Foi com grande desprazer que descobri que os cidadãos, os seres classificados pela ciência como homo sapiens, tem menos direito do que os cães, cujos nomes científicos desconheço.
Mais de uma vez pude confirmar a descoberta. Começou já faz tempo, andando pelo Espaço Alternativo da avenida Jorge Teixeira, nas proximidades do Aeroporto Jorge Teixeira, antigo Belmont. Todas as tardes de folga eu procuro caminhar, assim como centenas de pessoas na cidade de Porto Velho.
Durante a semana há poucos cães, pois o número de frequentadores do espaço, que funciona entre 17h e 20h, está limitado aos que deixam o serviço e não têm compromissos noturnos, como os professores e alunos de ensino médio e faculdades.
Aos sábados e domingos o espaço é tomado por centenas de famílias, ciclistas, skatistas, e, naturalmente, por jovens que levam seus pitbulls, rotweillers, pinchers e outras raças de cães para passear.
Harmoniosamente os pitbulls e rotweillers dividem o espaço com as crianças desarmadas, esperançosas de uma mordida, de um ataque mais eficiente que torne a consciência dos jovens de classe média, muitos deles de origem "nobre", eficiente.
Tem sido assim ao longo dos anos, com os policiais militares assistindo os proprietários de cães desfilando seus mastins pelo espaço que deveria ser ocupado por pessoas despreocupadas.
Em novembro do ano 2001 quem estava por lá pode ver dois pitbulls brigando. Cena poética. E mesmo os cães pequenos de vez em quando aprontam.
Mas o melhor foi no último domingo, dia 29 de setembro, quando alguém teve a idéia de organizar uma cãominhada no espaço, e então os cidadãos sem importância tiveram que conviver com dezenas de cães, com uma quantidade razoável de pitbulls, rotwaillers, dogs, pastores alemães, e outros menores.
O espaço dos homens foi destinado aos cães, e um deles atacou uma senhora, um pitbull. Provavelmente a culpa foi da mulher, que violou o espaço sagrado dos cães. Assim deve entender o dono da besta.
Os organizadores do evento tiveram a ótima idéia de entregar prêmios aos participantes e os pedestres que chegavam ao local tinham que se esgueirar entre os monstros. Foi assim que descobri como funciona a sociedade.
Quem quiser ser respeitado que se transforme num cão. Assim estará protegido pela lei, e talvez ganhe carinho de madame pelo resto de seus dias.
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