AS HORAS
cláudia villela de andrade
Que elas passem debaixo da torneira fria, enquanto o cantor de banheiro se lava rapidamente. Enquanto a alma estrebucha de agonia. Aflita, sem caminho. Sem volta. Enquanto a morte mostrar o valor da vida e Woolf deixar de ser Virginia. Eu não vejo mais as horas desde que soube que o pó nosso de cada dia se mistura à terra. Sem privilégios, os minutos se deslocam diferentes um dos outros. Nem pedras pesam tanto.
Nenhum peso afoga tanto. Dentro de mim, apenas o meu tic tac.
AS HORAS
Elane Tomich
Se eu pusesse, no bolso do vestido, pedras e ao meio dia , ouvindo o silêncio mais absoluto à beira do rio, talvez entrasse nas águas profundas do rio Mucuri e caminhasse até que, líquida fosse e o lodo virasse areia .
Areia em multifacetados andares, andores e dores, onde me afunadaria em escuras águas e morreria entre dourados e lambaris
Aos olhos do ingazeiro, ponte entre a ópera e a alma do diamante que, de tanta decomposição, fez-se puro transmissor da luz mas, tornou-se duro e cortante.
Viraria mãe-dágua má, e não teria medo dos lobos que nem existiam em forma de cão, mas de homens-lobos, de olhares esquivos por entre as galhas do ingazeiro, furtivos, mas de anterior atuação de opereta, meio tragédia. Depende da idéia, que escolhe seu jeito de ver..
Nos muitos modos de amar, ao molde do meio- dia, ele me possuía, em dor, de ser criança e gostar. E carregar para todo o sempre, a transgressão de confundir paixão com amor, desequilibrar a balança da moral, transgredir por gosto e retroceder, culpando o caçador.
Presa fácil, vergonha presa na face.
Mas , nos muitos moldes de eternidade, escutaria para sempre o canto no bem -te-vi, paraíso sonhado, amenizador da dor do pecado de ter deixado!
Mais que Virgínia, desvirginada no corpo, jamais na emoção, que se conservou intacta até, empedrar-se, caminhado por séculos, do cristal ao diamante de intenso brilho, mas incapaz de amar.
Associei-me à fraternidade de um jogo de azar , chamado sedução.
Aos dez anos, a cambraia de linho, bordado com rosas em ponto martiz no meu imaculado, branco vestido, ficou para sempre colorido de matizes de vermelho e ocre.
Nua, na areia, pensava no amor , no relàmpago de prazer, na eternidade do medo. A fera que me devorava, à noite puxava uma ladainha à pureza da virgem- mãe e meus joelhos doíam do ralado, querendo mais chão, por penitência. Onde, entorpecida consciência, trazia a mim, uma dor quase morta, mas, que se desperta seria,decerto, dragão.
Aí como eu quis não confundir o ralado do joelhos e cotovelos do que haveria de ser da sequência impura, ao lúdico que depura.
Meu prazer é cheio de medos. Mas porque amo tanto borboletas e rosas?
E este medo esquisito do nada? É o lobo que habita Virgínia parando as horas ou a mais valia dos ponteiros?
Por isto escrevo poesias, que sem enredo, detonam da minha história, este confesso segredo!
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