APARECIDA, segunda-feira, 4 de junho de 2007 (ZENIT.org).- Já na primeira missa dentro dos trabalhos da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, no dia 14 de maio, o cardeal Giovanni Battista Re deixou seu elogio. E muitos outros se ouviram de bispos durante os 18 dias da reunião eclesial.
Os cantos das celebrações litúrgicas da Quinta Conferência e o coral do Santuário de Aparecida foram chamados de «extraordinários» pelo cardeal Francisco Errázuriz Ossa, arcebispo de Santiago do Chile e presidente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano), na missa de encerramento do evento.
Zenit entrevistou dois dos principais músicos do Santuário de Aparecida sobre o trabalho musical que tanto encantou os participantes da Quinta Conferência e os peregrinos. Ana Walquíria dos Santos Marioto é organista e cantora oficial do Santuário. Já Sílvio Lino dos Santos é organista e músico do Santuário.
--Como foi o processo de preparação do coral e dos cantos?
--Ana Walquíria: Nós tivemos de reunir cerca de 120 pessoas e ensaiamos durante os três meses que antecederam a Quinta Conferência. Durante esse tempo nós trabalhamos juntos aos organistas e o maestro Ismael Floriano para realizar este trabalho, não só com músicas em português, mas também em espanhol. E estamos muito contentes porque o grupo respondeu muito bem ao trabalho.
--Como se deu a seleção das músicas?
--Silvio: As músicas foram escolhidas pela equipe de liturgia da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com o frei Joaquim Fonseca, que coordenou essa parte de liturgia. Ele escolheu as músicas de cada dia do evento e nos trouxe as partituras, para nós ensaiarmos com o coral.
--Então a CNBB estabeleceu uma parceria com o Santuário de Aparecida…
--Walquíria: A CNBB passou a nós esta incumbência de ensaiar e preparar os cantos e o coral não só para a Quinta Conferência, mas também para as celebrações do Papa em sua visita a Aparecida.
--Como é desenvolvido o trabalho de liturgia no Santuário de Aparecida, especificamente na parte de música?
--Walquíria: Temos o núcleo de liturgia de música, que é composto pelos organistas do Santuário mais o regente. E há alguns padres redentoristas responsáveis pelo setor que nos orientam na questão da seleção das músicas, de acordo com a liturgia.
--Silvio: Durante a realização da Quinta Conferência, nós vivemos o tempo da Páscoa, então foi a liturgia pascal. E com a festa da Ascensão do Senhor, festa de Pentecostes e também a festa da Visitação de Nossa Senhora. Então nós vivemos aqui no Santuário os tempos litúrgicos. Celebramos e cantamos os cânticos conforme a liturgia.
--O que vocês destacam da experiência de cantar num evento como a Quinta Conferência?
--Walquíria: Eu fiquei muito feliz e honrada por fazer parte de tudo isso. Fiquei muito feliz com o trabalho do coral, pois são pessoas voluntárias, pessoas que em sua maioria não têm a função de cantar diariamente, especialmente as músicas em espanhol e também cantos até então desconhecidos por elas. Houve uma dedicação muito grande. Fiquei muito contente.
--Silvio: Houve também um carinho muito grande dos peregrinos. As pessoas nos conhecem através dos meios de comunicação social, principalmente a TV e a Rádio Aparecida. E quando essas pessoas têm a oportunidade de visitar o Santuário, elas querem nos conhecer, porque escutam a nossa voz e percebem a nossa dedicação aqui na Basílica de Aparecida, ajudando o povo a rezar e a participar das celebrações através da música.
--As paróquias devem ter um cuidado todo especial com a parte musical das celebrações, não?
--Walquíria: Música é oração. Eu vejo que a música é um momento sublime e o caminho mais rápido de chegar até Deus. Às vezes uma frase, uma melodia bem cantada e interpretada eleva todos os sentimentos dos romeiros que vêm aqui ao Santuário até Jesus.
--Sílvio: Santo Agostinho já dizia que quem canta reza duas vezes. Então nós procuramos fazer da Pastoral da Música um momento oracional com os romeiros aqui no Santuário todos os dias.
--O Santuário de Aparecida acaba sendo um modelo de liturgia para todo o Brasil, já que as celebrações daqui se difundem por todo o país via rádio e televisão.
--Sílvio: É uma responsabilidade e um cuidado muito grande que nós temos de ter, porque se o Santuário se equivoca, nós induzimos várias outras pessoas e comunidades ao erro. Então é preciso estar muito atento ao que se canta aqui no Santuário de Aparecida, porque certamente muitas paróquias e as dioceses vão seguir como modelo de liturgia do Santuário.
--O Santuário de Aparecida é belo, e a liturgia e os cantos aqui também o são. Esse contato com a beleza é importante como forma de contato com Deus?
--Walquíria: O Santuário tem um momento mágico, que a pessoa que chega aqui, não só pela imensidão da própria igreja, mas o acolhimento que o Santuário procura ter com os romeiros, a começar da música, onde se tem todo um cuidado e zelo. Nós ficamos felizes de acolher as pessoas simples e humildes, como também as abastadas, que vêm agradecer, vêm pedir, louvar a Deus e, através de Nossa Senhora, ter mais intimidade com Jesus.
--Sílvio: Nós procuramos viver um slogan do Santuário: acolher bem também é evangelizar. Aqui no coral, pessoas que nunca se encontraram, que nunca se viram, cantam os mesmos cânticos, rezam as mesmas orações. Para a Quinta Conferência houve todo um trabalho especial e um coral fixo, mas nos dias comuns nós formamos o coral com os próprios romeiros presentes. Convidamos 100 a 120 pessoas a formarem o coral de Nossa Senhora todos os dias. Então pessoas que nunca se viram contam os mesmos cânticos e rezam as mesmas orações, e isso é um milagre de Nossa Senhora que acontece todos os dias na Basílica. Meia hora antes das missas, um sacerdote convida fiéis que estão na Basílica, mas há alguns anos já não é necessário convidar mais. Quando nós chegamos para fazer o ensaio para a missa, o coral já está formado.
