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Contos-->Só -- 27/01/2006 - 23:14 (Bruno D Angelo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
José saiu sem olhar para trás. Deixou no quarto, esposa e dois filhos, enlaçados, encaracolados, amorfos. Do seu lado da cama, restaram apenas a deformação no lençol causada pelo peso de sua existência temporária e o calor emanado de seu corpo, que acabaria por se dissipar minutos depois.
O dia já começava a raiar. José perdeu-se no horizonte. Na mão direita: uma mala. Na esquerda: memória; uma foto amarelando da família que deixava na solidão. Ou seria fardo dele carregar a solidão? Sua botina mal cuidada arrastava-se coberta de terra e a poeira que se erguia em sua passagem deixava José invisível, pairando por alguns instantes. Mas ele sempre ressurgia, embora não quisesse ressurgir. Quando se via, encoberto pela espessa e contínua fumaça amarelada, José sentia-se o mais forte, o único, aquele que não precisava fugir de nada; fugia.
O rosto imundo. Suor e pó, formando uma casca sem vida. Apenas seus olhos em movimento; brancos, amendoados e pretos, de lá para cá, procurando desesperadamente algo; uma coisa qualquer que lhe fizesse sentido. Uma salvação.
Trôpego, José começou a correr, na iminência de se estatelar no solo arenoso. O braço surrado de tanto carregar a mala cansada, em que levava seus poucos pertences. As pernas doloridas, tentando alcançar mais velocidade; para onde, não se sabe. As casas ao redor começavam a ficar ainda mais turvas, deformadas e José, primeiro, não mais conseguia identificar os rostos das pessoas que paradas o observavam naquela epopéia descabida, depois, não conseguia identificar mais se haviam pessoas. Parou. A cara no chão. Ficou durante alguns minutos, deitado, esbaforido, tentando recuperar o fôlego; apenas o silêncio o acompanhava neste momento.
Já em pé, limpou-se, dando leves tapas em suas coxas e ombros. Retirado o excesso de poeira, pegou a mala que após sua queda havia sido arremessada poucos metros adiante; arrumou-a na beira da estrada, pelo menos na beira da estrada que José imaginou, e sentou-se. Esperando. O dia já havia tomado posse e imponente o sol reinava no céu. Um galo atrasado cantou. Seus filhos e sua mulher acordaram na pequena casa com pintura descascada. Um caminhão cruzou o deserto rumo a lugar indeterminado. Na beira da estrada imaginária, nada ficou, apenas uma foto duplamente amarelada.

Por Bruno D Angelo
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