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Artigos-->Por que voto em LULA - Frei Beto Explica -- 02/10/2002 - 17:49 (Klaus Reich) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POR QUE VOTO LULA

Frei Betto



Meu voto é Lula. Embora seja cristão e acredite em milagre, não creio que

Deus fará pelo Brasil o que os brasileiros se recusam a fazer. Portanto, não



fará o maná cair do céu para matar a fome de 53 milhões de pessoas; não

enviará um raio para erradicar a dívida e(x)terna; não transformará o Banco

Central numa cornucópia para saciar de fortuna os projetos sociais. Por

isso, não voto em Garotinho.



Como estou decepcionado com os oito anos de governo FHC, nos quais o Brasil

menos cresceu em toda a história da República, e agora se afunda numa dívida



pública em torno de R$ 750 bilhões, também não quero ver pela frente as

mesmas caras: o Malan monitorando a economia em nome do FMI; o Pedro Parente



fazendo de conta que entende de energia elétrica; o ministério da Justiça

cruzando os braços frente ao crime organizado em terra capixaba. Por isso

não voto em Serra.



E como não tenho memória curta e guardo a amarga lembrança do breve período

Collor, minha insanidade não é suficiente para que eu cometa a loucura de

votar em Ciro Gomes. Deixo a ele os votos de Collor e de ACM. Não o meu,

que muito prezo. Jamais confiei em salvadores da pátria que, como Jânio

Quadros, mais confundem que aclaram, mudando de opinião segundo a

conveniência política do momento.



Nomeado ministro da Fazenda por Itamar Franco, após a desastrada entrevista

do ministro Ricúpero, Ciro Gomes ficou quatro meses no governo FHC e criou

problemas suficientes para não ser chamado de volta

ao cargo no segundo mandato do presidente. Seu desequilíbrio emocional

frente às perguntas dos jornalistas não me permite supor que, uma vez

eleito, ficará curado do destempero e da agressividade. E estou cansado de

ver o PFL usufruir do poder sem deixar cair do banquete dos abastados ao

menos uma migalha para os pobres. E o PFL está com Ciro.



Voto Lula porque ele tem lastro político, um partido consistente, um

programa viável, uma equipe invejável. Prefiro estar ao lado de Maria

Victória Benevides, Dalmo Dallari, Fábio Konder Comparato, Marilena Chauí,

Luiz Pinguelli Rosa, Emir Sader, Paulo Nogueira Batista Júnior, Marina da

Silva, Eduardo Suplicy, Cristovam Buarque, Antonio Candido etc. etc., e

também da CUT, da CMP e do MST, que estão com Lula, do que ficar mal

acompanhado.



Lula não será a salvação da pátria, mas tem todas as condições para arrancar



o Brasil da condição de Belíndia (este misto de Bélgica com Índia) ou de

Colombina (a violência da Colômbia com a quebradeira da Argentina). Enfim,



reduzir consideravelmente a desigualdade social. Segundo o Banco Mundial,

insuspeito, 20% dos brasileiros mais ricos embolsam 64,1% da renda nacional,



enquanto a parcela 20% mais pobre fica com a migalha de 2,2%.



Entre 60 países do mundo, o Brasil é o terceiro em assassinatos, atrás da

Colômbia e de Porto Rico. Em 2000, morreram assassinados 45.919 brasileiros.



Entre os jovens de 15 a 24 anos, o índice cresceu 48% na última década.

Dos 76,1 milhões de trabalhadores, 64 milhões têm ocupação e os demais estão



desempregados. Dos que trabalham, 24,4%ganham no máximo 1 salário mínimo por



mês; 27,5%, até 2 salários mínimos; 13,6%, até 3; 14,2%, até 5; 12,5%, até

10; 5,1%, até 20; e apenas 2,6% ganham acima de 20 salários mínimos (ou mais



de R$ 4 mil) por mês.



Ou seja, 51,9% dos trabalhadores ganham no máximo R$ 400 por mês. E há

1.049.939 crianças de 10 a 14 anos no mercado de trabalho, das quais 39%

trabalham entre 15 e 19 horas semanais, sendo que 9% cumprem jornada semanal



de 49 horas ou mais. Os dados não são da CUT nem do MST.

São oficiais, do IBGE.



Como trabalhador metalúrgico e sindicalista, Lula priorizará os

investimentos produtivos, combaterá a especulação financeira, promoverá a

reforma tributária e, com ela, os mecanismos de distribuição de renda.

Se ele não assegurar a cada brasileiro ao menos 1 prato de comida por dia,

ficará desmoralizado. É impensável um governo Lula sem reforma agrária,

tributação do capital especulativo e uma política eficaz de combate à fome.



Lula vai inverter a pirâmide da educação que, no Brasil, anda de cabeça pra

baixo. Basta dizer que 1/3 da população com mais de 10 anos de idade é

analfabeta funcional, pois não completou quatro anos de estudos. Dos

recursos do MEC destinados ao ensino médio, só 8% vão para alunos oriundos

da esfera dos 20% mais pobres da população. E dos recursos que chegam às

universidades públicas quase a metade é gasta com alunos que pertencem à

casta dos 20% mais ricos da população. O governo Lula vai injetar mais

recursos na educação, estratégia prioritária para arrancar o Brasil do

atraso.



Lula vai? Vai o quê? Sozinho ele não vai nada. A menos que elejamos, com

ele, um Congresso Nacional progressista. Ainda assim, isso não será o

suficiente. Se eleito, Lula só terá condições de governabilidade se houver

mobilização permanente da sociedade civil. Será o primeiro a governar,não

contra o povo, nem para o povo, mas com o povo, transformando em real a

nossa democracia formal. É esta a aliança que tornará viável o governo

Lula: com o povo brasileiro. Fora disso, nem ele nem o PT tem salvação.



Mas para que o sonho se torne realidade é preciso, agora, todo empenho na

eleição de Lula e de governadores, senadores, deputados federais e

estaduais, que haverão de garantir condições para o Brasil mudar. Para

melhor.



Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto ­ Autobiografia Escolar" (Ática),



entre outros livros.

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