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Cronicas-->Dra Nise da Silveira. -- 10/03/2004 - 22:53 (Elane Tomich) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LENDO O RESUMO DA BIOGRAFIA DA DRA NISE DA SILVEIRA,(FEITA UMA MOÇA QUE ESTÁ PESQUISANDO O TRABALHO DA MARAVILHOSA ESTUDIOSA DOS FENÓMENOS PSíQUICOS), MUITOS FATOS VIERAM-ME À TONA MANDO-LHES ESTA PEQUENA CRÓNICA, POIS TIVE O PRAZER DE CONHECÊ-LA E COM ELA CONVIVER INTENSAMENTE POR MUITOS DIAS: A DRA NISE É UM TIPO INESQUECíVEL!






Uma Mulher Inesquecível
Elane Tomich


Conheci Dra Nise, em 1996. Ainda estava fazendo meu doutorado em São Paulo, quando resolvi ir até o Rio para conhecer o Museu das Imagens do Inconsciente. Eu estava no hotel, vendo um documentário , quando resolvi ir, era uma pend~encia na minha vida, de seis meses, que marteleva-me a conscência.Telefonei para minha ex-aluna e monitora, Thaís K. em Curitiba, pois sabia do seu interesse pela área.

Meu contato era a Marion, professora do departamento de história da UFPR e que , estava à disposição do Instituto Airton Senna. Marion queria uma avaliação do Museu, para ver se o Instituto encamparia a restauração, preservação e cervo do Museu das Imagens do Inconsciente, naquela época em estado lamentável.

Um belíssimo conjunto de arte-ciência, onde a Dra Nise provava por a+b, que o inconsciente coletivo reproduz os mesmos mitos em casos de doenças semelhantes, configurados principalmente na literatura greco - romana.

Acabei chegando à sua casa através do rapaz de sua confiança que trabalhava no Hospital D. Pedro II, em Engenho de Dentro. Cheguei á sua casa em Botafogo, antes do almoço. Sua enfermeira, disse-me que fosse com jeitinho, que a Dra Nise estava um "pouquinho" irritada.

Assim que me sentei, constrangida diante de pessoa tão importante disse-lhe:
__ Dra Nise, gostaria de fazer-lhe umas perguntas, posso?
Ao que ela repondeu, "depende, se você me fizer perguntas inteligentes, sim, senão, vá ler o que eu escrevi."
Olhei para aquela figurinha frágil, de olhos brilhantes, na cadeira de rodas, enchi-me de coragem e perguntei:
___ Quais as maiores conclusões sobre a esquizofrenia que o museu do inconsciente fez a senhora chegar?
Ao que a Dra Nise respondeu que era melhor ir parando por ali mesmo, estudar um pouco mais e voltar para Curitiba, pois minha pergunta era uma das mais idiotas que já ouvira:
-----Onde já se viu Museu do Inconsciente , se este é abstrato?-- Disse-me __O Museu é das Imagens do Inconsciente.

Humilhada com um nó na garganta a fechar minha fala diante de uma aluna que me acompanhava e admirava, estava eu prestes a dar meia volta sobre o meu eixo de incompetência quando olhei para Thais minha acompanhante que de polonesa rosada havia se tornado rosa choque, os olhos azuis - vermelhos e sua elegante postura judáico-eslava, tremendo igual vara verde. Enchi -me de vazio, respirei fundo, voltei a fitar a Dra Nise e disse-lhe catando todos os ciscos de coragem do mundo, que por ventura pairassem na suspensão do pó:

_Dra Nise, a senhora sabe com que respeito entramos aqui e também com sua lucidez, sabe muito bem, na área da psicologia, o mito que representa para todos nós. Não é justo, não dar uma segunda chance para alguém, principalmente para quem veio de longe, como também, com todo respeito que lhe devo, não vou me deixar impressionar pelo seu estado de saúde e idade pois vejo que no fundinho a senhora está se divertindo. Seus olhos, Dra, estão apertados e a senhora não consegue disfarçar a ironia.
Ela deu uma gargalhada, abriu- me os braços, disse - me que eu era "das suas" .

Almoçamos juntas pois ela disse que não almoçaria sem a Thaís e eu. Fomos para o apartamento de cima onde ela me mostrou toda sua correspondência com o Jung, inédita e falou -me da sua preocupação com o desmembramento das obras do museu, especialmente quanto as obras de Remigío um segundo Van Gogh . Na seu apratamento, de uma simplicidade francisacana, apenas uma belíssima tela de Remígio na parede .A sala parecia iluminar-se pela maf gia do quadro, como em "Sonhos" de Kurosawa... Nunca lembro-me como se escreve.

