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Cordel-->Cordel de fantasmas -- 28/01/2002 - 21:02 (José Mario Martínez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quero contar uma estória
que é verdadeira e vivida,
a estória de Zé das Notas,
cantador e cordelista.
Quando acabava a jornada,
na hora que o sol caía,
ia à beira da lagoa
procurando almas perdidas.

Certa vez ouviu uma voz
de mulher, adormecida.
A voz, que vinha da água,
"não te vires" lhe dizia.
"Tu também procuras almas
que já deixaram a vida?",
"Eu busco o que ando buscando,
inspiração nos enigmas".

"E por que são os espectros
- triste poeta - os que te inspiram?",
"É uma estória muito longa",
"Conta pra mim, se te animas".
E o Zé, tirando um folheto,
daqueles que ele escrevia
começõu a contar a triste
estória dum tal Zé Quincas.

Havia um velho coronel
que tinha uma linda filha
casada com um doutor
cuja família era rica.
Foi morrer o pai em calma
- a sucessão resolvida -
sem conhecer os seus netos
mas de consciência tranqüila.

Não sabia o proprietário
que existia um tal Zé Quincas
que era peão na sua fazenda
que nem toda sua família.
Zé Quincas, quando menino,
era amigo da sua filha;
brincavam nus na cachoeira,
se secavam com a brisa.

Quando fez quatorze anos
o Zé se mandou pra Olinda
querendo ver se sua sorte
na cidade grande vinga.
E cinco anos depois
- ao regressar - se aproxima
daquela com quem sonhava
nos seus tempos de menina.

"Zé Quincas, estou casada,
estou casada, Zé Quincas",
"Mas eu nada quero não,
só que te lembres que amiga
foste minha e que uma vez,
da velha preta escondida,
brincaste de me beijar
sem ficar arrependida".

"Eu somente quero, Branca,
(era o nome da menina)
que fales com teu marido.
Não tive sorte em Olinda
e ando buscando conchavo
- apenas casa e comida -
fazendo qualquer serviço
para malviver a vida".

Ah, que mal fizeste, Branca,
que mal fizeste Zé Quincas,
ficar tão perto de casa
naquelas tardes compridas!
O doutor tem afazeres
que do lar o distanciam
e não suspeita em que forma
o Zé te faz companhia.

Nem dura a felicidade
nem o destino não brinca,
assim são todas as coisas,
pouco engenho tem a vida.
Um dia chegou o marido
na hora que nunca vinha
e viu o que havia que ver
e enxergou o que não queria.

Os tiros mataram Branca
mas não acertaram Zé Quincas;
com a bala derradeira
o bom doutor se suicida.
Antes de morrer, a moça
pro seu amante dizia:
"Busca minh´alma nas águas,
faz amor com nossas rimas".

Virou-se o poeta pro rio,
para aquela que ali ouvia,
e ela disse: "Zé das Notas,
és, na verdade, Zé Quincas?"
"E tu, sereia", diz ele,
quem a paixão consumia
"És tu o fantasma que busco,
angustiado, noite e dia?"

Os dois disseram que sim
mas era tudo mentira.
O Zé Quincas é criação
do nosso Zé cordelista,
e a moça não era fantasma,
era a cabocla Tarsila.
Inda os encontra transando
o arranhar do novo dia.

J. M. Martínez

(A primeira parte deste cordel está inspirada num episódio dum filme indiano, que creio baseado num relato de R. Tagore. Não assisti ao final do episódio, mas acredito que não deve ser o que imaginei. Nunca se sabe.)




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