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Artigos-->Crônica dos escombros -- 24/09/2002 - 10:45 (Leonardo Almeida Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Derrubaram torres em Nova York. Neste mesmo tempo de escombros e aço retorcido, algumas mulheres na África choram seus maridos e filhos e antevêem seu futuro trágico na pele flácida e na diarréia que, antes dela, levaram seus irmãos para o mesmo lugar em que cinco mil novaiorquinos das torres se encontram: a terra, o mistério, o insondável. Piegas? Toda morte é piegas. Onde está a necessidade de se chorar as torres americanas? Na covardia do terror? Na impotência das vítimas? Na quebra da propriedade privada? Onde? Será que devemos mesmo vestir branco e sair às ruas, velas brancas acesas, chorando os bombeiros e o capelão novaiorquinos que sucubiram com as arrogantes gêmeas? Quem vestirá branco pelas crianças palestinas que se vão a cada dia? E pela população de Bagdá, quem chorará? E àquelas que morrem de fome e doenças no sertão da Paraíba, será que alguém acenderá velas por elas? Quem se dispõe a chorar por essas anônimas criaturas vítimas de um tipo cruel de terrorismo, aquele sem rosto, sem bomba, sem seqüestro aparente, aquele escondido sob a capa da democracia, terrorismo asséptico, de mãos limpas, da distribuição de renda, da economia. Alguém se lembra do rapaz assassinado em Veneza durante o grupo dos mais ricos? Um baderneiro, dirão em inglês ou qualquer outra língua desgraçada do capital. Sim, é muito não enchendo nossas cabeças na lavagem diária da CNN, um discurso prepotente, de asquerosa megalomania. Esse mesmo grupo que agora se une e espera uma reação americana que os perpetue como mais ricos talvez diga que elas, as vítimas anônimas espalhadas pelo mundo, muito distante de Mannhatan, morrem num outro contexto, não foram covardemente atacadas por traiçoeiros terroristas. Sim, é verdade, ninguém apontou contra elas as próprias armas. No máximo fizeram com que confiassem na solidariedade humana, na bondade inerente à espécie, e elas se foram, famintas e doentes, acreditando mesmo que o mundo as salvaria. Depois de se apropriarem de seus recursos, de sugarem sua economia, de submeterem seus governos às regras de proteção do capital, esses senhores de WallStreet tecem seus comentários preconceituosos sobre uma suposta preguiça atávica dos latinos, dos miseráveis. Para eles, a miséria é sinônimo de latinoamérica, de África e Ásia. Esses senhores são terroristas de terno, gravata e dólares. Então, no que diferem ou se aproximam os mortos de ambos os lados? Será que aqueles milhares de desempregados, humilhados, endividados, maltrapilhos e miseráveis que habitam o planeta, de uma certa forma, não são vítimas de um terrorismo mais profundo e covarde? Um terrorismo que se oculta na falácia da democracia, sob especulação financeira - e naquelas torres, em metástase, dezenas de corretoras - e imperialismo? Ah, talvez essas palavras sejam cafonas, demodés. Com certeza , dirão os filhos da puta de ternos e planos de seguro, detrás de seus talões de cheques e casas próprias, dinheiro podre e caixas dois, que essas palavras são parte de um vocabulário jurássico. Ora, já os vejo espargindo sua gosma de asquerosa sociologia e economia política, isso é passado, os tempos são outros. Esses jargões “imperialismo”, “espoliação”, “solidariedade”, “compromisso” são típicos de esquerda nhem-nhem-nhem, que não contribui para o progresso do país, que não apresentam propostas, que têm telhados de vidro. Isso não procede. O mercado exige de nós uma postura mais realista. Vai me dizer que foram os americanos os responsáveis pela AIDS na África? que são eles, os americanos, os responsáveis pela seca no nordeste, pelos latifúndios no Brasil, pelo desemprego na Argentina, pela explosão de violência em Bogotá? Tenha a santa paciência. Desde Tatcher sabemos que o mundo necessita de conexões comerciais, mercados