O Masp havia se interessado por um terço das quase 4.000 telas guardadas no Hospital e o Museu de Frankfurt, interessara-se por todo o acervo.
O medo da Dra Nise, era que o desmembramento das obras, tirasse-lhes todo o valor científico,pois elas deveriam ser "lidas" , na sequência da evolução do processo de conscientização, ou não, de cada paciente e num método de análise comparativa entre todos eles. E também sua saída do Brasil, depois que ela se fosse.

Tenho até hoje, seu livro autografado, a lápis, sua letra trêmula e seus ditos ... "Deixe de ser preguiçosa e venha " suar" conosco no Rio de Janeiro."
Fiquei mais duas semanas no Rio.

Era época de uma enchente monstruosa e saindo do Hospital, certa noite às 22:00hs, andei com água pela cintura debaixo da tempestade. Acabei fazendo amigos nas redondezas e alguém me protegia, creio que o dono de uma casa de sinuca perto do Hospital, pois sempre havia algum "senhor da malandragem", por perto, afastando os outros. Fui várias vezes à Casa das Palmeiras e outras tantas vezes ao Hospital.

Todos os dias, passava na casa da Dra. Nise para conversarmos sobre os mais variados assuntos e foi com emoção que li o resumo de sua biografia, num dos grupos, pois ela é, seguramente para mim, um dos meus tipos inesquecíveis. Admiro-a em demasia!

Corri atrás de dinheiro, como ninguém , pois as obras deveriam ser restauradas e climatizadas , etc, etc, etc. O Instituto Airton Senna, abriu mão do projeto, O Instituto Herbert Levy ficou de ver mas não viu..
Porque em nosso país o cientista, o artista, tem de morrer
para ver sua obra reconhecida, na maioria das vezes?

Amiga de Olga Benário, Dra Nise foi presa na ditadura de Getúlio Vargas e em Memórias do Cárcere, Graciliano Ramos, por ela apaixonado, dedica-lhe quase uma capítulo inteiro.
Ela nunca mais saiu do meu coração... A grande e forte, delicada e humana, Dra Nise da Silveira.
Para quem citou seu nome,entre em contato comigo.Talvez seja ela a minha mestre, o anjo do qual tenho sentido saudades

Elane Tomich.





Dra.Nise da Silveira

Formada em medicina no ano 1926, Nise da Silveira começa a dedicar-se a psiquiatria. Ao ter contato com os métodos vigentes de tratamento: internação, os eletrochoques, a insulinoterapia e a lobotomia, revolta-se. Teria início uma verdadeira revolução.
Nise revolucionou o tratamento dados aos esquizofrênicos, criando a Casa das Palmeiras e o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Seu trabalho, pioneiro no Brasil, tornou obsoletos métodos de terapia terríveis como o eletrochoque e rompeu o isolamento em que viviam os doentes. Uma de suas inovações foi a introdução de animais como co-terapeutas, prática bastante utilizada hoje em dia em diversos países, que baseia-se no fato de que os seres humano criam mais facilmente um elo com um animal doméstico, do que com outro ser humano.

Nise percebeu e sentiu agudamente, o quanto o ambiente hospitalar conspirava contra o que ele deveria promover: a cura. Imbuída de profunda compaixão pela dor e fragilidade daquelas pessoas, movida pelo desejo de compreender o que acontecia no seu mundo interno e de investigar os misteriosos meandros da psique humana, Nise foi, com enorme disposição e paciência, adubando a sólida árvore que plantara.

Lidar com papel, com costura, dança, argila. Lidar com os sentimentos, a emoção, os medos e prazeres. Acima de tudo, lidar com o diferente. Essa foi a grande descoberta da doutora Nise. Seus métodos, admirados pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) -- em cujas idéias ela se baseou --, devolveram a humanidade a pessoas antes tratadas simplesmente como alienadas e esquecidas por médicos e familiares nos manicómios.
O trabalho de Nise foi desenvolvido por ela até o final de sua vida, quando estava presa a uma cadeira de rodas em consequência de uma fratura. Mesmo enfraquecida fisicamente, ela não deixou de se dedicar a seus doentes e à luta contra os métodos convencionais de tratamento.

Ela era brasileira, e possuía entre muitas qualidades, uma que acho, é o grande diferencial entre os que fazem acontecer e os que passam pela vida, é a paixão em estado puro. Ela era uma apaixonada pela profissão, pelo ser -humano e por seus pacientes.


"[...] o mundo interno do psicótico encerra insuspeitadas riquezas e as conserva mesmo depois de longos anos de doença, contrariando conceitos estabelecidos. E dentre as diversas atividades praticadas na nossa terapêutica ocupacional, aquelas que permitiam menos difícil acesso aos enigmáticos fenómenos internos eram desenho, pintura, modelagem, feitos livremente."

Nise da Silveira













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