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Textos_Jurídicos-->A idéia -- 01/09/2003 - 12:43 (José Ronald Cavalcante Soares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A IDÉIA



Ronald Soares





A idéia de escrever este trabalho despretencioso nasceu de uma constatação: o Estado moderno - principalmente o nosso, fruto de uma Nação subdesenvolvida, iletrada, desprovida de saúde, endividada, mas, paradoxalmente, gigantesca em potencialidades, na alma simples do seu povo, na tamanho continental de suas terras - pretende ser, pelo menos na cabeça dos administradores de plantão, o guardião do destino de todos, podendo, para tanto, praticar toda sorte de arbitrariedade, contrair débitos que jamais poderão ser pagos, construir obras faraônicas, cortar direitos longamente sedimentados, vender as empresas públicas e as sociedades de economia mista a preço de banana, aplicar dinheiro público em Bancos falidos, enfim, um festival de atrocidades mais desalmadas que aquelas cometidas nos tempos de guerra, fazendo concentrar a renda nas mãos de uns poucos privilegiados e aumentando, a cada dia, o número já astronômico dos excluídos .
Desse imenso cadinho de revolta e nojo,mais revolto e medonho após tantos escândalos que abalaram a confiança já debilitada do eleitor no Congresso Nacional, de toda essa infâmia, do trabalho diuturno debruçado sobre inúmeros recursos nos quais os desprotegidos lançam timidamente os seus derradeiros gestos de esperança, brotou o desejo de extravasar as minhas idéias, semea-las, de algum modo, no pensamento dos que ainda lêem e pensam, imitando o anseio de Castro Alves:
Ó bendito o que semeia,
livros, livros a mão cheia,
e faz o povo pensar
Que o livro caindo n’ alma
É gérmen que faz a palma
É chuva que faz o mar
Mas, infelizmente, por um descaso premeditado e histórico, os governos têm relegado o povo ao analfabetismo, com o intuito inescondível de manobrar a massa com maior facilidade, principalmente, na época das eleições e das medidas antipáticas de arrocho, desfraldando a bandeira do sacrifício em prol da pátria (que pátria ! ? ) .
Esta que aí está, sem saúde, desdentada, analfabeta, sem perspectiva e ameaçada no seu futuro, na verdade, não é a pátria dos nossos avoengos, dos desbravadores, dos bandeirantes, dos nossos sonhos.
Li nos jornais, há algum tempo atrás, mas muito atual em seu conteúdo, artigo de Barbosa Lima Sobrinho , da estatura do seu século de vida, comentava o mais novo rebento bibliográfico de Celso Furtado, “O Longo Amanhecer”, demonstrando a sua enorme preocupação com os destinos do nosso país. Escreveu assim: “Uma síntese excelente, tratando de indagações vitais: “ Que nação estamos construindo? O que reserva o futuro para a economia brasileira num mundo globalizado, onde cada vez menos um governo pode interferir nos rumos que são dados ao nosso país ?”
Se pode parecer impossível fugir dessa realidade cruel, globalizante, também não se pode fechar os olhos para as graves conseqüências sociais que a política brasileira tem gerado sob a alegação de que os efeitos das recentes transformações estão em toda parte do planeta, mesmo que talvez como um modismo passageiro. Já no prefácio, o autor mostra sua preocupação com a perda de importância dos Estados nacionais para dar lugar mais às empresas transnacionais, multinacionais e mesmo regionais. Defende que, especialmente numa época de transição, como a atual, é indispensável preservar a margem de autonomia do (Estado) que “nos permita utilizar o peso internacional do Brasil”. “A economia mundial é um sistema de poder engendrado historicamente, portanto, em transformação. Esse poder pode ser virtual : o caso do Brasil é típico pela diferença que existe entre o poder que permanece virtual e aquele que se realiza plenamente”. E acrescenta com uma latente insatisfação, realidade dos nossos dias: “Em nenhum momento da nossa história foi tão grande a distância entre o que somos e o que esperávamos ser”.
O grande e denodado jornalista pernambucano, verdadeiro e legítimo patrimônio da nossa imprensa, arrematava o seu trabalho, mesmo com a pena carregada de preocupação, porém sempre reservando-se um pouco mais de otimismo que Mestre Furtado, do seguinte modo: “Não posso discordar do Mestre da Sorbonne. E, afinal, são as mesmas colocações e idéias que venho defendendo há tantas décadas em quase todos os meus trabalhos. O que poso é ter uma dose um pouco maior de esperança no futuro do País.
