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Contos-->Uma Suspeita Causa de Amor -- 18/12/2005 - 09:57 (Alexandre Modos Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Uma Suspeita Causa de Amor



Um dia depois, ao reencontrar o pai, Martin haveria de ter nos olhos a mesma sombra difusa das vidas das muitas gentes do mesmo exílio de amor que viu cintilar no crepúsculo, no semicírculo de alunos, no estacionamento do campus e na imagem diáfana de Narcísea Maravilhosa, e iria acompanhá-lo pelo resto de sua vida, como uma maldição silenciosa e, por isso, muitas vezes mais insuportável, até quando seu corpo viesse a desistir de viver e, ele inteiro, abandonar-se ao próprio esquecimento. Porque, em tempos como estes, as coisas aconteciam como em uma revelação divina, com tanta precisão que já não poderiam deixar de ser. E assim Martin singrou os revezes do amor e do ódio, sem saber qual o de maior intensidade, embora nunca tenha havido tanto amor de uma vez só dentro dele, a ponto de não lhe caber mais a respiração no peito, e nem os pensamentos poderem voar por conta própria.
Por isso, naquela manhã, Martin não ouviu o vento farfalhando as folhas nem o bramido apaixonado do professor, mas experimentou tudo de mais excêntrico e sensual que lhe traziam as frivolidades das adolescências em brasa, à medida que seu coração se desnudava à magia do flerte fascinante de Narcísea maravilhosa, deixando-o abobalhado, sem entender as saudações, quando Cesarini Graco encerrou a oratória, e os alunos passaram, aliviados, às despedidas, prometendo-se contato pelo resto de suas vidas: Seu bobo. Sei que pensava em mim.- Ela lhe falou, irreverente, bem próxima ao ouvido.
- Como tem certeza? Estava apenas com sono!
- Quando vejo você, novamente? - Ela respondeu com a boca mole, e os olhos parados, simulando um estado de volúpia. Martin inflamou-se de excitado.
- Posso passar em sua casa, à noite?
Martin não tirou os olhos cansados do carro que levava Narcísea Maravilhosa, até que se escondeu na primeira esquina, e também não a esqueceu mais até que se esgotasse, pouco tempo depois, toda nódoa de amargura que trazia das incontáveis desilusões paternas. Sentiu-se expurgado dos antigos insucessos, porque, nada naquele momento, tinha mais esplendor e gosto do que sonhar com ela, mesmo sem dormir em sono que fosse o mais inverossímil. Caminhou pesado com um cansaço de centenas de quilômetros para se unir aos tios que o aguardavam no estacionamento, satisfeitos, cheios de orgulho por sua formatura e tagarelando sem tréguas. Mas nem mesmo eles ou ela tiveram poder sobre sua consciência, por isso lhe custava muito manter-se em vigília. Seus olhos entreabriam-se na passagem de nível, depois no semáforo, na avenida longa e arborizada, ouvindo longe: seu pai... Não conseguirá... Você está bem? Mart... E no balanço adormeceu envolto em borboletas e rosas de todas as cores imagináveis.
Após a morte da mãe, Martin passou a sofrer de um desconforto que ultrapassava todas as medidas conhecidas no mundo, e não cessou um só dia o ódio pelo pai. Seu rancor era tão forte que arrancava árvores inteiras pelas raízes, e virava o mundo na contramão, por isso preferiu morar com os tios. E quando o frio de sua alma lhe atingia as carnes do coração, ligava para a irmã, ainda solteira, mas desligava com várias vezes mais pressa para evitar confidências ou queixumes. Nessas ligações, jamais perguntou pelo pai, e quando lhe falava algo, fingia não ter ouvido, passando como vento para outros assuntos. E para que ela não insistisse, ele dizia atropelando a fala: fica com Deus e desligava o aparelho, depois voltava para sua vida egótica de neo-Byroniano alçada em dois pontos: a casa dos tios, e a faculdade.
