Para escrever,
é preciso papel
Para eu escrever
são precisas lágrimas
dores escondidas,
mudos gritos,
medos avassaladores
Para escrever...
Voltei à escrita
os medos consomem-me,
os gritos morrem-me,
as dores engolem-me,
Na poesia
não se encontram soluções,
não há varinhas mágicas,
nem poções.
E, no entanto,
não há palavra que não me recorde quem sou
na ânsia de cada linha
não há indecisões ou demoras.
E é tão difícil quanto é fácil:
esquecer-me de mim
esconder-me e encontrar-me
em letras estendidas a corar,
em versos molhados para cicatrizar,
E, enquanto branqueio o meu devaneio:
recordo: "estás triste, é porque a tua alma está viva"!
sinal de absurdo,
de um coração moribundo
da canção murmurada
de olhos fechados
de colibri cansado
de voar
E, enquanto,
as formigas seguem nos seus carreiros
eu continuo meio perdida
nos meios...
à espera que as nuvens passem,
me ultrapassem,
que não me macem.
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