E creditar ao senhor tempo o dom de esclarecer melhor a grande parte da opinião pública brasileira que ainda insiste apenas na louvação de um liberalismo pérfido, como até o próprio diretor-gerente do FMI reconheceu. Chego a acreditar que o amanhecer não precisará ser tão longo e que logo cairá por terra esse castelo de cartas armado pelas nações poderosas. E aí, poderemos ter governantes e dirigentes mais brasileiros, mais voltados para o social, para o lado humano da economia política. Mas, por enquanto, é preocupante não se saber até que ponto os brasileiros estão conscientes de que o Brasil está sendo vendido a retalho, com sua conivência e passividade”.
Lendo as palavras do saudoso e aguerrido jornalista, começo a pensar nas atrocidades que são praticadas no mundo inteiro em nome da democracia, da liberdade, de nomes de fachada que são meros pretexto para fazer valer a FORÇA DO DINHEIRO, OS INTERESSES DE PEQUENOS E PODEROSOS GRUPOS, DOS INSENSÍVEIS DONOS DO MUNDO.
Penso que nós, os intelectuais, os que escrevemos e refletimos sobre as mazelas do mundo, sonhando com uma amanhecer mais breve, talvez sejamos ingênuos em demasia, para esperar pelos dias melhores, para imaginar que a humanidade está caminhando, como queria Comte, do egoísmo para o altruísmo.
Mas, alertei-me para uma falha que as pessoas costumam cometer quando se propõem a escrever a respeito de um determinado assunto: eximir-se de qualquer culpa, puxar a brasa para a sua sardinha, como se costuma dizer popularmente. Então, mea culpa, no processo de esmagamento do direito do cidadão, infelizmente, como faceta do Estado, como função inerente ao Estado moderno, O Judiciário ocupa um triste papel, sendo certo que, muitas e muitas vezes, por lerdeza, omissão, fraqueza e, até mesmo, incompetência de parte ponderável da magistratura, o direito do cidadão é conspurcado.
Paulo Bonavides, com a envergadura da sua posição de mestre de mestres, fazendo uma análise crítica da magistratura, escreveu o seguinte: “Sistematicamente evasiva, por preconceito, desatualização, despreparo, lentidão e conservadorismo no que toca à aplicação dos cânones principais da Constituição, uma parte considerável da magistratura se há mostrado refratária à renovação metodológica no tratamento hermenêutico da Lei Suprema.
Escorada em posições clássicas, puramente formais e técnicas, não se abriu ela, qual convinha, ao mundo circunjacente. De sorte que alguns de seus juízes raciocinam com as categorias de um Direito Constitucional que é do século XIX e não da idade contemporânea, aplicando à solução interpretativa dos problemas constitucionais os métodos da escola de Savigny.
Não percebem que há um novo Direito e uma Nova Hermenêutica. Ou esquecem que o Direito Constitucional da liberdade na esfera das complexidades contemporâneas é um direito de quatro gerações, e sua concretização entre nós há-de criar uma sociedade mais justa e um poder mais humano, fiel aos fundamentos exarados no art. 1o da Constituição.
Por não enfrentar porém a magnitude política, jurídica e social imanente á pluralidade dimensional dos direitos fundamentais, a magistratura prefere sempre em matéria constitucional os métodos interpretativos clássicos, que aí são de rara ou nenhuma serventia toda vez que o Direito cruza seu caminho com a Política na guarda da Constituição e do regime.
Esta ausência, esta distância, até mesmo esta fuga é que faz em nossos dias a verdadeira crise do Poder Judiciário. Longe de ser pois no fundo e na substância apenas crise de meios materiais ou humanos indeclináveis ao bom exercício da prestação jurisdicional, é destacadamente uma crise de visão jurídica”.

Enquanto agrupamento humano, a magistratura tem as suas mazelas, os seus erros, os seus percalços, participando do processo de esmagamento do direito do cidadão de modo tão efetivo que chega a envergonhar aqueles que possuem sensibilidade aguçada e voltada, de certo modo, para o social.