Quando acordou às três horas, na tarde daquele dia, olhava para o ventilador intacto pelo solstício, com suas cinco pás decididas a enfrentá-lo. Sentia um leve frescor que lhe subia ventre acima e lhe estrangulava tudo à altura do estômago, intensificando um exagero de emoções que lhe bambeava os músculos do corpo inteiro: Acho que ela tem razão, pareço um bobo. Debruçou no parapeito da janela e contemplou o céu tão azul que pensou enxergar o mar de pernas para o ar. Não havia uma chispa de nada que rabiscasse o anil daquele céu, tão perfeito quanto o negro dos olhos de Narcísea Maravilhosa, que o perseguia com um encanto dissimulado, e liberava seus anjos e demônios para danar com suas idéias, e lhe dar vontade de gritar, como um demente, só para ouvir a própria voz e pensar que era a única que existia no mundo.
Percebeu que as horas haviam passado, porque nunca tivera tantos sonhos inverossímeis como tudo que é exagerado. E nem mesmo a sensação de estar vivo e sujeito às leis naturais o fizeram menos feliz diante da sensação de estar amando como um louco. Esticou os braços com as mãos abertas e os dedos arregalados, espreguiçou-se saborosamente, mirando o azul do céu: Narcísea Maravilhosa, maravilhosa, te adoro, te adoro, e deixou o quarto, sentindo os pés pisarem em macias pétalas, deliciando-se com a lembrança da despedida no campus, borbulhando a epifania de Joyce na agradável sensação de demência.
Depois de tanto acreditar que amava, tinha o amor em seus olhos a tatuar o mundo com a grandiosidade insana dos amantes. Até mesmo a insignificância de sua vida enclausurada na mágoa familiar perdeu o tom no remanso de Afrodite, que com ele escorregava no pequeno corredor, onde até as paredes lhe pareciam mais belas que antes e prumavam para o céu. E a comida?! A comida...! Uuuh... Sorveu com grande prazer a fragrância verdoenga de lentilha, vindo da cozinha, e ficou ainda mais feliz. Teresa Bocaneira sentava-se em uma cadeira de vime ao lado da geladeira, em lugar incomum para o móvel, mas não havia apelo que a fizesse tricotar em outro lado. Sentiu-se um pouco acanhado ao ver a mesa posta àquela hora da tarde a seu dispor, e a tia que a guardava como mordomo aposentado. Chegou-se a ela e abraçou-a ternamente como sempre fazia. Depois se sentou à mesa meio bobo, rindo à toa, feliz da vida. Ela o olhou meio intrigada, e perguntou-lhe hesitante, com a voz velada, o que ele pensava fazer: Há apenas uma coisa em meus planos. Disse apenas isso, com expressão de cão vira-latas de barriga cheia. Teresa Bocaneira fez um gesto de embaraço, seus lábios simularam um sorriso dúbio e perguntou: Martin, e seu pai?
- Ele? Ele... Dirá que sei bem o que quero. Deve ser isso que sempre pensou.
- Não fale dessa maneira de seu pai, meu filho. Não pode passar a vida remoendo mágoas desse jeito. Mesmo incômoda esta situação, para nós ele agiu dentro da boa moral, era jovem e tinha o direito de ser feliz com alguém - Teresa Bocaneira falava triste e pausadamente como se revelasse uma verdade tão esplêndida que não podia ser vista por ninguém, nem sentida por uma única vez - , mas, ele jamais deixou de amar a você e a sua irmã. Eu e seu tio somos testemunhas disso, filho.
- Como são testemunhas? Como pode testemunhar algo que não viram? Não, tia. Meu pai deixou de existir no dia em que matou mamãe de desgosto, por sua libidinagem. Sim! Ora é...Desculpe-me, tia, mas não posso ouvir uma asneira desta, logo de você, uma pessoa que tanto amo. - Martin prosseguiu seu desabafo - Depois tem mais: quando veio seu castigo, e um pouco tarde, com a morte também de sua namoradinha, passei a detestá-lo ainda mais, porque além de não termos mais pai nem mãe, passamos a ter um bêbado do caralho para cuidar. Isso é só para minha irmã, uma boba.
