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Poesias-->ROMANCE QUE INCLUI O ACIDENTE DA CALDEIRA RASA -- 17/12/2006 - 13:36 (José J Serpa) |
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UMA FAMÍLIA INFELIZ
Todo homem ou mulher
Que nasce para ser infeliz
Nunca havia de nascer
É o que o mundo nos diz
Mas toda a criatura
Que cá ao mundo chegou
Tem que cumprir a sentença
Que Deus do Céu lhe riscou
Quem nasce para a desgraça
E nela tem de viver
Que queira fugir não pode
Nela tem que padecer
Esta vida é enganosa
A todos vai enganando
No princípio tanto mostra
E para o fim vai faltando
Há famílias que ao começo
Embora que pobremente
Entregues aos seus labores
Vivem sempre alegremente
Pois como estas houve uma
Que é a que vou citar
Pois que é da vida dela
Que eu me vou ocupar
Era da Ilha das Flores
E de boa descendência
E na costa do Lajedo
Era a sua residência
Por José Rodrigues Bispo
Era o chefe conhecido
Com Ana de Jesus Rodrigues
Se havia ele unido
Quatro filhas e um filho
Juntos com o pai e mãe
Constituíam a família
A que todos queriam bem
Tanto filhas como filho
Tinham amor a seus pais
Um amor puro e sincero
Que até invejava os mais
Mas a sorte como ingraa
Os olhos neles volvia
E no fim de poucos anos
Roubou-lhes toda a alegria
Maria da Luz com onze anos
Pequena de muita graça
Foi a primeira da casa
Que foi vítima da desgraça
Ela e outras raparigas
De quem perto ela vivia
Foram apanhar amoras
Distante da freguesia
Não foi só as raparigas
Que se foram divertir
Alguns rapazes também
Com elas quiseram ir
Apanhadas as amoras
O que a todos divertia
Depois para a Caldeira Rasa
Tudo para lá seguia
É um vasto lago de água
Para falar a verdade
Criado por natureza
Com pouca profundidade
Maria da Luz com mais duas
Das de maior confiança
Metem-se as três de mãos dadas
Na água a grande distância
Maria da Luz nem tão pouco
Pôde dizer adeus ao mundo
Faltou-lhe onde pôr os pés
Lá vão as três para o fundo
Domingos Freitas que viu
Que ali perto estava
Corre e deita a mão a uma
Para ver se as salvava
Ela agarra os suspensórios
De Domingos que ele usava
E se eles não rebentavam
Com certeza que o levava
Raparigas e rapazes
Que ali presentes estavam
Começa tudo gritando
Quando o facto observavam
Alguns rapazes espertos
Bastante se esforçaram
E no fim de duas horas
Maria da Luz tiraram
Já estava feito o cadáver
Quando saiu da água
A todo o povo presente
Causou isto imensa mágoa
E as outras infelizes
Lá tiveram de ficar
Por muito que se esforçassem
Não as puderam tirar
Só no dia imediato
Flutuando as encontraram
E as tristes naquele estado
A seus pais as entregaram
Um dos presentes rapazes
Com o coração oprimido
Correu para a freguesia
Dar conta do ocorrido
Depois de José Rodrigues
Boato vir a saber
Mais a mulher e as filhas
Deitaram-se logo a correr
Não lhe faltaram as forças
Naquela grande corrida
Para pôr os olhos em cima
Da sua filha querida
Toda a família das vítimas
Sem perda alguma de tempo
Correram para o local
Do triste acontecimento
Muita gente par ali foi
Cheia de mágoas e pena
Para verem a desgraça
Daquelas tristes pequenas
Numa espécie de maca
Que depressa arranjaram
A pobre Maria da Luz
Para casa transportaram
Quando a casa chegaram
E o cadáver desciam
Tanto os pais como os de fora
Em pranto se desfaziam
Os pais abraçam a filha
A quem tanto bem queriam
E as irmãs fazendo o mesmo
A cara de beijos lhe enchiam
Toda a gente que ali estava
E que aqueles pais ouvia
O coração lhes retalhava
Como uma tamanha agonia
Em casa das outras infelizes
O mesmo se passava
Chorando as perdas das filhas
Que a morte lhes arrebatava
Maria da luz mais as outras
Puras almas e coração
Em breves dias faziam
A primeira comunhão
Que prazer teriam elas
Se chegasse aquele dia
Para elas e para as famílias
Dia de santa alegria
Mas a morte traiçoeira
Como é sempre em geral
Quis que fossem comungar
À corte celestial
Trajando de alvo brilhando
Como as rosas nos jardins
Desceram à campa fria
Para séculos sem fim
Foram três anjos do céu
Que subiram para o pai
Vieram só para verem
Como o mundo por cá vai
Mas o pobre José Rodrigues
Pai da Maria da Luz
Ainda não ficou por aqui
O peso da sua Cruz
Como vizinho do mar
Pois perto dele morava
Em certas épocas do ano
Muitas vezes o procurava
E uma vez por acaso
Que tinha ele encontrado
Um monte de sargaço
Em condições de tirar
E numa manhã de Dezembro
Mas numa manhã bem fria
Duma modo assustador
Um vento forte zunia
Lembrou-se ele do sargaço
Que ainda na praia estava
E mais a mulher e as filhas
Para lá se encaminhava.