A propósito, Francisco Gérson Marques de Lima, oportunamente, elencou, num apanhado minudente, num estudo meticuloso e denso, o desapontamento causado pelos julgados do Supremo Tribunal Federal, quase sempre que é chamado a decidir pelo social, pelo direito do cidadão. Pinçamos, a propósito, algumas passagens do valioso trabalho daquele operador do Direito: Neste contexto, no que interessa ao presente estudo, insere-se o STF, quando da aplicação da norma. O órgão passa por uma crise institucional, pois em várias das oportunidades em que o povo mais precisou dele, para o asseguramento dos seus direitos castrados sobretudo pelas políticas econômicas (os pacotes, hoje quase diários ), o STF foi-lhe contrário ou socialmente impassível, alheio à dor popular, indiferente (extra-processualmente) ao brado do povo. Faltou-lhe a sensibilidade social bastante e necessária para tutelar o interesse popular, o qual, até por razões democráticas, deveria prevalecer sobre o de grupos minoritários



Mas, de qualquer sorte, é no torpedeamento do ordenamento jurídico existente, em nome da globalização, que nós vamos encontrar os instrumentos mais eficazes para manter o Statu quo .
O violento avanço de 11% no dinheiro dos aposentados, que o governo supostamente vinculadio aos trablhadores culminou por impingir à Nação, atropelando direito adquirido e outras cláusulas pétreas da Constituição, (no primeiro mundo os aposentados não pagam, evidentemente, porque passaram a sua vida útil de trabalho recolhendo para a Previdência,. configura-se um esbulho!
Interessante é que, nos países do primeiro mundo, o cidadão recolhe contribuições enquanto trabalha , o que é lógico, porque receberá de volta em forma de proventos, deixando de fazê-lo, obviamente, quando da sua jubilação, até porque nada lhe será dado em contrapartida.
Para bem exemplificar a disparidade que existe entre o trabalhador do primeiro mundo e os outros, trago o exemplo do que o New York Times surpreendeu em Saipan, capital das ilhas Marianas do Norte, no Sul do Pacífico, numa reportagem publicada no dia 20 de fevereiro de 1999, sob título : Stretching Federal Labor Law Far Into Pacific South. Lá, a indústria de confecções passou por um verdadeiro boom com a produção inteiramente baseada no trabalho de imigrantes chineses que, se comparados aos salários pagos na China, ganham quatro vezes mais, enquanto que nem chegam perto do menor salário pago ao operário americano. Além do mais, nos contratos que os imigrantes chineses assinam, não podem falar com estranhos, as mulheres não podem engravidar, não podem fazer greve.
Ademais, para poderem trabalhar em Saipan, os chineses são obrigados a pagar taxas de recrutamento que vão de 1,000 a 3,000 dólares, enquanto que as mulheres pagam taxas que vâo de 7,000 e 10,000 e terminam se prostituindo nos bares que pululam na ilha.
Então, alguns advogados ingressaram com uma ação contra os fabricantes de confecções e afirma que, embora com muito medo, alguns homens e poucas mulheres já se comprometeram a testemunhar, desde que os seus nomes sejam mantidos em sigilo, com medo de represálias.
O Jus Postulandi conferido às partes no processo judiciário do trabalho, que não se justifica nos dias que correm, quando é absolutamente imprescindível buscar-se os serviços de um profissional, manter o trabalhador numa verdadeira orfandade processual, “entregando o ouro” e, pior que isso, ao final, dividindo os parcos vinténs que recebe com um advogado.
Ora, amarrar o entendimento de que a assistência judiciária deve ser prestada pelos sindicatos, quando a Constituição da República veda a intervenção do Estado nas entidades sindicais (art. 8, I) e atribui ao Estado a obrigação de prestar assistência judiciária gratuita aos necessitados(art. 5, LXXIV) é postura realmente anacrônica e incompatível com a Lex Legum.
Estranho o silêncio da OAB nesse tocante, deixando fluir para o nada uma excelente oportunidade de trabalho para os profissionais do Direito e escorregar pelo ralo a posição de altíssimo destaque inserida no art. 133 da nossa Carta Magna.
