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Contos-->O Casamento do Padre Aristides -- 19/12/2005 - 16:35 (Evandro Carvalho da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O jovem Aristides considerava três coisas importantes na sua vida: sua família, o time do Cajazeiras Futebol Clube e um amor secreto que nutria por Joana, a vizinha do outro lado da rua.
Pelo Cajazeiras, brigava pelo time no meio da torcida, nem parecia o adolescente tímido e arredio. Certa vez voltou com um olho roxo do jogo de meio de semana. Bateu e levou umas bordoadas do Policarpo, que o considerava maluco por torcer por um time tão ruim.
Aristides adorava demais tanto o pai, quanto a mãe. Filho único que era, recebia os mimos e cuidados de um casal que vivia em função dele. Com o consentimento do pai, começou a trabalhar ainda aos 13 anos na oficina mecânica do Adamastor. A mãe não havia gostado. Dizia ela que “Tidinho” deveria apenas estudar, embora achasse algo de positivo no primeiro emprego. “É bom que ele se acostume com as responsabilidades”, disse certa vez, meio que resignada.
Futebol e família a parte, Aristides gostava mesmo era da Joana. A moça tinha a idade dele, mas nunca deu bola para o rapaz. Sempre recatada e atenciosa, nunca percebeu o olhar apaixonado de Aristides. Ele e ela sempre se conversavam no colégio. Falavam das coisas da escola, do futuro e da professora Lurdinha, espécie de carrasca que reprovava todo mundo, além de colocar a turma para ajoelhar no milho.
Nos fins de semana passeavam juntos no parque. Ficavam horas apreciando a lagoa com os patinhos, debruçados no corrimão da pequena ponte. Joana considerava Aristides um bom amigo, uma boa companhia, um rapaz de boa família e atencioso. Mas nunca havia imaginado nele a figura de um homem. Nunca, até aquela terça-feira, no princípio da noite.
Joana atendeu a campainha e viu um desconcertado Aristides, perdido em meio a um buquê de rosas tão vermelhas quanto ao seu rosto corado de vergonha. Ela ouviu atentamente tudo que Aristides disse, guardou as rosas num ornado vaso no quanto da sala e fez sucumbir o pretendente num abismo de decepção. “Meu grande amigo Ari, não quero te decepcionar, mas não sinto nada de especial por você. Lhe quero apenas como amigo, me entenda”, disse decidida.
Aristides chorou muito durante semanas, continuou trabalhando e estudando, continuou sendo o bom filho que era, continuou sofrendo pelo Cajazeiras. Contudo, um vazio apoderou-se de seu coração. Depois de muita tristeza, comunicou aos pais algo que jamais imaginaria semanas atrás. “Serei padre”, disse entre uma colher e outra da sopa do jantar. Os pais concordaram, acreditando que o seminário amenizaria a decepção amorosa.
Anos mais tarde, depois de muitos estudos e resignação, foi ordenado padre, o Padre Aristides. Nunca mais pensou em mulher alguma, dedicou-se como ninguém à Igreja, procurou o caminho da fé de maneira implacável. Até um certo sábado do mês de maio.
O Padre Aristides casou Joana com um comerciante da capital. Absolutamente constrangido, um fio de nostalgia lhe fez arrepiar o dorso, fez emergir das catacumbas de seu passado aquele sentimento puro e devastador que seu coração não negava, não disfarçava, não mentia. O comerciante e Joana lhe deram as costas e rumaram para a vida. O padre Aristides recolheu-se à sacristia, pensou em rumar para o intolerável caminho da morte.
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