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Contos-->Imagens -- 11/01/2001 - 16:56 (Eloá França) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Atravessar agora um parque onde flores diversas estabelecem imagens. Ipês roxos, amarelos, azuis. Meninas e meninos infiltrados em fantasias, impregnados de repetições. Repetem as graças, os esconderijos, as surpresas. Alguns. Outros não penetram a magia. Um entre eles com gritos exagerados de fascinação. Assusta os que não podem se contagiar. Faz-lhes olhar os adultos em busca de respaldo para um pouco de seriedade.

Sapatos delicados prendem os pés das meninas, seus impulsos. Obrigam-nas a pisar levemente, quase sem o direito de tocar o chão. A terra. A grama. Caminhos de cimento fazendo os contornos e trajetos. Um homem com uma maleta passando. Uma maleta marrom que ele segura pela alça quadrada. O fecho prateado reluzindo vezes nos olhos, vezes nos troncos, conforme os balanços, conforme os passos. As crianças olham.

Aquele menino exarcerbado olha. Até o homem se perder de vista. As brincadeiras se perderem. Os olhos procurarem outra coisa. Verem Lana. Esquecerem-na. Não há nada nela que... Cansados. Alguns recostam-se. Uma menina, a menorzinha, olha o menino, pisca os olhos, olha, pisca. Enamorada. Adormecerá em breve. Antes mesmo que partam. Será levada no colo. O menino a percebe. História de amor. O sorriso da menina.

Estava indo ao encontro de Marcos. Medo e vontade oscilando. Viver além da necessidade de amor. Seria alguém capaz, era apenas nela que isto sufocava? Faltara o que... para que fosse ânsia de... com alguns tentando dizer a ela que era impossível viver sem vínculos, sem reduzir as vontades, sem limites.

Os olhos molhados de apatia e ternura para com um mundo que se abre em contínuo ato de tocar. Dos livros serem a única lembrança de seu passado. Tocar Marcos no que fosse palpável tocar, tornando-se mais próxima dele por todos os laços que lhes faltaram, e não faltaram, por todos os sonhos possíveis em recantos, por todas as imagens do parque.

Pelos mundos mortos. Destruídos. E Marcos a fez saber disto, quando abriu a porta e a observou com os olhos grandes e não contidos, os cabelos por detrás do rosto para que pudesse mesmo vê-la: que não eram mundos mortos. Melancolia. Apego.

Marcos recortando papéis. Lana olhando. Um sempre a passar pelo outro nos atalhos. Teria ido pegar-lhe a mão. As felpas caindo, se amontoando pelo chão. Os olhos seguindo. E depois sempre haveria mais livros.

O estilo em que as coisas se davam entre eles. Insuflada, usurpada, corroborada para a vida. Saudade das apressadas correrias, todos a pegá-la, levá-la, trazê-la de volta. Infância. Esquecera o dia das mães. Datas. Vácuos. Marcos que lera todos os livros. Linguagem. E hoje nenhuma gritaria na vizinhança. Adormeceu enquanto Marcos continuou a cortar papéis.

Sonhava. As crianças se mantinham sobre a água enquanto as mulheres se afogavam para mantê-las na superfície. Se afogavam sofridas. Mas iriam sobreviver. Era um pesadelo. Ondas. Acordou e adormeceu novamente. Agora era apenas uma mulher e uma criança. Não havia mais ondas. A água não se mexia. Nisto havia perigo - não compreendiam seu senso de humor - mais ao longe talvez houvesse redemoinhos e não se podia deixar a crinça ir até lá. A criança tentava ir - o batom tinha um sabor agradável e ela passava a língua nos lábios - a mulher tinha que estar atenta à criança.

Alguém descobriu que havia um culpado. Antes não tinha percebido isto: que era possível se ter um culpado. Um responsável. Ele falava em nome de alguma idéia. Algo nele que tornava necessário que se tivesse o pesadelo. Levava em si um ódio por ter sofrido tanto. Este pensamento fez sentido em todos os ângulos. Uma vontade de se vingar da vida. E qual era a dor daquele homem? O batom coloria o filtro do cigarrro. E qual era esta vontade que apenas mal fazia e não levava nada a se mover? Lana perguntava isto ao responsável.

E, de repente, o assunto decaiu e não tinham mais o que falar. Não havia identidade alguma para terem assunto. O batom sujava o guardanapo. Era preciso tirar o cinzeiro por causa do cheiro ou da impressão que provocava. A mulher continuava lá olhando todo o tempo a criança. A água parada. Era muito perigoso.

Acordou. Algum ruído. Uma pancada. Marcos que deixara a tesoura cair. Contaria o sonho. Não. Não tinha vontade de falar. Guardar para si. Uma preguiça. Moleza. O corpo cansado. O pesadelo retornava. Mas não. Levantaria. Beberia água. Lavaria o rosto. Feliz. Desenharia depois. Ela e Marcos poderiam viajar. Por lugares perdidos, distantes. Mas havia tempo, muito tempo para isto. Havia tempo demais. E agora podia beijar a face de Marcos e dizer: estou indo. E ir-se.

Bolinhas de miolo de pão acumuladas no prato. Desenhos de vários tipos, tamanhos e cores jogados no chão, na mesa, colados nas paredes. Parou indefinidamente os olhos neles. Teve dúvidas. Desânimo. Fatigada de tanto ter afeto. Serviu-se de café e bebia em goles pequenos. Alguns tinham uma certa beleza. Apenas detalhes deles. Certos traços. Certas cores. Não sabia o que fazer. Resolveu insistir. Tentar corrigir. Aprimorar. Retocar.
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