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Artigos-->ESTÉTICA BURACO DA FECHADURA -- 28/09/2002 - 20:02 (marcos fábio belo matos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Marcos Matos – jornalista e professor.



A Casa dos Artistas e o Big Brother Brasil potencializaram uma certa catarse nacional – a de olhar a realidade no espaço precípuo da fantasia, de acompanhar em êxtase, como voyeur, a vida como ela é, em cenários luxuosos, exuberantes, mas sem cortes nem encenações. Ver as beldades da Globo e do SBT protagonizarem situações de tensão e de ganhos/perdas se tornou a nova coqueluche – para ficarmos no campo semântico do que assola o Brasil hoje: a epidemia.



Bisbilhotar a vida alheia não é uma atitude de nós, pós-modernos. O que mudou foram as lentes. A nossa pulsão pelo grotesco, por olhar o esdrúxulo já havia sido identificada por Santo Agostinho, quando revelou que todo homem tem uma curiositas, que é o desejo intrínseco por apreciar coisas estrambóticas, aberrações, ou simplesmente... a vida ao vivo do (tele)vizinho!



Nem é uma ação espetacularmente criada pela TV. Antes, muito antes, as câmeras já se direcionavam para a busca da vida real entre quatro paredes. No início da atividade cinematográfica no mundo, já dentro do período que se convencionou chamar de primeiro cinema, alguns filmes (hoje raros) já traziam algumas cenas em que se percebia, sobre a lente do cinematógrafo, um papel/papelão cortado na forma de fechadura, dando a ilusão de que o que se mostrava era, na verdade, cenas captadas sem a anuência dos protagonistas. E que cenas! Muitos dos primeiros filmes deixam claro que o cinema nunca foi inocente, e confirmam a sua fama de ser uma invenção do diabo, como bem afirmavam os pudicos da época e como eternizou Tom Gunning, historiador norte-americano, como título de um livro.



Várias foram as vezes em que o cinema tratou da invasão de privacidade que afeta a vida moderna, algumas com propriedade outras com pastiche. A última e mais análise da sétima arte sobre o tema foi o filme O Show de Truman, de 1998. Jim Carrey, em papel tragicômico irretocável, encarna um cara que nasceu e cresceu dentro de uma cidade cenográfica e é, há 30 anos, personagem central de um reallity show, uma soap opera. Todos fingem que vivem num mundo real, menos ele. Com cinco mil câmeras observando seus milimétricos movimentos (BBB e Casa são fichinha!) tudo, absolutamente tudo que ele faz é registrado e divulgado para milhões de americanos que, como nós hoje, ficam ligados full time nas suas desventuras. Claro que, como todo filme americano, há um happy end. O filme é leve, mas faz pensar. Não será para uma Seahaven (nome da cidade-cenário em que Truman mora-atua) que todos nós caminhamos??? Recomendo-o para quem ainda imagina que coisas como Casa dos Artistas, Big Brother, No Limite, Pegadinhas, Teste de Fidelidade, Show do Milhão, Videocassetadas, Telegrama Legal etc etc etc são, de fato, shows da vida real.



Estamos vivendo hoje a era da Visiônica – termo que Paul Virillio usa para designar esta avalanche de câmeras que se espalham por todos os cantos da nossa vida. Não temos mais privacidade (salve, George Orwell!). Sabia que em alguns motéis há câmeras escondidas e que aquelas imagens que menos comprometem seus donos são depois utilizadas em filmes para consumo interno da empresa? E a mídia já se apossou inexoravelmente desta estética (?). Já percebeu há algum tempo que pode lucrar (e muito!) com ela. E por que a força dessa privacidade invadida? Uma das explicações é: na falta de um ethos público mais interessante, apela-se para a devassa do privado. Os ingredientes da vida pública não interessam a quase ninguém mais. Então, é melhor espiar neguinho transando sob o edredom depois da novela. É mais divertido, é real e ainda tem o gostinho de olhar como se fosse pelo buraco da parede...



O Millôr tem um aforismo que cabe bem para esses nossos dias, desde que parafraseado. Diz assim: “se você for transar, feche a janela, pois o amor é cego mas os vizinhos estão todos de binóculos”. Troque-se fechar a janela por apague a luz e de binóculos por na frente da TV e pronto! Estamos com um humor nos tempos da visiônica.



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