Usina de Letras
Usina de Letras
52 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62245 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50643)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->TAPA NA CARA -- 09/01/2006 - 17:21 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TAPA NA CARA

Fernando Zocca

Tupinambica das Linhas, como era notório, foi considerada por alguns especialistas, o trecho do universo que concentrava por metro quadrado, a maior quantidade de loucas, histéricas e alucinadas, jamais vista em toda a história da humanidade. Esse tipo de matéria prima da região, era amplamente usada pelos membros da seita maligna do pavão-louco, na manutenção do poder político no local.
Não se sabe por qual motivo, se por hábito, prática antiga, influência d algum modo de vida importado ou machismo, algumas pessoas tinham o costume de, na presença de muitas testemunhas, esbofetear outras.
Talvez fosse o resquício do modus faciendi do século 18, quando na França, se desafiava o desafeto, para duelo.
Assim, quando a mocinha se sentia ofendida com algum dito ou mal feito pelo vizinho chatíssimo, fazia logo sua trama culminante num bofete na cara do maçante.
O deputado Tendes Trame, representante de Tupinambica das Linhas, na capital estadual, quando adolescente era um jovem rebelde que vagava de bar em bar bebendo água-de-briga e jogando bilhar. Como todo mundo sabe ele sofreu alguns "desafios para duelo". O primeiro deles foi assim:
Trame não gostou quando algumas moças caipiras mudaram-se para a casa antiga, contígua da sua. Ele ouvia o burburinho quando elas estavam no quintal e odiava. Mas seus pais achavam que assim como os brancos tentavam fazer contato com alguma tribo indígena afastada, usando tato e delicadeza, os primeiros momentos de aproximação entre aquelas famílias, em tese, também deveriam ser muito delicados.
Havia furos no muro que separava os quintais. Elas olhavam-no de lá e ele as via de cá, pelos buracos entre os tijolos. Uma espécie de zanga, certa ocasião, fez com que Tendes tivesse uma idéia agressiva: com um graveto, ele raspou as bordas do orifício, deixando acumular o pó do reboco seco, na parte inferior do rombo.
Ele então, por cima do muro, chamou uma das mocinhas e simulando a intenção de mostrar a ela algo que lhe despertou a curiosidade, fez com que a menina colocasse o olho defronte ao buraco. O malvado então, respirando fundo, soprou toda aquela poeira nos olhos da garota. Até aí esse tal de Tendes Trame já merecia um "desafio para duelo".
Passaram-se alguns dias e quando Tendes terminava a leitura de "A Gaivota" do Tchekhov, bateu à sua porta um antigo colega do ginásio.
Era Bili Rubina um daqueles que, do fundo da classe, nos tempos de antanho, atormentavam as professoras com suas patacoadas fenomenais. Eles conversaram animados, relembrando as ocasiões em que ambos aprontavam as diabruras na escola estadual. Depois de um certo momento de lengalenga, o visitante Bili convidou Tendes Trame a um passeio.
Saíram caminhando e após algum tempo, chegaram à casa duma moça que apresentava certa semelhança física com a vizinha chata, vítima do sopro. A jovem mostrou-se interessada na prosa do Tendes.
Quando Bili Rubina percebeu que os dois entrosaram na conversa, sentiu-se meio deslocado e por isso, disse que iria embora, que voltaria pra casa. O amigo despediu-se do Bili e contou estar muito feliz por tê-lo visto bem, com boa saúde.
Já passava das 10 da noite quando o papo entre os jovens começou a esquentar. Discordavam tanto e sobre tudo que, num determinado momento, sob o impulso irrefreável da ira, a jovem tascou, nas fuças do Tendes, uma tapona sonora e dolorida. Esse foi o primeiro "desafio para duelo" que o Tendes Trame recebeu na sua gloriosa trajetória.
O segundo bofete foi assim:
