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Contos-->ESMALTE COR-DE-ROSA -- 11/01/2001 - 21:23 (Marcelina M. Morschel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No vaivém do balanço, ela sente o vento chicotear seu rosto, há pouco molhado pelo indiscreto correr das lágrimas. O semblante mostra faceirice, numa expressão exata do frescor pueril. No repetir dos impulsos, joga para o alto, como por encanto, todos os acontecimentos que lhe marcaram a pele. Sequer percebe a formação dos sulcos e cicatrizes. Vez por outra, a menina olha para as unhas das mãos. Sorri, ao imaginá-las coloridas e brilhantes. Não fosse a imaginação, que seria da vida? Áspera e cruel, serpente sibilosa. Nos meandros desse labirinto, sinuoso, a meninice não se dá conta do marasmo e da rotina que esfacela. Eis a graça! Mesmo na meninice as palavras duras ecoam como gotas de chumbo sobre zinco - tilintar que hipnotiza. Onde encontrar a meiguice? Só mesmo no encanto do desencanto.

Naquela tarde, Terê fora estudar na casa da amiga. Entre os exercícios de matemática e lições de geografia, os risos eram tantos, que os olhos chegavam a marejar.

“Vamos até o meu quarto?”

“Você tem esmalte de unhas?”

“Eu pinto as suas. Você pinta as minhas.”

“Combinado.”

O rosto de Terê ilumina-se ao ver as unhas pintadas. As mãos bem espalmadas, move-as lentamente, para melhor contemplar o brilho e o rosa que as deixavam tão belas. No doce enlevo de seus nove anos, era a cinderela beijada pelo príncipe encantado.

As meninas despedem-se rindo de tudo o que aconteceu.

Em casa, já em seu quarto, guarda os livros na maleta escolar e, diante do espelho, retorce o delicado corpo, bailando silenciosa. Leva as mãos para perto dos olhos e, com movimentos de cá para lá, contempla o colorido das unhas, vislumbre de vaidade.

“Terê, o que está fazendo aí no quarto?”, era a mãe a exigir explicações.

Terê volta à realidade e encolhe os dedos, escondendo-os na palma da mão.

“Venha até aqui. Conte-me tudo o que fez nesta tarde em casa de Luíza.”

Terê, a passos tímidos, vai ao encontro da mãe. É de medo, agora, a expressão do seu rosto. Esconde as mãos atrás da pequena cintura e, balançando levemente o corpo, responde às indagações.

“E tire as mãos aí de trás. Está escondendo o quê?

Ao ver as unhas pintadas, a mãe pega uma faca, ordena que Terê coloque as mãos abertas sobre a mesa e, vigorosamente, começa a raspar o esmalte. A ira é tamanha, que chega a ferir os dedos da menina.

“Nunca mais passe esmalte nas unhas. Isso é coisa do demônio. Safada, sem-vergonha. É esse o tipo de estudo que vai fazer em casa de amigas?”

Entre lágrimas inúteis, Terê não sonha mais com o príncipe encantado. Apenas impulsiona, lentamente, o movimento do balanço.
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