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Contos-->O homem da casa -- 13/01/2006 - 01:08 (Rogério Penna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Encontraram-se no elevador. O homem de sapatos foi cumprimentado, mas manteve a cabeça dentro do jornal.
- Bom dia!
- Hum.
Desceram os dois no 4º andar. Tomaram a direita, um limpando os sapatos, o outro arrastando os chinelos. O homem de sapatos chegou antes à porta de seu apartamento e revistava os bolsos em busca das chaves quando chegou o homem de chinelos.
- Posso ajudar? Eu moro aqui.
- Como mora aqui? EU moro aqui. Aqui no 401.
- Desculpe sr. Há algum engano. Esse é meu apartamento. E esta é a chave da porta...
Ambos retiraram dos bolsos as suas chaves, idênticas. Analisaram o formato, o recorte dos dentes... Era a mesma chave! Entreolharam-se.
- Como você pode tem a minha chave?
- Já disse ao sr. que moro aqui. Com minha mulher e meus filhos...
Ambas as chaves abriam a porta. Entraram. A sala vazia. Lá de dentro vinham passinhos.
- Papai, papai! Papai?!?!
A menina de 3 anos olhou aterrorizada. Olhou para um. Olhou para o outro. E depois saiu correndo de volta ao quarto, sem entender nada. No caminho, encontrou o colo da mãe e enterrou a cara em seu pescoço num choro compulsivo...
- Calma minha querida. É o papai.
Deixou a pequena no chão, beijou um e outro com o mesmo carinho. Fez com que se sentassem em duas poltronas que haviam perto da janela. Retirou o paletó de um, o chinelo de outro e foi para o quarto com ambos nas mãos. A menina olhava imóvel para os dois homens sentados nas poltronas. Evidentemente para ambos, sua filha legítima iria esclarecer a situação e expulsar de vez aquele intruso. Esticaram simultaneamente os braços.
- Vem pro papai filhinha. Vem!!!
A menina ensaiou alguns passos na direção de um, depois na direção do outro. Abraçou a ambos com um olhar científico de experimentação. O dedinho coçou a testa, em dúvida. Indecisa, sentou-se e passou a brincar com a boneca.
Passa a mulher para a cozinha e volta com garrafas e 2 copos.
- Sua cerveja meu amor! (Beijo). E o seu uísque... (Beijo).
Estava mais do que claro que não poderiam contar com ela para descobrir o que estava acontecendo. Fosse o que fosse, e se estava envolvida, aquela mulher devia uma boa explicação, pensavam os dois. Passaram então a trocar perguntas sobre a família, o apartamento... Coisas que jamais um estranho poderia ter descoberto. Seria desfeita a brincadeira!
- Qual o desenho favorito da Robertinha?
- Qual a banda favorita do Felipe?
- Quais as flores preferidas da Gabriela?
- Quanto custou a reforma do encanamento do banheiro?
Ficaram surpresos. A única pergunta que puderam responder foi sobre o banheiro. Sem admitir tal alienação aos gostos familiares, no entanto, os dois esforçaram-se para identificar qual a música que vinha do quarto do filho mais velho que acabava de abrir a porta (definitivamente, aquela barulheira não era Beatles).
- É o seguinte pai, preciso de dinheiro para ir pra praia com os meus amigos. Vai todo o mundo e se eu não for eu vou ser um excluído e...
- Nem sonhe com essa viagem. Você sabe que está de castigo. Se você gosta tanto dos seus amigos, deveria freqüentar as aulas para vê-los mais vezes!
O olhar do menino se dirigiu ao homem de chinelos.
- Você ouviu o que ele disse. Sem aula, sem viagem. Aluga um filme...
Enfim estavam se entendendo. Mas isso não resolvia a questão. Passaram a revistar a casa em busca de algo que provasse sua legítima propriedade sobre o imóvel e sobre a família. Abriram as gavetas.
- Veja esse CD do Tom Jobim! Esse CD é meu.
- Esse CD do Mozart! Esse é meu!
- E de quem é esse do Roberto Carlos?
- É meu!!! - gritou a mulher de lá de dentro.
- Olha o meu Saramago!
- O Código da Vinci é meu! Tem até dedicatória...
- E esse gibi?
- Meu! – a menina veio tomar os quadrinhos da mão deles.
Não era possível. Todos aqueles objetos misturados só aumentavam a confusão. Era preciso uma medida drástica. Recorrer ao mais intransferível dos objetos masculinos, que definiria da uma vez por todas quem mandava, afinal, naquele terreiro: a gaveta de cuecas.
Entraram no quarto aos solavancos. Empurraram-se na porta. Abriram a gaveta da cômoda e começaram a contar quem possuía mais peças guardadas. O dominador da gaveta de cuecas expulsaria o intruso e reinaria triunfante de volta ao seio familiar.
Havia 25 artigos. 12 brancas, de algodão, como gostava o homem de chinelos. 12 pretas, de seda, ao estilo do homem de sapatos. Buscaram no fundo da gaveta, atrás das meias (também rigorosamente empatadas), o ponto de desempate. Encontraram-no amassado e já usado: uma samba-canção estampada.
- De quem é isso?
- Silêncio!!! É dele! Chegou cedo pois não pegou trânsito... - disse a mulher apontando para o estranho que dormia, nu, sobre a cama.
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