comuns, livre fluxo de capitais e produtos. Isso sim é a resposta para essa situação.. Sim, eu os vejo com esse velho discurso, tentando me dizer que somos miseráveis por não estarmos atrelados à Nova Ordem Econômica Mundial, que de nova não tem nada e de ordem é tudo, e que essa é a razão pela qual o Brasil ainda é esse paizinho de terceiro mundo. Têm me dito que nenhum país vive sozinho, não seja tolo, é preciso interligar nossos mercados. Esse é o mistério da fé. E ouço tocarem sinos dourados anunciando a redenção de nossas chagas na banca de camelôs, nas prateleiras de supermercados, nos balcões de exposição de produtos importados, nas lojas que brotam nas fronteiras, na derrubada de barreiras alfandegárias que propiciaram a aquisição de um baratíssimo rádio-despertador made-in-Taiwan, onde pequenos e subnutridos seres amarelos são esmagados costurando pares e pares de tênis de nome americano e chips para bonecas que serão montadas na China, onde seres de boca fechada e olhos vendados perdem suas vidas soldando placas-mãe que serão vendidas para empresas indianas que montarão computadores muito baratos, pelas mãos de morenos-shiva e morenos-vishnu que trabalharão horas e horas e horas para que, ao final massacrante de sua jornada, possam receber alguns trocados para comprar um Bic Mac e Coca light numa esquina de Calcutá, onde um outro moreno-sidharta estará carregando um compact disc pirateado numa gravadora de cds made-in-japan, sem saber que aquele cantor de um grupo de rock irlandês , blasé e superpop, defende o perdão da dívida de seu-dele-moreno-gautama país, mas ele está pouco ligando para isso, pois está atrasado para a passeata de apoio à luta dos americanos contra o terrorismo internacional e ainda precisará comprar velas brancas que foram feitas por negros sul-americanos de Salvador e embaladas em plástico da moderna indústria brasileira que sufoca, num simulacro do macro modelo de imperialismo americano, as economias de outros países morenos e sem esperança que tentam defender seu mercado de bananas ao custo de turbinas e patentes de remédios e, meu Deus, que falta faz um espelho que reflita a cara monstruosa da ideologia. Ainda vejo nas imagens geradas pela CNN que a fumaça que cobre Nova York aponta um espectro que ronda toda a cena, e ele está pedindo reação, retaliação, sangue, sacrifício. Nos rostos obesos e lacrimosos que vejo nos telejornais, por trás daqueles olhares azuis vitaminados e cristãos, tementes a Deus, um demônio pede vingança, corpos mutilados, redenção de sua humilhação pública. Que mais querem esses filhos da puta wasp, hipócritas e provincianos, que já não tenham feito ao planeta? Não basta terem detonado todo o planeta com suas indústrias, seus petroleiros, suas empresas, suas companhia de seguros e cigarros, suas madeireiras e siderúrgicas? Além de cagarem em nossos quintais, depositarem seu lixo em nossos gramados, cuspirem em nossas cabeças, e posarem de bons-moços da humanidade, capitães américa contra o mal do mundo e a favor do mundo livre, que mais querem esse putos? O mal do mundo somos nós? Ou acham eles que enganarão todos por todo o tempo? Sim, eles são os responsáveis por tamanha miséria no mundo, por mais que me digam o contrário. O seu dinheiro sujo é responsável pela queda de Alliende, pelos massacres na América Central, por Somoza, Baby e Papa Doc, Fulgêncio e similares, pela barbárie na África, pela arrogância Sionista e imolação de palestinos. Sim, são eles os grandes vilões deste planeta, e sinto profundamente pelas três mil vidas que se foram naquelas torres, mas o que chamam de atentado, aos meus olhos não passou de colheita. Isso mesmo, colheram o que têm plantado esses anos todos. Me dêem licença mas tenho um compromisso maior com as milhões de vidas que se foram - e que ainda se findarão - por obra e graça da América. Nosso choro é bem maior e duradouro.
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