Em tempos remotos, na Babilônia, os homens quiseram construir uma torre, uma torre tão alta que chegasse aos céus.
Vários homens foram contratados para a construção: milhares de pedreiros, engenheiros, matemáticos, todos os tipos de gente.
A construção ia de vento em popa sob os olhos do rei , satisfeito em ver seu projeto de magnificência e domínio se tornar realidade. Os sentimentos da população se confundiam entre espanto pelo tamanho da torre e adoração ao poderoso rei, sentado confortavelmente em seu trono de ouro, se sentindo um deus, infalível, invulnerável.
Mas eis que um dia, Deus, em seu poder universal, desce à Terra e conhece a obra, grandiosa e imponente, construída pelo rei-deus da Babilônia.
Deus em sua sabedoria, com um raio de justiça, destrói a torre e faz com que nenhum homem entenda o que o outro diz.
Uma confusão se alastrou; o rei olhava seu império ruir com a expressão atônita; o povo se dispersa pela terra, cada qual com sua linguagem. Ninguém se entendia e alguns brigavam, outros iam ao desespero, enlouquecidos pela visão que tiveram.
Século XX
Um mundo já castigado por pestes, guerras e maldade, assiste ao surgimento de um império, que se diz cristão e prega a democracia e a paz.
Todo o mundo, exceto alguns rebeldes vermelhos, é subjugado a esse império, dependendo de todas as formas da bandeira branca, vermelha e azul para garantir sua segurança e estabilidade.
Em meados da década de 70, no centro de uma disputa maquiada entre os dois pólos, o capitalista bonzinho, e o comunista mau, surgem homens com um projeto: construir uma, ou melhor, duas torres de 470 metros de altura.
Milhares de homens foram contratados para a construção: engenheiros, arquitetos, matemáticos, operários, pedreiros e tudo mais.
A construção ia de vento em popa, sob os olhos do imperador, gordo e farto sob seu terno empedernido, observando seu símbolo de domínio se erguer.
E as torres ficaram prontas, dois símbolos do poder dos ocidentais bonzinhos, detentores da força mundial e do poder econômico, sentados confortavelmente em suas poltronas de ouro, assistindo pela TV, à sua supremacia abastada e eterna...
Anos se passaram, e depois de guerras, ameaças, palavras vãs e ícones destruídos, o conflito entre os cristãos construtores de bombas atômicas acabou, e até o fantasma vermelho que assombrava o ocidente, se ajoelhou aos pés da grande e feliz América.
O novo século veio, e um novo imperador subiu ao trono, de modo conturbado, mas subiu. Um homem radical, com idéias além do comum, um homem que queria a guerra nas estrelas, o isolacionismo econômico, e a América para os americanos, pretendendo assim manter-se sentado em seu trono, olhando com a barriga cheia, suas duas torres de xadrez, sempre prontas a mostrar ao adversário, que a América era invencível.
Mas eis que num dia de verão, a grande e gorda América amanheceu e foi obrigada a se levantar da sua fofa poltrona, por horror, foi obrigada a derrubar seu prato de bacon, por espanto.
Suas duas torres já não haviam mais, o que havia sim, eram escombros, fumaça e sangue.
O que se viu foi o pânico nas expressões atordoadas dos americanos, por saber que não eram invencíveis, invulneráveis, e por saber, que sua torre de Babel tivera o mesmo destino da dos Babilônicos.
O que se viu, foi o imperador assistir apavorado, o seu império desmoronar, e ainda, com uma expressão débil e assustada no rosto, vir à público anunciar, que a América cristã, que prega os ensinamentos de dar a outra face, agora usará a lei do olho por olho dente por dente, criada na Babilônia.
E agora nenhum homem se entende com o outro, assim como em Babel, castigada por querer ir longe demais, e cada americano é um guerreiro assírio, liderado por seu Assurbanipal Bush, que vai ter vingança a qualquer custo.
E a lição que devemos tirar disto é que não devemos tentar erguer impérios celestiais, mas sim, elevar o pensamento aos céus e tentar ficar um pouco mais perto de Deus.
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