A questão dos honorários, a meu sentir, representa, prevalecendo a interpretação que medra hodiernamente nos pretórios trabalhistas, é mais uma lança certeira no direito dos assalariados, já pela derrocada que provoca nas verbas que lhes são deferidas, já pela inibição natural às reclamações trabalhistas*
A questão da imunidade fiscal, interpretada em prejuízo do empregado, conforme abordado num outro trabalho, na qual o empregado isento, quando ingressa com uma reclamação visando o recebimento de atrasados, termina sofrendo uma patada do Leão( é de rara felicidade o animal escolhido para identificar o Imposto de Renda em nosso país, reconhecidamente, um felino de hábitos caçadores implacáveis, que abate e devora até mesmo as presas mais indefesas). Não quero aqui reproduzir a ojeriza histórica que o cidadão comum tem para com o fisco, mas, abocanhar o pão dos assalariados é postura inaceitável, mas que o Poder Judiciário, lamentavelmente, olha e deixa passar impunemente, para saciar o apetite arrecadador e insaciável do governo.
Temos, ainda, na esfera do judiciário, o uso indiscriminado do Mandado de Segurança contra decisões judiciais, isto é, o manejo inadequado, pelo Estado, de arma jurídica por ele criada para livrar o cidadão da prepotência e da arbitrariedade, acolhida, na imensa maioria das vezes, pelo próprio Poder Judiciário. Tal comportamento, também, mereceu um trabalho, quiçá de suma importancia. É situação emblemática do comportamento obstinado do Estado moderno: destruir o direito do particular.
Hugo Machado, sempre inovador e ousado, com a inteligência fulgurante que Deus lhe deu, deixou cair de sua pena, em trabalho sobre o tema, observações oportunas e sábias: “Titular de Poder, o Estado cria a própria norma jurídica, instrumento pelo qual se impõe aos governados. Não tem a mais mínima necessidade de proteção contra seus súditos. E no caso, arrebata destes aquela garantia constitucional, e passa a utilizá-la para enfraquecer as demais garantias que a ordem jurídica edificou para protegê-los, num processo realmente avassalador.
Na crença de que o Direito é o melhor, senão o único instrumento capaz de manter as manifestações do poder dentro de limites compatíveis com a liberdade humana, penso que a doutrina jurídica, descomprometida com os poderosos, tem relevante papel a desempenhar. Por isto é que ouso oferecer esta modesta contribuição que, se não faz doutrina, pode ter pelo menos o mérito de chamar para o tema a atenção dos juristas dotados de maior capacidade para construí-la”
Um outro prisma da atuação da magistratura voltada contra o cidadão, o jurisdicionado, está na complicação, no verdadeiro nó que alguns juízes aplicam contra o indivíduo que busca recorrer, fazendo tábula rasa do livre acesso ao judiciário que o nosso constituinte tanto apregoa.(art. 5, LXXIV), impondo a obrigatoriedade da autenticação de peças para quem, na dura realidade, não tem onde cair morto
A matéria é um retrato fiel de como o Poder Estatal, aí contando com o “colaboração” e a subserviência do Judiciário, solapa o direito do cidadão, arrebatando dele, até mesmo, os títulos que adquire através de decisões judiciais.
Enquanto isto, para manter o Poder Judiciário cativo dos seus desejos, o Executivo mantém os vencimentos dos magistrados sob rígido controle, exaurindo lentamente o seu poder .
Não é de hoje a preocupação com vencimentos dignos para os magistrados, Os Artigos Federalistas, considerados um monumento da Ciência Política, Alexander Hamilton, número LXXIX, assim discorreu sobre o tema: “ Depois da vitaliciedade no cargo, nada pode contribuir mais para a independência dos juízes que uma estipulação definitiva de seus proventos. A observação feita com relação ao presidente aplica-se igualmente aqui. No curso geral da natureza humana, o poder sobre o sustento de um homem equivale ao poder sobre sua vontade ...”
Mantendo o sustento dos magistrados em regime de vacas magras , o Poder Executivo tem garantido o controle sobre a vontade de grande parte da magistratura, resultado de uma sucumbência inevitável que, como diria o símio sábio do “Planeta dos Macacos”, faz parte da natureza humana.
Aqui nas terras tornadas civilizadas por conta do Senhor Cabral, para conter o ritmo inflacionário e manter as contas do Governo num limite decente, os vencimentos dos servidores públicos estão congelados há vários anos, sem perspectiva de melhoria a curto prazo. Nem por isso o déficit público, a dívida interna, a dívida externa deixam de crescer, num ritmo alucinante que mais parece uma rumba louca.


Penso no Estado dos nossos dias e, na realidade, consigo enxergar bem mais a empresa tentacular, a que não tem pátria – por tal razão deixo de chamá-la de multinacional, do que propriamente nos hipotéticos três poderes de que nos falava Montesquieu e os outros teóricos.
