Estreou dia 2 de agosto nos Estados Unidos, e em 20 de setembro no Brasil, o filme Sinais (Signs). Dirigido pelo norte-americano de origem hindu M. Night Shyamalan, o mesmo diretor de Sexto Sentido e Corpo Fechado, é estrelado por Mel Gibson, fazendo um padre que abandonou a batina, após a morte da mulher num acidente. Ele vive numa fazenda com o casal de filhos e o irmão, ex-jogador de beisebol.
Um belo dia, surgem os sinais do título. A plantação de milho, localizada a poucos metros da casa, exibe vários círculos e marcas. Sinais iguais surgem pelo mundo: os alienígenas voltam a atacar. Existem os sinais, portanto, e eles vão alimentar as especulações dos que vivem procurando a evidência de contatos com seres de outros planetas. Naturalmente, são do mal.
O brasileiro vai sentir a auto-estima na estratosfera: um extraterrestre aparece numa festa infantil em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Shyamalan conta que “a cena foi filmada na Filadélfia e não consegui o número que queria de figurantes brasileiros, então coloquei um casal português. Dá para perceber? Os brasileiros ficavam rindo toda vez que os portugueses falavam...”
Fantasias delirantes
No mesmo mês do lançamento do filme nos EUA, um círculo de 6 metros foi criado em 4 horas por John Lundberg, Rod Dickinson e Wil Russell em Poynings, West Sussex, reproduzindo o símbolo de uma equipe de beisebol. “Segundo algumas reportagens, nós utilizamos métodos secretos para desenhar o círculo. Na verdade, usamos os mesmos métodos usados pelos lavradores, com estacas para marcar áreas e equipamentos para amassar o trigo, seguindo o diagrama”, desmistificou Lundberg.
Os círculos de plantações são desenhos muitas vezes intrincados e complexos, que apareceram primeiramente nos campos da Inglaterra. Em 1991, Doug Bower e Dave Chorley (já falecido) admitiram que desenharam aproximadamente 250 desses círculos, desde 1978. Eles usavam tábua suspensa em cordas para amassar a plantação, e para conseguir o formato circular, esticavam uma das cordas a partir de uma estaca. Vários segmentos da população creditaram os desenhos a extraterrestres que estavam enviando mensagens a nós, pobres terráqueos. As interpretações delirantes chegaram a ponto de insinuar que os alienígenas estavam usando antigos símbolos sumérios ou, ainda, numa abordagem mais “científica”, que os símbolos representavam o DNA dos seres de outros planetas! Houve mesmo quem se engajasse em pesquisas extenuantes e teorizasse sobre os círculos. Eram os “cerealogistas” (de Ceres, o deus romano da agricultura e fertilidade).
Suínos excitados
Também no longínquo século XIII apareceram círculos em fazendas. Sem a sofisticação pseudocientífica de tempos mais recentes, os terráqueos dos anos 1200 atribuíram sua feitura a Satã, o eterno adversário de Deus. Talvez influenciados por Erich von Däniken, autor de “Eram os deuses astronautas?”, no final do século passado a explicação preferencial para os círculos tenha recaído sobre os ETs.
Matt Ridley, um biologista, estudou também esse assunto e conta que “durante todo o início da década de 90 os meios de comunicação continuaram a afirmar ser impossível que todos os círculos em plantações fossem feitos por humanos”. A tese dos extraterrestres, advogada pelo filme, não é a única fantasia sobre o assunto. Os círculos também já foram atribuídos a movimentos eólicos, tornados, relâmpagos, campos de força e até porcos-espinhos no cio.
Após o lançamento do filme, várias entrevistas foram divulgadas nos EUA com pessoas que viram os tais sinais em fazendas e, é claro, buscaram inúmeras explicações para eles, descartando, como supérflua, a mais simples: a ação humana. Os jornais não se deram ao trabalho de procurar céticos ou cientistas para opinar sobre o acontecimento.
Há uma opção preferencial de creditar determinados acontecimentos a extraterrestres, ao sobrenatural ou ao extraordinário. Por vezes, com mais sofisticação. Por vezes, grotescamente. Do ET de Varginha, em Minas, à imagem da santa na janela, em São Paulo, somente depois de descartada toda e qualquer paranormalidade é que se busca uma explicação razoável. Quando se busca...
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