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Contos-->Chuvas, Orgias e Aipins -- 11/11/2005 - 16:29 (Evandro Carvalho da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Está caiiiiiiiiiindo. A primeira gota espatifou-se na testa de José com a violência habitual das grandes pancadas de chuvas do verão. José era amigo de João, que era amigo de Antônio, filho de Alaor, neto de Sebastião. Aos nove anos Sebastião aprendeu a arar a terra. Cultivou aipim, feijão, arroz, milho. Também criava porcos e galinhas, só que isso ele aprendeu quando era um pouquinho mais velho, aos 14 anos. Sebastião era o 16.o filho do casal Iracema e Bartolomeu. Aos finais de semana ia para o baile no clube de Rio dos Véus. Domingo cedo, quando não voltava nada sóbrio da Taberna de Virgílio, ia jogar futebol com o time do bairro. Era um bom ponta esquerda, chegou até a recusar um pedido do Cajazeiras Futebol Clube, o time mais popular do país. Queria mesmo era a simplicidade de seus porcos, galinhas, aipins e afins. Aos 18 anos, conheceu Clotilde, moça bonita filha dos colonos da fazenda vizinha. Um mês de namoro depois, casaram-se. Sem televisão, sem rádio, sem internet e tecnofobias afins, trataram de celebrar a vida, sem pudor e critério: tiveram 19 filhos. Com tanta gente para arar a terra, Sebastião tratou logo de vender sua colheita para o mercado. Vendeu muito e honestamente, ficou rico e mudou para cidade. Cinco de seus filhos já morreram. Clotilde já se foi, diziam que ela era a avó mais doce do mundo, que enchia os netinhos de doces e presentes. Patrício era o neto que mais chorou nos funerais de Sebastião. Foi um dia muito chuvoso. Quando a primeira lágrima de Patrício misturou-se com as gotas da chuvas, um passarinho voou fugindo do temporal. Feliz foi aquele João-de-Barro que abrigou-se da chuvarada. Ficava o bicho e sua casinha, no quintal da última casa da rua dos Italianos. Estes vieram há quase dois séculos povoar o sul. Encontraram um emaranhado de árvores e pântanos como os pioneiros do lugar. Décadas mais tarde o progresso chegou junto com os trilhos e a locomotiva a vapor. De dentro dos vagões saiu um moço com uma caixa preta chamado Zefedro. Dizia ser um retratista. Em cinco anos na cidade tirou muitos retratos. Cinqüenta anos depois, parte de seu acervo foi parar no Museu da Cidade. Hoje, se escreve para rua Zefredo Anguinelo. É nesta rua que mora A Meretriz e suas meninas. De muitas histórias e orgias, naquele lugar cultivou-se o pecado como os porcos de Sebastião. Muitos casamentos terminaram nas alcovas daquele lugar, outros começaram, outros começaram e terminaram. A visita do chefe da província causou escândalo em Rio dos Véus. Deixou ele de ir na Santa Igreja para pedir votos Na Meretriz. Quando procurou o pároco recebeu uma extrema unção. Azar o dele, meses depois perdeu a eleição. Se bem que, afogou as mágoas no colo Da Meretriz, saciado de prazer, cansado de prazer, enjoado de prazer. Quando saiu pela manhã branca e sem graça, nuvens ameaçadoras e gigantescas precipitaram-se em sua calvice precipitada.
Está caiiiiiiiiiindo. A primeira gota espatifou-se na testa do chefe da Província com a violência habitual das grandes pancadas de chuvas do verão.
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