (vulgar como escreveu) a qual te chame a atenção), que já conheceu, mas trocaram apenas algumas palavras, e que a única coisa que sabe sobre ele e o endereço. Faça isso e veja como vai ser taxada por ele. Provavelmente ele ira gostar, mas você ficara marcada e achara que você e outra pessoa, a qual certamente não é. Desistiria caso ele te viesse escrever vulgaridades também, ou aproveitaria a chance e se arrependeria depois, caso ele quisesse te usar e te taxar? Bom, isso vai do interesse que ambos sentem, há sempre uma troca, e se isso não ocorrer não adianta, sempre um vai correr mais e acabara se prejudicando (o mais fraco).
Ao te conhecer e ver pela primeira vez não consegui pensar em outra pessoa, passando desde ali a ser meu objeto de adoração. Ao se distanciar de mim, criou uma barreira entre nós, mas isso não impediu que te olhasse e desejasse, fazendo com que criasse falsas ilusões sobre você, as quais me acompanham até hoje.
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