- Oh, Martin! Não diga coisas assim, filho. Sei que tem um bom coração, e a morte de sua mãe golpeou fundo, mas agora é momento de apegar-se a seu pai. - Teresa Bocaneira completou - Não sei o que tem em mente, mas antes que me diga, ou execute seus planos, lembre-se de que o sangue das suas veias é o mesmo do amor de seu pai com sua mãe.
- Amor da mamãe eu acredito, mas dele... Dele foi bel-prazer, luxúria. Isso é que foi. Não acho que seja capaz de sentir amor, porque nunca demonstrou esse sentimento.
- Meu Deus, filho! Como consegue dizer isto?
- É isso mesmo, tia. Mas não sei porque estamos falando sobre isto. Prefiro não comentar sobre ele, se fizer, vou apenas decepcioná-la, além do que, estou feliz demais para estragar tudo com esta conversa.
- Feliz! Como pode!? Tudo menos isto, Martin. Seu pai está à beira da morte, e você apenas está feliz!? Ouça...
- Que morte? Que conversa é esta? - Interrompeu com espanto.
Os sapos e os periquitos tomaram grande parte da adolescência e consumiram toda sua infância. Naqueles dias pouco tempo lhe restava para amizades e muito menos para o convívio familiar, porque o pai de Martin trabalhava no fim do mundo e não tinha tempo para ver os seus, e sua mãe se matava nas faxinas e nos sonos de pedra, quando anoitecia. E essa falta de tempo para o amor em sua família o acompanhou até encontrar os olhos negros de Narcísea Maravilhosa. Depois vivia inebriado como na manhã desse mesmo dia, adormecido no banco traseiro do carro, quando seus tios o pegaram no campus. Por isso não os ouviu falar sobre o acidente sofrido por seu pai, quando fuçava no telhado da casa. Depois de tudo esclarecido, Teresa Bocaneira suspirou aliviada por entender que falavam sobre assuntos distintos. No entanto Martin enlutou seu coração, e o azul tornou-se cinza naquele momento em que o mundo o cobrava, ouvidos àquele assunto de família, sem pé nem cabeça, que tomava espaço e energia à sua paixão.
E num instante, a tarde linda já não era mais a mesma. Não havia azul anil nem pétalas lívidas ou escarlates que lhe abrandassem a revolta, e Martin sentiu-se inflamado pela ira que lhe comia tudo que havia de novo em suas entranhas, porque as mesquinharias das obrigações cobrar-lhe-iam uma dívida que nunca tivera. E não foi possível fugir ao remoinho que chegou com a força de mil Titãs, revirando tudo ao avesso com seu sopro gelado e cobrindo tudo com névoa opaca e triste. Narcísea Maravilhosa ameaçou sumir de suas vistas embrulhada nas porcarias daquele vendaval inacreditável, que trazia as situações mais indesejáveis a um recém-apaixonado. E além de tantos desagrados, havia na faculdade o Augusto Homem e o Célio Pinto que demonstravam grande interesse pela sua pretendida, e render-se a seu pai, seria o mesmo que entregá-la aos dois. Lutou sozinho contra essa possibilidade, sabendo do risco se ficasse distante, pois tanto um como o outro gozavam de grande prestígio com a moça. Assim, dentro dele, xingou bastante os seus demônios e praguejou os anjos que nada faziam, e mais uma vez amargou o desgosto de não ser tocado pela menor centelha de afeição paterna.