É que nestes tempos de globalização, flexibilização, deslegisferação, privatização e neoliberalismo, mais que nunca, é o agrupamento das grandes empresas, o capitalismo concentrado e seus representantes que ditam os interesses e o ritmo do mundo.
Para todos os lados, inesperadamente, ao sabor de vontades e interesses, economias desandam, moedas despencam e os senhores do mundo acumulam mais uma vitória...até quando? Quosque tandem ?
Os mesmos interesses inconfessáveis ditam a moda, o comportamento da juventude, a sua alienação, as regras do sistema...Tudo é planejado com antecedência, nos botões de um vídeo tape muito bem engendrado, programado por computadores de última geração.
E as coisas vão se passando debaixo do nossos olhos, as vezes, até batemos palmas, nós, os supostamente esclarecidos. Imaginem ou outros.
Barbosa Lima Sobrinho, no seu artigo “Um filme já visto”, jornal O POVO, edição de 23 de outubro de 1999, adverte: “Achar que o mercado deve ser fraco e que o mercado, com a sua “mão invisível” resolverá tudo, no mínimo é como acreditar nos duendes das histórias infantis”.
Nós temos apenas uma visão pessoal de como o atual estágio da vida em nosso país, em nosso universo atingível se desdobrará nesta curva de milênio. Nós não sabemos, exatamente, o que sairá do bojo de mais esta faceta do capitalismo, que mágicas ainda serão extraídas da cartola de seus teóricos, de lendária habilidade.
O que sabemos é que, a despeito dos relatórios das organizações mundiais especializadas, a fome campeia no terceiro mundo(não se sabe onde fica o segundo), cobaia de todas as terríveis experiências do mundo civilizado.
O sonho brasileiro de ser grande está sendo retalhado, vendido, como disse o jornalista Carlos Chagas em artigo recente, a preço de banana podre na feira, porque os senhores donos do mundo querem o Brasil como algum tipo de tubo de ensaio, uma naçãozinha qualquer para suas experiências de mercado.
Celso Furtado, no seu “O Longo Amanhecer”, assim escreveu: “A primeira fase de implantação do capitalismo industrial foi marcada pela crescente ascensão das forças sociais que lutavam pelos ideais do bem-estar social.”
Mais adiante, reconhece: “
As preocupações não são singulares, não são exclusividade nossas. Gérson Marques, no strabalho já citado alhures, analisando a conjuntura à luz da atuação do STF, escreveu o seguinte:
“No entanto, o rumo que vão as coisas tomando nos tem causado bastante preocupação. E o futuro, corolário natural e óbvio do presente, mostra suas presas mais assustadoras. Não bastassem os turvos dias hodiernos, piores (muito piores) ameaçam a vir, já mostrando sua face de final de século: desemprego, violência, miséria, concentração de renda, desajuste familiar, doenças, opressão, decadência moral, corrupção, impunidade, inversão de valores... Se estes problemas são típicos de mudança de século, imagine-se em virada de milênio. E a mudança, com certeza, virá.; de uma forma ou de outra, virá. É como se a sociedade global não conseguisse sobreviver sob o manto de um mesmo sistema por mais de um século. Neste contexto, no que interessa ao presente estudo, insere-se o STF, quando da aplicação da norma. O órgão passa por uma crise institucional, pois em várias das oportunidades em que o povo mais precisou dele, para o asseguramento dos seus direitos castrados sobretudo pelas políticas econômicas (os pacotes, hoje quase diários ), o STF foi-lhe contrário ou socialmente impassível, alheio à dor popular, indiferente (extra-processualmente) ao brado do povo. Faltou-lhe a sensibilidade social bastante e necessária para tutelar o interesse popular, o qual, até por razões democráticas, deveria prevalecer sobre o de grupos minoritários.
Sobreleva anotarmos, nesta oportunidade, a progressiva falta de autoridade dos órgãos do Judiciário, cujas decisões – hoje ineficazes – são constantemente desrespeitadas, principalmente pelo poder público, o qual encaminha-se para uma “imunização judiciária”.
Tudo resulta de fábulas que nos são contadas e nas quais nós acreditamos, fingimos acreditar ou, ainda, por comodismo, deixamos que aconteçam as suas conseqüências.
