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Contos-->BATENDO PORTAS -- 12/01/2006 - 18:43 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BATENDO PORTAS

Fernando Zocca


Tupinambica das Linhas também tinha suas bichas extraordinárias. Uma delas vivia pelas ruas conclamando os motorneiros. Ninguém sabia porque Lena, quando histérica, passava horas caminhando pelas vias centrais da urbe bradando a palavra "motorneiro".
Ela nasceu em dezembro de 1959 numa quebrada de serra, existente naquele tempo, na periferia da cidade Seu nome de batismo era Antônio Leitão. Quando criança brincou de casinha até completar 13 anos. Ela não conheceu o pai, mas segundo alguns beiçudos, tinha sido um estuprador fugido lá da Bahia. Sua mãe foi uma das fundadoras da zona do meretrício no município.
Lena não sabia ler nem escrever. Não freqüentou regularmente nenhuma escola, mas para sobreviver empregou-se, quando adolescente, como diarista na casa da deputada Bentinha da Conceição Pénellas.
A deputada, naquele tempo, vivendo as benesses do segundo mandato, acolhia prostitutas e gays, visando com isso, agradar a esse segmento do eleitorado. A legisladora, fora responsável pelo traslado de quase uma centena de pessoas lá da Reipolândia, região onde a mãe de Lena meretriciava.
Alguns estudantes de psicologia, numa certa ocasião, atribuíram aqueles chamamentos de Lena à necessidade dela ter o pai junto de si. Muitos diziam, ninguém sabe ao certo, ser o genitor de Lena, na verdade, um motorneiro e que fora traído pela mãe, aquela marafona sem-vergonha.
No desempenho das suas atividades como doméstica Lena não era das melhores. Ela não sabia passar roupas, e as camisas, especialmente as brancas, muita vez, as deixava com amassados causadores de aborrecimentos aos patrões.
Lena sempre desatenta, não percebia quando o arroz estava pronto ou quando a água do feijão fervia. Não eram raras as ocasiões em que tinha de fazer tudo de novo. Quando isso acontecia, a deputada perdia seus compromissos, ou quando não, ficava sem as refeições.
Quando Lena faxinava tirava todos os móveis dos seus lugares. Entrava pro trabalho as 8 e saia depois das 18. Ela nunca ouvia as queixas ou reclamações sobre seus malfeitos.
Lena gostava de bares e de estudantes. Muitas vezes, depois que recebia seus salários, passava algumas horas bebendo na companhia dos calouros e veteranos. Lena adorava também comer cebolas. Deglutia-as cruas, fritas, e assadas nas saladas, como tira-gosto.
Numa ocasião, à noite, depois de namorar o marido duma jornalista famosa na cidade, numa estrada deserta do bairro Monte Feliz, ela percebeu, quando chegaram, que uma das rodas traseiras do veículo fumaçava. Ante seu questionamento, o professor respondeu que transitara, o tempo todo da volta, com o freio de mão acionado. E que não notara o erro por causa do cheiro horrível de cebola que empesteava o carro.
Quando Lena disse ao professor que o jornal em que sua mulher trabalhava só publicava notícia escrita por ela, ele zangou-se. Mas não adiantou. Lena apresentando estatísticas asseverou: "Em cada 20 matérias publicadas no jornaleco semanal, 19 eram assinadas por ela. É um jornal feito por uma pessoa só, sem pai nem mãe". Não é preciso dizer que o teacher queria morrer.
Além da cebola, Lena sentiu o gosto pela política, já na casa da deputada Bentinha da Conceição Pénellas.
Lena maganão aprendeu rápido, que bajular os poderosos poderia render-lhe dividendos jamais sonhados. Por isso vivia num puxa-saquismo que chegava entojar.
Numa véspera de Natal, muito louca com a vida, Lena, parou numa das esquinas mais movimentadas de Tupinambica das Linhas. Lá começou o chamamento do pai. Ela gritava: motorneiroooo!... motorneiroooooo! Nem o pai e muito menos o papai Noel pararam. Parou, isso sim, uma viatura da guarda estadual. Veio até delegado de polícia. Lena nem caiu dos tamancos. Depois de algumas horas na delegacia de polícia foi dispensada.
Dizem que Lena lutava caratê e capoeira, mas ninguém acreditava. Ninguém poderia crer também que ela acalentava o sonho de ser eleita vereadora da cidade de Tupinambica das Linhas. Ele só não se concretizou por pequenos detalhes, um deles era: se eleita, Lena usaria, na câmara municipal, o banheiro dos homens ou das mulheres? Outro detalhe: se eleita Lena tentaria mudar regras antigas tais como as que definiam alguns locais de entrada e de saída?
Longe de demonstrar qualquer tipo de preconceito ou exclusão, o povo Tupinambiquence deveria mesmo aceitar como seu representante no legislativo municipal, aquele produto legítimo da terra. Isso não era mesmo fantástico?


Em breve: www.laranjanews.com.br
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