Trovas de Ciclotimia
Elane Tomich
... no cérebro, caos de anteontem
pós conhaque, primavera
ontem não houve o homem
manhã, dentifrício e espera.
Futuro, ouso sonhar
Éden escondido em heras
eras e fogo e amar
verão folha verde e amarela
Matizes deste Brasil
que de branco enlouquecido
ao azul-pálido, anil
roxo lábio esmaecido...
.... cordel morre sem beijar
Elvira, a morta virgem.
Oxum dos rios e margens
varridas marés de Iemanjá.
Somos muitos somos um
marrom glacê, feijoada
canto Gregório, Ogum
Chenstorrowa abençoada
Gralha azul rompe geadas
explosão da pinha em seta
grimpa, araucária queimada
perfume de pinho e metas.
Inda falo do Amazonas
do nordeste, pantanal
falos a derrubar zonas
Exu a benzer-se ao mal.
Que mal tão grande não há
igual matança de hoje
ao ciclo dos tracajás
uirapuru canta e foge.
O fogo não obedece
à cadeia alimentar
meu coração adoece
de, por ti, não se queimar.
Sobressai a sapucaia
ao ofertório do Ipê
Rosa levanta a saia
orquídea aberta se vê
Nasce de novo no mangue
esculturado em marisco
meu coração ex-exangue
forte... Marca de obelisco.
Morre, the great Amazonas
pequenas secas, enfartes
verde era a negra zona
prostituída se parte.
Fica areia do Nilo
deserto, passado demais
na consciência de um grilo
Amazônia, nunca mais?
Acima do bem, do mal
longe em ilusão de estrelas
na estação espacial
não há pizza, nem panelas.
Noite de amor virtual
maquio-me à webcam
sonho Toulouse Lautrec
ópio, absinto, Can-can.
...ante sonho de ante ontem
depois de ontem a fera
o homem matou o homem
e esvaziou-se na esfera.
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