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Contos-->A TORNEIRA -- 04/03/2006 - 14:03 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A TORNEIRA


Fernando Zocca


Tia Cris desceu lentamente os primeiros degraus rangentes da velha escada de madeira, com certa apreensão. Ela já não estava tão bem como há uns trinta anos atrás. Eram três horas da madrugada e ela deveria fechar a torneira do banheiro do bar situado no andar térreo do seu sobrado antigo.
Ela sentia muitas dores nos pés e nos joelhos; estava fora de forma. O sobrepeso, causado pela prisão "perpétua" do seu ventre abaulado dificultava-lhe também os movimentos.
Os calmantes que ingeria faziam-na dormir, por isso não os poderia abandonar nunca. Ela soube que uma lavradora ficou 37 anos sem dormir e essa expectativa a assustava.
Tia Cris andava nervosa; sonhava com a morte, bichos enormes, grandes e pesados. Seus irmãos viviam também tristes. Ela lembrou-se, num átimo, das surras homéricas que o pai, sempre bêbado, aplicava com freqüência na mãe. Os gritos e o corre-corre assustavam-na muito.
Cris e os irmãos só deixavam de se atemorizar com a grita e o quebra-quebra quando os pais se separaram.
O pai da Cris voltou para a casa dos seus pais, avós paternos dela, nessa altura das ocorrências, já bastante velhos. A família, sem recursos, lutava pela sobrevivência vendendo pinga e sorvetes.
Já no meio da escada rangedora, a redonda proprietária do bar Eflúvios sentiu certa falta de ar. Pensou em desistir, mas a volta seria mais cansativa do que o término da descida.
Ela tinha que abrir seu negócio, naquele dia, de qualquer jeito. Ela já não suportava mais tanto sofrimento. Deveria voltar ao médico e pedir-lhe que aumentasse a dose dos remédios. Só com eles sentia-se bem.
A melancolia dominava-a durante a maior parte dos seus dias. Havia meses que se sentia sem vontade pra nada. Tinha cólicas horríveis e coçava, com freqüência, a vulva.
Aquele orgulho que a dominava, aquela estima muito exagerada de si mesma, que a fazia olhar de cima para baixo, com altivez a todos, já não era tão acentuado.
No bar permanecia sempre sentada. Sua canseira não tinha limite. As dores de cabeça surgiam ao menor esforço. Tia Cris estava mal.
Quando chegou ao fim da descida, no primeiro degrau da escada, sentiu cheiro de cravos. Um zunido forte fez doer-lhe os ouvidos. A saliva amarga inundou-lhe a boca. Imagens rápidas e disformes passaram-lhe pela vista, até que tudo se tornou um breu só. Desacordada ela não pôde sentir no corpo o baque com o solo. Tia Cris estava morta.


Nota do A.:
Em virtude do falecimento da tia Cris, o
conto TIA CRIS E AS AGRURAS SATURNAIS
não será publicado.

Aguarde:
A mangueira e o monjolo
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