Chegados eles à praia
Mas forte o vento soprava
E o mar já furioso
Toda a costa respingava
E o monte de sargaço
Que ele tirar pretendia
Quando eles lá chegaram
Já o mar o desfazia
Mas não obstante isso
Para ele se aproximava
Pois a perigo tão grande
Coitado se sujeitava
Mas o garfo lhe esqueceu
E le manda já pedir um
Pois sem ele não podia
Fazer trabalho algum
E Maria do Rosário
Depois do pai ter ouvido
Recebe ordens apressadas
Para ir fazer o pedido
Mas vendo ela o perigo
Voltou-se para o pai e disse
Que deixasse o sargaço
E do mar bravo fugisse
Mas diz o pai vai depressa
E o mesmo lhe diz a mãe
Para ver se aproveitamos
O resto que ainda tem
E Maria do Rosário
Partiu logo a correr
Mas prevendo o fim funesto
Que os pais poderiam ter
Chegadas as primeiras casas
Da próxima localidade
Pediu o garfo e voltou
Com a maior brevidade
Mas qual não foi o espanto
Quando à praia chegou
Que nem os pais nem a irmã
Nenhum deles encontrou
E olhando para os lados
Sem saber o que pensar
Começa em altos prantos
E pelos pais a chamar
Mas ninguém lhe respondia
Estava tudo calado
Porque o mar sem piedade
Já lhos havia roubado
Mas José Joaquim Penques
Que ali perto trabalhava
Acudiu aos gritos dela
Para ver o que se passava
E ela entra soluços
Num falar mal entendido
Ao José Joaquim Penques
Foi contando o sucedido
E ele não respondeu mais
Manda-a imediatamente
Que ela fosse à freguesia
A caminho chamar gente
Lá vai ela coitadinha
Quase sem poder andar
Chorando em altos gritos
A triste nova contar
Toda aquela vizinhança
Assim que isto ouviu
O mais depressa possível
Para o local se dirigiu
Foram homens e mulheres
Com o coração magoado
Ansiosos por saberem
O que se tinha passado
Assim que à praia chegaram
Fazendo mil sentidos
Trataram de procurar
Os tristes desaparecidos
Percorreram toda a costa
Ali perto do lugar
Mas nem os pais nem a filha
Conseguiram encontrar
E a Maria do Rosário
Com treze anos de idade
Ficou sem pai e sem mãe
Vivendo na orfandade
Foi viver mais uma irmã
Que Olívia se chamava
Que vivia com uma tia
Que muito a estimava
Durante algumas semanas
O regedor da freguesia
Com mais outros cavalheiros
Toda a costa percorria
Mas nunca mais José Rodrigues
Por ninguém foi encontrado
Porque o mar naturalmente
Para longe os tinha levado
Já tinha setenta e dois anos
Já era um homem cansado
Contra as traições desta vida
Muito havia lutado
A mulher com cinquenta e dois
Duma santa existência
Que cinco filhos criou
Com a maior paciência
O José Rodrigues Bispo
De todos era muito estimado
O seu viver de casal
Por muitos era invejado
Quatro filhas e um filho
Era a sua geração
A todos ele dedicou
Esmerada educação
Todos muito obedientes
A seu pai e sua mãe
Nem a pobres nem a ricos
Nunca ofenderam ninguém
As suas querida filhas
A quem seus pais tanto queriam
Das meninas do seus olhos
Nunca elas lhe ..........
Todas a todo o trabalho
Foram elas coitadinhas
Quer domestico quer de fora
Sempre desde criancinhas
Seus pais pobres não podiam
Prepará-las ricamente
Mas com a sua pobreza
Viveram honradamente
Eram como quatro rosas
Mas sim rosas encarnadas
Que de toda a vizinhança
Foram sempre respeitadas
A infeliz Maria do Céu
Com vinte e cinco anos de idade
Seus pais em casa lhe davam
A maior autoridade
Nunca quis deixar os pais
Porque foi a sua sorte
Qui-los sempre acompanhar
Sempre até na própria morte
Olívia do Céu Rodrigues
Criada com sua tia
Uma irmã de seu pai
Que ali perto residia
Sete pessoas ao todo
Que naquela casa havia
Embora que pobremente
Viviam com alegria
Mas a sorte sorrateira
Sem lhes dizer sim ou não
Quis acabar para sempre
Aquela boa união
O filho foi o primeiro
Que o lar paterno deixou
Robusto e saudável
Para a América embarcou
Era com boas ideias
Como ele próprio dizia
Para ajudar a família
Que pobremente vivia
Quando um dia sem o esperar
Triste nova recebeu
Quando na Caldeira Rasa
Sua irmã lhe faleceu
Do triste fim da irmã
Ficou ele muito sentido
Até que durante tempos
Andou muit esmorecido
Cinco anos decorridos
Depois dela falecer
Nova da morte dos outros
Volta ele a receber
Quem for filho que avalie
Ele como filho ficou
Sabendo da triste sorte
Que a casa dos pais chegou
Mas enfim se a Providência
Em tudo é infalível
Que à morte fugir quisessem
Era-lhes isso impossível
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