Era tempo de carnaval e Tendes Trame comprou uma eletrola portátil onde ouvia as marchinhas carnavalescas impressas nos LPs de vinil. Uma delas dizia: "Patrão o trem atrasou/ por isso estou chegando agora/ o senhor não tem razão pra me mandar embora/um atraso é muito justo, quando há explicação/ sou um chefe de família/ preciso ganhar o pão." Outra contava: "Vai, vai amor, vai, que depois eu vou/ Sei que vais pra longe/ Não poderei esquecer/ Já fiz promessa ao Senhor/ não me deixe neste mundo a sofrer/ Vai que depois eu vou."
A certa altura da oitiva musical, à noitinha, surgiu Bili Rubina convencendo o Tendes a dar uma volta pela praça recém reformada. Naquele tempo o prefeito Jarbas-caquético-testudo-ladrão-safado, havia convencido seus seguidores de que uma mexida naquela ordem estabelecida, daria mais vitrine para o partido do que qualquer outra suposta iniciativa. E lá se foram Bili Rubina e Tendes Trame.
Quando passaram defronte a um boteco onde havia muita gente reunida, Tendes viu uma picareta enorme em cima duma mesa. Ele sentiu um desejo inexplicável de parar por ali mesmo. Pararam e Bili pediu duas laranjadas. Parece esquisito, mas Bili Rubina era meio fresco e não gostava de bebidas alcoólicas. Sua mamãe, já o prevenia desde os tempos de grupo escolar, que bebida não fazia muito bem para os membros da família. É que o pessoal não era lá muito normal e qualquer alteração na dieta corriqueira poderia ser, digamos... desaconselhável.
Depois de algumas horas ensebando o boteco, Bili pediu ao Tendes que pagasse a conta. Deveriam ir embora logo. Já era tarde. Ocorre que Tendes nunca tinha dinheiro e por isso um impasse terrível tomou conta da dupla. Como resolveriam aquele problema? Tendes Trame pensando que o proprietário do botequim, atazanado com todo aquele movimento de pessoas, não perceberia uma saída à francesa, disse ao colega que deveriam sair de fininho. E foi isso mesmo o que eles fizeram.
Mas acontece que o Eli A.S. Turkodonkey, já prevento com aquela dupla, percebeu a intenção e quando os dois estavam abandonando o local, foram barrados pelo comerciante. Houve altercação. E nesse momento então, meus amigos, minhas amigas e senhoras donas de casa, o Tendes Trame recebeu o seu segundo "desafio para duelo". O impacto do tabefe foi tão violento que a vítima fez xixi nas calças.
Passaram-se alguns anos, Tendes amadureceu, Bili Rubina sumiu e Jarbas o prefeito caquético cassado, foi esquecido.
Mas antes de se aventurar na vida política, Tendes Trame passaria por outro momento difícil na sua vida. Foi naquele tempo em que Tupinambica das Linhas assistia atônita a construção dum prédio jamais visto no estado de S. Tupinambos. Teria 15 andares, 54 apartamentos, cinema na área térrea com capacidade para 1.300 espectadores. E foi naquele tempo também que se instalou, numa das esquinas da cidade, o bar da tia Mary Door.
Tia Mary Door ex-marafona, sacada da zona do meretrício por Neco Door, abriu seu bar na região central da cidade, tentando nessa vida de comércio, ascender socialmente; ela desejava ser normal como qualquer outra mulher.
Tendes jogava bilhar no boteco vizinho, quando por um veadinho, foi convidado a conhecer o novo bar da tia Mary Door. Ingênuo, lá se foi o desditoso. Mal chegou e levou na cara a maior bifa desnorteante que ele jamais havia sentido. Tendes não sabia porque estava apanhando, mas a turma toda que assistiu a cena, sabia porque Mary Door batia.
E, passados muitos e muitos anos, quando então o pessoal queria constranger o Tendes Trame, era só chegar perto dele e, assim como quem não quer nada, bater com certa insistência, as portas do carro.
Isso era Tupinambica das Linhas sob o poder de Jarbas, o caquético testudo e das forças da seita maligna do pavão-louco.



Em breve: www.laranjanews.com.br
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui