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Contos-->CONTO DE UMA NOITE DE VERÃO -- 22/12/2005 - 10:27 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CONTO DE UMA NOITE DE VERÃO

Fernando Zocca

A opressão envilece e degrada aqueles que a sofrem.
Jean-Paul Sartre in O Imaginário.



Edgar D. Nal encostou seu fusca branco 69, placas MCC 1710 ao meio-fio defronte o bar da tia Cris, naquela manhã de sábado. Ele não considerava a comerciante loura e de olhos azuis muita manteiga pro seu pãozinho, por isso tentaria unir o útil ao agradável, bebendo pinga e tentando namorá-la.
Tupinambica das Linhas era a cidade que concentrava a maior quantidade de alucinadas, por metro quadrado, jamais vista em toda a história da humanidade. Havia adolescentes tolas, que enganadas por alguns membros da seita maligna do pavão-louco deixavam-se contaminar por alucinações psicomotoras, entregando-se à fala automática. Aquele tipo de afecção, estereotipia verbal, era próprio do automatismo mental e compunha quadros em que os pensamentos antecipados, ecos do pensamento, contra-senso, caráter absurdo, disparates, insultos bruscos, trocadilhos, ladainhas e jogos de palavras, delineavam a síndrome da influência.
Quando Edgar D. Nal entrou no boteco, tia Cris ouvia no rádio velho, ensebado e postado em cima de uma prateleira, a primeira notícia daquele programa matutino. Dizia o locutor: "Segundo informes da polícia, a seita maligna do pavão-louco, loja 828 (Joaquim Silvério dos Reis), havia assumido o compromisso de gerir a SPATL (Sociedade Protetora dos Animais de Tupinambica das Linhas) cuidando especialmente das cobras coral e pavões da cidade. Conforme disse o delegado de plantão, a quadrilha foi desbaratada e todo mundo está em cana."
Tia Cris, respondendo ao cumprimento do recém chegado informou-o: "Você viu? Prenderam todo mundo. Ainda bem. Eu não sei como podem viver tanto tempo fazendo maldade pros outros. Só pode ser mesmo, perversidade, loucura". Edgar respondeu: "Eu já estava sabendo dessa história. Ouvi ontem no rádio alguma coisa sobre isso. Diziam que o chefe não era geladeira, mas que também era imenso, branco e gélido. Será verdade?"
Edgar notou que tia Cris estava bronzeada. Antes que ele falasse qualquer coisa, ela muito solícita, enchendo o copo de pinga disse-lhe: "Ah, eu quero aproveitar bem esse verão. Quem não gosta de sol é barata. Sabe seu Edgar, eu adoro tomar sol no quintal." Edgar D. Nal respondeu: "Eu pensei que você freqüentava o clube. Dizem que você tem um vizinho, que mora sozinho num barraco coberto com plástico preto, e que vive observando os movimentos no seu quintal. É verdade?" Tia Cris, muito embaraçada respondeu: "Ah, seu Edgar, eu nem ligo. O coitado tem uma antena sofisticada, mas dizem as más línguas, que não funciona. Que ele não tem dinheiro pra pagar as contas."
De repente adentrou ao salão o Ernesto Mail. Ele foi logo falando: "Edgar, cisticerco de porco velho! Você estava sumido. O que te aconteceu, meu chapa, esteve preso, internado?" Enquanto D. Nal reunia as forças para responder àquelas investidas, E. Mail prosseguiu: "Comentam que o prefeito Jarbas enviou um projeto de lei à câmara municipal com o fim de revogar a lei da gravidade. Segundo comentários, o prefeito acha que a lei é muito antiga, do tempo do Newton. Vocês se lembram dele? E que foi por causa dessa lei velha que morreu tanta gente no desabamento do sobrado que o Pitirim Zorror construiu no centro da cidade".
Atordoado com a pinga Edgar D. Nal conseguiu dizer: "E. Mail, você melhorou? Para quem confunde a meia com amei-a, você está ótimo!"
Ernesto Mail, de repente, enfiou a mão por dentro da calça e com um gesto brusco, arrancou o mal pela raiz: era um pêlo pubiano encravado que lhe dava uma agonia horrível.
Enquanto os dois se dedicavam a beber a dindinha e a tia Cris a lavar os copos, parou defronte ao bar a famigerada Luisa Fernanda. Desceu do seu Scort velho e entrando com o pé direito no boteco, solicitou uma cerveja em lata. Acendeu um cigarro e quando tia Cris a serviu, Luiza pegou o celular e com muita pose iniciou uma simulação de conversa.
Luisa Fernanda dizia: "O Brasil encontra-se nesse atraso vergonhoso por causa dos professores. Antigamente, quando eu era estudante do grupo escolar, percebia que as "mestras" descontavam suas neuras e loucuras nas crianças indefesas. Hoje é diferente, as frustrações dessas pessoas não são canalizadas contra os alunos por causa da lei. Então aquele ódio e agressividade dessa gente corrói eles mesmos. Daí a grande quantidade de "mestras" dependentes dos serviços psiquiátricos."
Edgar D. Nal e Ernestou Email se olharam e trocaram gestos de surpresa. Alçaram seus copos e brindaram. Daquele momento em diante a prosa no boteco mais famoso de Tupinambica das Linhas prometia vívidas emoções.
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