Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja.;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos.;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
Ricardo Reis - Odes De Ricardo Reis
ODE
Poema lírico de forma complexa e variável. Surgiu na Grécia Antiga, onde era cantado com acompanhamento musical. A ode caracteriza-se pelo tom elevado e sublime com que trata determinado assunto. As literaturas ocidentais modernas aproveitaram sobretudo, do ponto de vista da forma, a ode composta por três unidades estróficas, correspondentes, no desenvolvimento da ideia do poema, à estrofe, à antístrofe (cantada pelo coro, originalmente) e ao epodo (conclusão do poema). A ode comportava uma série de esquemas métricos e rítmicos, de acordo com os quais era classificada.
O poeta romano Horácio foi o modelo dos poetas do classicismo europeu. Na sua obra, incluem-se odes classificadas geralmente como cívicas (louvor de uma pessoa ou acontecimento público), pastoris (louvor dos encantos da vida campestre, ligadas ao bucolismo), privadas (dirigidas a pessoas do conhecimento pessoal do poeta, que aproveita para fazer reflexões de carácter moral) e anacreônticas (também conhecidas como amorosas ou báquicas, que exaltam o prazer dos sentidos). Em Portugal, as odes tiveram cultores destacados como António Ferreira e Sá de Miranda, no século XVI, e ainda, entre os escritores arcádicos, Correia Garção, Reis Quita e Cruz e Silva. Mais recentemente, a ode foi cultivada pelo heterónimo de Pessoa, Ricardo Reis, e, deixando de lado as características formais, mas mantendo o tom elevado e de exaltação, por António Botto e Miguel Torga.
Retirado da Enciclopédia Universal
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