Falar sobre flexibilização neste início de terceiro milênio, dentro da conjuntura atual do mundo em que vivemos, faz-me pensar que sou, na verdade, uma espécie de D. Quixote, personagem fora do seu tempo, saudosista, defendendo um direito do trabalho individualista que talvez já não exista mais.
Acho que,antes de tudo, preciso flexibilizar os meus conhecimentos, amolda-los ao mundo do mercado, desfazer-me daquelas idéias humanistas, do direito tuitivo.
O Estado já encolheu demasiado, ja vendeu suas empresas, já abriu mão da responsabilidade de ser o centro dos programas de bem estar coletivo.
O capitalismo volátil faz o dinheiro correr mundo, basta acionar o "mouse"do computador.
O mercado tem sensibilidades de prima donna, provoca quedas na bolsa e desvalorização da moeda até se o Presidente deixe de comer churrasco no sábado, na Granja do Torto.
Por isso tudo ando meio desconfiado de que sou mesmo um personagem desfocado, querendo pintar o cenário do mundo hodierno com as cores do passado.
O Direito Individual do Trabalho, que nós todos ajudamos a interpretar e a construir, parece ter os seus dias contados, porque não interessa aos grandes grupos a existência de ujma legislação que permita, até com certa licensiosidade, vamos assim dizer, que os trabalhadores busquem tantos direitos.
Os direitos constitucionalizados precisam ser removidos de tais culminâncias O mercado pede passagem. O país precisa ser competitivo.
Mas, depois de tudo esboroado, pergunta-se: ainda haverá mercado neste país?
Repito, não sou contra a flexibilização, não posso ser contra. Ela já está aí batendo insistentemente às nossas portas,é uma realidade mundial.
Nada obstante - talvez por ser o D. Quixote dos tempos atuais - luto contra o desmonte total, pugno pela preservação do essencial.