Correspondência Maldita (I)
A Primeira Carta de Eva Braun a Adolf Hitler
-------------------
Adi
Ich bin jetzt hier...ich spreche etwas portugiesisch...Estou tão assombrada com o teu inesperado retorno que me engasgo toda, misturo as línguas e meu corpo treme de cima abaixo, não sei se por medo ou alegria. Vejo que voltastes no ritmo de uma blitzkrieg, arrombando portas feito um Anjo Exterminador, pisando o solo sagrado do mundo virtual com a fúria de um gladiador que não teme as feras que o acossam. De que limbo fostes expulso desta vez? As trevas começaram a entediar-te? Não devo acreditar que voltastes só por amor, seria demais para mim. Teu Romeu adormecido despertou? Quando ergues assim a tua espada de El Cid, é a mim que queres defender? Não quero acreditar, meu coração pulsa tão forte agora que mal consigo alinhavar estas palavras, veja, estou suando, meus pensamentos descompassam...já faz tanto tempo, Adi. O que queres de mim? De mim, que te procurei por todos os infernos, atrás de portas e espelhos, embaixo de camas e de túmulos, dentro dos livros e nos acordes de música, no delírio dos loucos e no devaneio dos videntes, em obituários, horóscopos,búzios e tarô, nas atas do julgamento de Nuremberg, no silêncio das noites e nos olhos das águias. Eu, que te procurei no fundo de todos os mares, achei Atlântida mas não te encontrei. Uivando teu nome para a lua, reconheci lobisomens mas não ao teu rosto tão querido. Invoquei demônios e santos, falei com Deus e o Diabo, perguntei aos mortos e aos vivos, aos não-nascidos e aos reencarnados, subi montanhas, atravessei desertos, viajei ao centro da Terra, cruzei a barreira do tempo, conheci o Éden e a Babilônia, embriaguei-me de Eternidade. Fugi de Deus e do Destino. Fiz pouco da Morte e do Diabo. Disse umas verdades à Mentira e debochei da Verdade. Abandonada, pedi coragem à Covardia e paguei com Medo. Sim, esta é só parte da minha história, uma história imperfeita e inacabada, porque também eu sou imperfeita e inacabada, uma página coberta de caligrafia irregular onde só se faz legível a certeza de meu amor por ti. Aqui estou, meu querido, a teus pés. Eva Braun inteira e desassombrada. E depois de dizer-te tudo isto, sinto que uma calma inesperada toma conta de mim e meus olhos se fecham porque é noite. É noite e te espero.
Com amor
Eva
|
