O tal espírito homicida, ladrão e luxurioso que habitara o corpo do bandido baleado e morto incorporara em Célio. Sentia ele que deveria a todo custo vencer seus oponentes. Seriam tratados como escravos. Teriam suas correspondências violadas, seus telefones com escuta clandestina e seriam seguidos por onde quer que fossem ou estivessem. Em todas as reuniões que fazia naqueles grupos de amizade sempre colocaria uma falsidade, uma mentira e distorceria completamente a verdade contra suas vítimas. Dinheiro não lhe faltava. Muito menos a solidariedade dos seus familiares. Eles achavam que estava coberto de razões.
E tudo por causa da má comunicação. Célio não conseguia fitar os olhos das suas vítimas. Não conseguia manter um diálogo com o qual pudesse resolver suas diferenças. Todas as tentativas de acerto de contas se dava por meio de terceiras interpostas pessoas; que revolveriam todo o passado do indigitado. Até arquivos e fichas médicas de suas vidas seriam revistas e disseminadas.As mais recôndidas lembranças do passado e da infância dos adversários seriam tocadas.
A consequência é que os desentendimentos se acumulavam. E para não ficar sobrepujado, Célio resolveu pagar algumas pessoas para que seguissem também os passos de todos os familiares da vítima.Tais atitudes tinham dois objetivos: o primeiro era coletar o maior número de informações sobre os obsidiados. O segundo era criar certa consciência paranóica. Se não tivessem o desvio teriam agora. O reflexo estava se instalando lentamente como um vírus que sorrateiramente penetra um programa.
O automóvel dos perseguidos seria sabotado. Problemas de toda ordem apareceriam em todos os setores da vida e da propriedade daqueles desgraçados. E Deus certamente estaria do seu lado. Célio tinha confiança nisso.
As provocações continuariam. Os boatos e as maledicências seriam espalhados entre as crianças e adolescentes provocando o temor e o afastamento.Suas vítimas seriam demonizadas. Seriam excluídas daquele bairro. Ninguém do comércio local lhes venderia um figo podre. Os cães seriam açulados durante as noites. A fumaça expelida nos momentos das refeições. Os trotes pelo correio e pela campainha seriam de atormentar. No telefone não passariam um dia sequer sem pelo menos dois enganos. No trabalho e demais atividades aqueles peçonhentos seriam desacreditados. Seus grupos de apoio atuavam em níveis de gerência e cada um deles tinha dezenas de crédulos sob manipulação.
Mas, porém, entretanto, eis que surge a divina providência: aquele espírito de eqüidade, de simetria, de reciprocidade, de justeza e perdão.
Quem afinal venceria a contenda??? O amor ou o medo???