Reduziram-se as medidas do mundo na casa de Teresa Bocaneira, e Martin não via como anegar a seu pai, porque o assunto ficou tão sério que foi preciso expurgar a raiva por todos orifícios do corpo. Antes de se explodir, abandonou de vez o prato com a lentilha intocada, e saiu se esvaziando numa saraivada de pragas, maldizendo a sorte e o próprio pai. Poupou apenas os tios e Narcísea Maravilhosa, enquanto a velha desesperada com a insurreição do sobrinho, tentava segurá-lo pela camisa, pedindo-lhe calma pelo amor de Deus. Mas foi como se Deus não existisse, porque não houve intervenção divina, ou apelo algum atendido. E quem teve que ter calma foi ela mesma, ao ficar só no portão, olhando o moço sumir na multidão.
Na rua, seus pés atropelavam as calçadas com a pressa das multidões anônimas, e a cada passo dado, deixava para trás pedaços de seu desgosto. Essa sensação animou-o. E ele caminhou ainda mais rápido, com a proa do nariz levantada, entusiasmado com o ziguezague das pessoas que passavam. Pareciam todos felizes com suas imbecilidades recônditas na certeza de que tinham propósitos, e podiam caminhar com a paz dos discursos nacionais, nas calçadas de direções diversas: Nem pai, nem Célio Pinto ou Augusto Homem. Não havia problema maior que nos olhos de Narcísea Maravilhosa não encontrasse solução.
Mas Martin imaginou-se igual àquela gente desfigurada e rápida porque seus pensamentos já não eram mais seus, desde que Teresa Bocaneira lhe falara sobre o acidente. Apartir daí, procurou distanciar-se de si mesmo, até sumir em um mundo de lorota inverossímil e tornar as lembranças do pai as mais imemoráveis possíveis, fugindo na liberdade irreal daquela caminhada errante pelas ruas, pois só assim poderia embalar-se com a suavidade do amor que Narcísea Maravilhosa lhe inspirava, livre das mazelas inconvenientes trazidas pelo destino, para que o mais sóbrio possível, da dignidade que possuía, permitir ao velho morrer sozinho como sempre viveram e como sempre haveriam de morrer, todas as vezes que a morte os matasse sem a misericórdia dos simples humanos, para que não houvesse a necessidade de reveses emocionais, capazes de lhe ferir o orgulho e quebrar sua jura de maldição, esconjuro, e toda sorte de precações que lhe vinham em mente.
Quando se achou bem longe, parou em uma praça antiga, de árvores frondosas que tornavam o lugar escuro e frio. Parecia uma gota de pintura seiscentista em conflito, derramada por uma fonte que jorrava água pela boca de uma cobra de pedra, nas mãos de uma indiazinha também de pedra. Olhou o céu e viu uns pardais pipilando em direção à copa das árvores, e desceu aos tempos de menino. Em uma tarde de um dia frio como aquele, capturou seu primeiro e único pássaro: um sanhaço, na armadilha que colocou no caquizeiro. Seu coração inflou-se de uma tristeza nostálgica que demandava entre a mágoa e o amor pretérito. Pôde reviver naqueles pardais, o sanhaço cujas feridas da armadilha seu pai ajudou a curar, depois as orações ao lado da cama antes de dormir: santo anjo do Senhor..., seu pai lhe açoitou o espírito com galhos, pedras e pardais que havia naquela praça, e sua vida com tudo que havia nela: pais, tios, vida e Narcísea Maravilhosa ficaram ainda mais insípidos menos urgentes.
