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Cartas-->Sobre Quadrinhas e Trovas -- 25/07/2003 - 10:38 (Nereida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Confesso que não estou acompanhando com rigor as conversas e discussões aqui trocadas em relação às quadrinhas. Parece-me - e me corrijam se estiver enganada - que há um time dizendo que as quadrinhas (ou trovas, quadras, como queiram chamar ao conjunto de quatro versos, sete sílabas cada, rimas nos segundos e quartos versos), não devem merecer o mesmo apreço que os demais gêneros ou categorias ilustrados na Usina.

O outro time ressalta o contrário: as quadrinhas são merecedoras do mesmo apreço e consideração que têm merecido os demais gêneros ilustrados na Usina.

Ora, pois, fui me consultar com uma doutora em literatura e crítica literária (que me pediu que não divulgasse seu nome, o que respeito). Disse-me ela que as quadrinhas (trovas, quadras) fazem parte do nosso acervo cultural desde os tempos dos portugueses e que através delas construímos nossa identidade literária. Pedi-lhe exemplos:
literatura de cordel é o que mais depressa lhe ocorreu, com versinhos copiados e recopiados, além dos pendurados, muito antes da chegada da imprensa no nosso país; em seguida, as trovas do Padre Anchieta (aí me lembrei do poema À Santa Inês); os versos à Virgem, supostamente escritos na areia e memorizados ipsis litteris pelo autor (o mesmo Pe. Anchieta, bom de memória, caramba); o Gregório de Matos (que eu sempre admirei, por suas virtudes e faltas de, igualmente); toda a história guasca está em versinhos de trovas (vide, segundo minha consultora, Simões Lopes Neto); e, nos momentos de hoje, leia-se João Cabral de Melo Neto, que bebeu dos repentistas e desafiadores do seu nordeste para suas refinadíssimas composições trovadorescas...

Aí lhe apresentei o argumento (aqui vazado) de que uma quadrinha seja uma coisinha , que não demanda muito tino ou trabalho do seu autor ou autora. Nada menos longe da verdade, respondeu-me minha consultora. Para que se faça uma quadrinha é necessário um despreendimento original, que vai além de um esforço da esfera racional do cérebro criativo, embolando (este termo é meu, não dela, muito consciente do uso castiço da língua portuguesa)"conscientização das medidas e pesos coerentes com o fazer poético e a melodia resultante" - o que deve tomar tempo pra xuxu (ou chuchu) dos/das trovadoristas.

Continuei o papo com a digna professora de literatura brasileira e crítica literária, fomos por outras sendas, todas relacionadas com poesia, a popular e a erudita (se esta existe por si só ou se não é uma forma estilizada da popular - foi assunto nosso também, mas isto fica para outra ocasião, se lhes aprouver).

Então, encerrando o assunto: eu mesma cometi muitas trovas e quadras, influenciada que fui pelo maior trovador aqui na Usina (sem desmerecimento dos demais) que, na minha opinião (e com todo o respeito por outras que possam diferir da minha), pois, o maior trovador da Usina, pra mim, é o Ulow Randap. Este usineiro escreve em quase todas as categorias que a Usina oferece nas suas vitrines e em todas se desenvolve com facilidade - por que as quadrinhas seriam então de menor valor do que seus demais escritos? Sabemos nós se o Ulow - ou outra pessoa que tenha sua versatilidade - gasta mais ou menos tempo em matutar nas quadrinhas do que nas suas crônicas, nos seus artigos, ou até, à guisa de comparação, nas suas frases brincalhonas que parecem inócuas, mas que revelam acuidade mental, além de outras interpretações que os caros leitores queiram lhe atribuir? Como medir valores?

De uma certa maneira, aqui lhes entrego minha avaliação - as quadrinhas, trovas, quadras pertencem ao nosso acervo literário, que nos chegaram nos barcos portugueses, nos idos cabralinos. Que o senhor Ulow prefira enviar quadrinhas à seção erótica da Usina, é escolha sua. E, a mim me parece, ele está fazendo escola. Não só eu fui influencidada por ele, mas também o Sr. Clésio - a tal ponto que pensei que o Ulow tivesse criado um outro pseudônimo, e cheguei a escrever ao Sr. Clésio, perguntando exatamente isto. Diante da sua negativa (depois corroborada por Ulow, a quem fiz a mesma pergunta), recolhi meus instrumentos sherloquistas e continuei a ler tanto o Ulow quanto seu seguidor, o Clésio. Portanto, as trovas do Ulow estão fazendo escola (no sentido de movimento ou escola literária).

Se trovas não fossem importantes, duradouras e merecedoras do nosso apreço, não estaríamos lendo Gregório de Matos, nem Anchieta, nem João Cabral de Melo Neto - e ainda tem todo o acervo nordestino e gauchesco, que mal toquei aí acima.

Um muito obrigada para a minha consultora, que nos vai ler como visitante (e que lerá esta carta) e a todos vocês meu cordial abraço. Continuemos, a quantos lhes aprouver.

Nereida

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