Ora, quem vai acreditar, nos chamados regimes democráticos, que a vontade da maioria prevalece? Só se, por maioria, nós vamos deixar implícito(maioria dos que possuem muito dinheiro). O povão, a velha massa, continua – e continuará por tempo que nós sequer temos como mensurar – a ser tratada como massa de modelar, amassada nas mãos dos poderosos que, qual crianças estragadas pelo vício da ambição e do lucro desenfreado, tudo fazem para deixá-la amorfa, inodora, incolor e insípida.
Pura ilusão: as massas de que nos falava Ortega Y Gasset jamais se rebelarão e, se por acaso o fizerem, não saberão deter o poder em suas mãos por muito tempo.; o poder está destinado a pertencer aos grupos economicamente fortes, talvez, isto decorra do fenômeno da gravidade, seja uma questão de peso.
Bem, esta parte fica a cargo dos sociólogos e nós já temos sociólogos em demasia na área do poder. O objetivo deste livro é bem outro, qual seja, o de demonstrar que o Estado moderno, pelo menos no que posso descortinar, o moderno estado brasileiro, faz do homem-cidadão uma espécie de joguete, um brinquedo e, qual uma criança mimada, faz dele o que bem entende, violenta seus direitos, ignora-o como pessoa e não respeita a sua condição de ser humano, desdenhando de tudo que lhe é caro e sagrado.
As reflexões que nos acodem, na verdade, devem ser oriundas da nossa formação, talvez um pouco ingênua, da geração da década de 40, criada sobre os temores da guerra e dos seus desdobramentos, dos pesadelos intermitentes dos ataques aéreos, porque a nossa cidade, mesmo distante do teatro das operações de guerra, passou pelos blackouts e aquilo que fica impregnado na alma infantil jamais se extirpa de nosso íntimo. É que, na vida real, ao longo da história, tem sido sempre assim: o domínio dos mais ricos e poderosos(que são infinitamente menos) sobre os mais pobres e fracos(que são numerosíssimos).
Mas, pelo menos quanto às conquistas dos assalariados, que agora são objeto de ataques dos neoliberais, a despeito da chamada globalização da economia, toma conta de nossos pensamentos um dilema terrível: resistir, ante uma paisagem universal de mudanças e uma competição desenfreada e desumana na qual as nações buscam espaço para colocar os seus produtos ou, em face mesmo de tais conjunturas, sucumbir, abrindo mão de tudo quanto foi obtido em mais de meio século de lutas e negociações.
Mas, apesar de tudo isto e talvez por causa de tudo isto, creio no Direito e na Justiça como derradeiros e únicos artefatos capazes de levar o homem, na mensuração restrita de sua humana condição, aos caminhos legítimos que conduzem à realização e à projeção multidimensional.
Fecho os olhos e revejo na memória a figura dos grandes nomes que, na seara do Direito ocupam com destaque o panteão da pátria: Clóvis Beviláqua, Rui Barbosa, Rio Branco, Pontes de Miranda, Teixeira de Freitas, para só citar alguns poucos daqueles que empunharam em nossas plagas a bandeira do Direito e, certeza eu tenho de que as suas palavras e as suas idéias não foram lançadas em terreno sáfaro, porque as novas gerações colheram os seus exemplos, debruçaram-se sobre os seus livros, questionaram as suas idéias, estão de posse do inesgotável manancial que deles brotou.
O rio da história passa defronte a nós, suas águas carregam dissolvidas e mescladas, as idéias que os grandes homens semearam na planície das consciências e vão em busca do oceano das coletividades. Não há caminho de volta, uma vez lançadas as sementes, o rota é um só: o desaguadouro. Se existir falsidade ou vício nas nossas reflexões, já nada podemos fazer, o mal está feito, nós e muitos outros pagaremos por isso.; se, por outro lado, forem sãs as idéias, recheadas de boas intenções, de algum modo, em algum lugar, elas frutificarão, nem que seja uma safra efêmera, mas sempre ocorrerão frutos e os benefícios serão auferidos muito mais pelos outros do que por nós mesmos.
Assim, portanto, em palavras alinhavadas e desataviadas, brotados dos impulsos bem mais que da razão, nasceu este trabalho sem pretensões maiores do que a divulgação do que eu penso sobre as ocorrências dos meus dias.
Se algum proveito for colhido pelo leitor mais benigno, terei amealhado as moedas que tanto cobiço.



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