Naquele entardecer, Martin viu nascer o que todos os dias imaginava que via morrer, pensando que a lembrança paterna deixaria de existir, quando o amor chegasse em seu coração. E com a mesma passividade dos condenados, assistia ao vento mansinho que chacoalhava a copa das árvores, com uma delicadeza tão insuportável, que os pássaros aninhados dormiram antes que seus olhos se fechassem, atestando que até as pessoas se excitaram pelo começo da noite, e se fecharam em suas casas, para se esconderem do escândalo que causava o amor. Então se abandonou em um banco, à deriva dos desenganos, com olhar fixo, e a boca meio aberta, acompanhando, o momento em que uma mulher branca que atravessava a praça puxando um menino pelas mãos, mudou a direção e parou frente a ele. Contou-lhe histórias tristes sobre uma porção de homens cachorros, e as dificuldades em criar o garoto e mais três filhos, sem a ajuda de seus respectivos pais. Depois fechou o discurso, pedindo uma esmola. Ele mais se ateve ao menininho que arregaçava a boca com os dedinhos, deixando à mostra a lingüinha esbranquiçada e tremendo entre os lábios. Mas sentir pena não resolvia nada, porque isso ele já nem tinha lembrança de quando começou a sentir sobre si mesmo, e dinheiro não havia nem um centavo nos bolsos. Limitou-se a acompanhar, com os olhos, aquele desconsolo de família, até que sumiram de suas vistas e da memória, onde nunca mais haveriam de voltar. Tudo por causa do amor que não lhe cabia no peito e arrebentava suas entranhas com a pressão, toda vez que tentava abrigá-lo.
Martin, apesar de muito jovem, havia sobrevivido como um veterano de guerra, familiarizado com a morte dos mais próximos, mas sua maior revolta foi porque se achava em convalescença deste mal depois que abrigara o amor de Narcísea Maravilhosa. Só então, percebeu que seu interior se inchava com uma fúria devastadora que a expurgava, junto aos estrupícios e restos estranhos que o habitavam, desde os tempos de menor lembrança. Decidido, empenhou-se em uma caminhada insólita sem contramão, que apenas os homens de coragem conseguiam empreender em um mundo ainda cheio de superstições, que tirava da falsidade humana os maiores exemplos de retidão. Porque bastaria meia hora de passos quase dementes até a casa de seu amor, para que jamais pudesse voltar à casa dos tios e se condenar com a crença dos crentes.
Enquanto o vento trazia mansinho o cheiro dos amores futuros e o fedor das bostas lacerantes da sobrevivência que haveriam de fazer juntos, Martin pensava sobre o que faria na história. Era recém-formado, não haveria mais clima na família para ele, por causa de sua impiedade com o pai, e ganhar a vida naquela cidade, só era fácil se fosse puta. Nem uma visita de extrema-unção o amor de Narcísea Maravilhosa lhe permitiria, porque, nesses dias de muito amor, Martin se espatifava como um cristal que cai, e todo seu conteúdo se perderia na desolação. Enojou-se da vida e praguejou sem direção, depois praguejou seu pai, seus tios, o marido da mulher branca, os pardais e até Narcísea Maravilhosa já praguejava em voz alta, entre bramidos e profecias sobre pais vingados por meretrizes. E neste sou ou não sou, levantou-se rápido e saiu farfalhando os braços no corpo, sentindo-se como se fosse o marido da mulher branca, pai do menino linguarudo: um abominado de coração egoísta e péssimo, muitas vezes péssimo.
Seus passos iam tão apressados, tropeçando em tudo que encontrava, querendo ouvir o mundo inteiro gritar: lá vai ele, fugindo da servidão dos olhos negros de Narcísea Maravilhosa. Um dia depois, chegou em comitiva de amores, a tempo de sentir-se vexado, com as mãos laçadas a de seu pai, sobre o leito, e ambos de olhos tímidos, o tempo todo encharcados. Passaram a manhã inteira recuperando o tempo perdido, riam, choravam e se explicavam. Seu pai derramou sobre ele todo amor contido na alma de um pai, e, antes que pegasse no sono, Martin beijou-lhe a testa, deitou-se a seu lado, e disse: pai, nunca mais apanhei outro sanhaço. Descansa em paz. E por sua vez, derramou todo seu ódio sobre o velho, e uma cortina densa da largura do mundo baixou naquele quarto. Depois gritou pela irmã, com a voz esganiçada e chorosa, enquanto seus olhos flamejavam o negro do amor.
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