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Contos-->O SAPO EPILÉTICO -- 03/03/2006 - 14:56 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O SAPO EPILÉTICO


Fernando Zocca

"Nós cantamos a finura , a transparência, a macieza da pele, e a pele do sapo é grossa, baça e enrugada." (Patrícia Joyce, Anúncio de Casamento, p. 141.)

O nome de solteira de Faustina, mãe do Zé Lagarto, era Fígado. Esse fato levou-o a se interessar pela medicina. Ele queria saber tudo sobre aquela glândula supimpa.
Porém seus estudos não fizeram dele um profissional exemplar, de categoria. Ao contrário, com aquele hábito nefasto-invencível da biritagem, sua profissão foi suplantada pela mania cachacista que o mantinha preso aos bares da cidade.
Certa ocasião, quando Zé Lagarto entrava no mais famoso boteco de Tupinambicas das Linhas perguntou à tia Cris se ela também não gostava de tomar umas e outras, de vez em quando. Podia até ser que pelo excesso de cana no sangue, seus miolos já não funcionassem direito, impedindo-o de manter o bom senso. Mas ele pôde notar alguma esquisitice quando ela respondeu que não bebia por ser vegetariana. "Ora, bebidas alcoólicas não são feitas com carne", pensou ele, deixando quieto o assunto para não polemizar.
Tia Cris passava o pano úmido numa das mesas do botequim quando Zé Lagarto, único freqüentador presente, disse-lhe: "Você soube da malvadeza que estão fazendo contra os simpatizantes do prefeito Jarbas?" Cris sabia que ali tinha mexerico. Mas em sendo melhor ouvir tais novas do que ser surdo, ela pediu que ele continuasse. Zé disse: "Na padaria colocam os pães em sacos infectados. Na quitanda também; ensacam a mercadoria nos receptáculos sujos; a meleca é quase invisível. Mas já foi confirmado. Eles são engenhosos no mal."
O silêncio pairou no ar do botequim. Podia-se ouvir, de vez em quando o voejar de alguma mosca. De repente uma barata gorda saindo debaixo do balcão, atravessou a distância entre o móvel e o canto da parede oposta. Ela tentava esconder-se da luz.
Fábia a morena dengosa que sofreu nas mãos dos tios odientos, dissimulados e vingativos entrou no recinto pedindo mortadela. Depois de servida ela saiu requebrando. Tia Cris passou a contar sua história: "Essa aí, quando tinha três anos de idade, foi levada pelos pais a morar numa casa pertencente ao espólio da família. A avó da menina tinha morrido, mas ao invés do pai dela, da menina, concordar com a venda justa das propriedades, ocupou uma delas e só saiu depois de vinte anos. Ora a ira vingativa dos demais herdeiros foi tão sutil que os pais da moça só perceberam as ações insidiosas deles, quando a família toda estava se perdendo. Inventavam cada armadilha, cada laço do capeta, que dá até medo de contar. E agora eu lhe pergunto: como pode uma criança ou adolescente defender-se das maldades feitas por pessoas falsas? Esse tipo de agressão contra criança indefesa não configura impotência e covardia? Não configura incapacidade para resolver os problemas com os adultos? Descontar nos inocentes é correto?"
Nesse momento entrou Marcão Aureliano. Ele tinha sido um dos primeiros projetos de homem-bomba idealizados pela famigerada vovó Bim Latem.* Ela o teria lançado contra os adversários da seita maligna do pavão abilolado.
Marcão meio redondo, lembrava um certo tipo de sapo-boi. Ele pediu cerveja. Todos sabiam que quando o tal começava a biritar só parava depois da décima garrafa. Mas naquele dia ele bebeu 17.
Embriagado ele dizia com a voz pastosa e cadência de coaxo: "Pode vir forte neném! Vem forte que pratico esporte. Se eu conto mentiras é porque não me lembro da verdade." Cê tá pensando que é fácil fazer site na internet? Olhando para a dona do boteco disse com lascivia: "Todo mundo, que gosta de mim, sabe que meu negócio é uma pinga antes e um palheiro depois."
Num segundo a voz tediosa começou a desaparecer; o corpo foi enrijecendo, os braços fixaram-se no ventre; ele roxeava. A face escurecida contraiu-se e uma gosma branca espumosa vazava-lhe pelos cantos da boca. Os olhos esbugalhavam. Marcão desabou ao solo. Era uma síncope.
Zé Lagarto, lívido e boquiaberto, observava a cena.Tia Cris tomou o telefone e, com calma, discou o número da morada do freguês.
Depois de alguns minutos entrou Ana V. Aso, mulher do velho bico-doce. Experiente com o problema, ela esperou a crise passar, levando então o problemático de volta pra casa.


* O autor refere-se ao conto OS SEGREDOS DA VOVÓ BIM LATEM, já publicado no site www.usinadeletras.com.br




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